Daniel Alves poderá ser solto com fiança de um milhão de euros

Além da fiança, a justiça espanhola impôs medidas cautelares, como a retirada dos passaportes, a obrigação de se apresentar semanalmente ao tribunal e a proibição de se aproximar da vítima

20 mar 2024 - 12h15
(atualizado às 12h24)
Daniel Alves durante o julgamento em Barcelona em fevereiro
Daniel Alves durante o julgamento em Barcelona em fevereiro
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O ex-jogador da seleção brasileira Daniel Alves, condenado a quatro anos e meio de prisão pelo estupro de uma jovem de 23 anos em uma discoteca de Barcelona, pode ser libertado nesta quarta-feira (20/3), se pagar uma fiança de um milhão de euros (cerca de R$ 5,5 milhões).

Esta foi a decisão da Audiência Provincial de Barcelona, que concedeu ao jogador liberdade provisória até que sejam analisados todos os recursos apresentados — e seja anunciada uma sentença definitiva. Para sair da prisão, Alves terá que depositar a quantia na conta do tribunal — e esperar a emissão de outro auto determinando sua libertação.

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Apesar de ter aceitado a petição apresentada pela defesa do jogador, o tribunal impôs uma série de medidas cautelares. Desta forma, além da fiança de um milhão de euros, o jogador tem a obrigação de se apresentar ao tribunal uma vez por semana, e está proibido de deixar o território espanhol.

Para garantir que o jogador cumpra estas duas medidas, a Audiência ordenou ainda a retirada de seus dois passaportes — o espanhol e o brasileiro. O auto estipula também que Alves não pode se aproximar a menos de um quilômetro da vítima nem se comunicar com ela.

No auto, os juízes consideram que o risco de fuga do jogador " diminuiu", ainda que "persista", justificando desta forma as medidas de coação impostas. A decisão chega apenas um dia depois de que a defesa de Daniel Alves tivesse pedido a liberdade provisória. Algumas destas medidas tinham sido propostas pela própria advogada do ex-jogador, que argumentou que Alves já tinha cumprido quarta parte da pena e garantiu que não sairá do país. O próprio jogador interveio para declarar, em videoconferência a partir da prisão, que não ia fugir.

Daniel Alves está preso de forma preventiva há 14 meses. A lei espanhola estabelece que a prisão preventiva não pode superar metade da pena imposta: 27 meses, neste caso, de um total de 54 a que foi condenado o ex-jogador. Isto significa que, se não houvesse sentença definitiva, Alves teria que deixar a prisão, obrigatoriamente, daqui a 13 meses.

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Em Espanha, a prisão preventiva pode ser adotada como medida de coação sempre e quando existam um de três supostos: risco de repetição do delito, risco de destruição de provas ou risco de fuga. Os juízes ampararam-se sempre neste último suposto para manter Daniel Alves na prisão. A capacidade econômica do jogador e a possibilidade de viajar para o Brasil, que não tem acordo de extradição, foram os argumentos apresentados para manter a decisão.

Agora, os juízes, por decisão de dois votos contra um (um dos magistrados apresentou um voto particular contra a libertação de Alves) consideraram que o risco de fuga "diminuiu" e que pode ser "neutralizado com outras medidas".

A decisão não convenceu um dos magistrados que, no seu voto particular, defendeu que "a retirada do passaporte também não teria eficácia. Infelizmente, a prática forense mostra-nos frequentemente quão facilmente qualquer pessoa pode escapar aos controles fronteiriços e colocar-se numa situação de paradeiro desconhecido. Ainda mais se tiver capacidade econômica e círculo de amigos com elevado potencial econômico para facilitar essa fuga, como é o caso de Daniel Alves."

No entanto, o auto salienta que "o Sr. Alves da Silva manifestou a sua firme intenção de permanecer sempre à disposição do tribunal, como tem feito desde o início do procedimento. A este respeito, devemos lembrar que ele veio voluntariamente ao nosso país quando soube que estava sendo acusado dos atos pelos quais foi finalmente condenado".

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Declarações contraditórias

Alves foi detido em 20 de janeiro de 2023, depois de ter declarado perante a juíza em um discurso cheio de contradições. Acusado de estuprar uma jovem de 23 anos em uma discoteca de Barcelona em 30 de dezembro de 2022, o jogador deu cinco versões diferentes — desde que não conhecia a jovem em questão, até que as relações sexuais tinham existido mas de forma consentida.

Já a vítima manteve sempre a mesma versão, de forma consistente, durante todo o processo.

A sentença, de 22 de fevereiro deste ano, não acatou a teoria da defesa, de que a relação tinha sido consentida, baseada em supostas atitudes prévias da vítima.

"Nem o fato de a queixosa ter dançado de forma sugestiva, nem de ter aproximado as nádegas do arguido, ou mesmo de ter abraçar o arguido, podem levar-nos a supor que ela deu seu consentimento para tudo o que poderia acontecer posteriormente", diz a sentença.

"Para a existência de agressão sexual não é necessário que ocorram lesões físicas, nem que haja provas de uma oposição heroica da vítima às relações sexuais", afirma a sentença, destacando que houve "lesões na vítima que tornam mais do que evidente a existência de violência para forçar sua vontade".

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Os juízes acabaram por condenar Daniel Alves a quatro anos e meio de prisão, sentença que tinha sido recorrida tanto por parte da defesa, como por parte da acusação, que pedia uma pena de 12 anos, a pena máxima, e do Ministério Público que pede 9 anos de prisão.

Mediante o pagamento da fiança, Daniel Alves poderá esperar em liberdade a resolução destes recursos.

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