Daniel Alves: termina 3º dia de julgamento de jogador acusado de estupro

O atleta foi ouvido nesta quarta-feira, 7; a decisão sobre a sentença ainda não tem prazo para ser divulgada

7 fev 2024 - 11h27
(atualizado às 19h00)
Julgamento de Daniel Alves
Julgamento de Daniel Alves
Foto: Getty Images

O julgamento de Daniel Alves, acusado de estuprar uma jovem de 23 anos em uma boate em Barcelona, na Espanha, chegou ao terceiro e último dia nesta quarta-feira, 7. Além da defesa do jogador e da denunciante, o atleta prestou depoimento.

A sessão começou às 11h25 (horário de Brasília), e seguiu até o início da noite.  Além da declaração do jogador brasileiro, foram apresentadas provas periciais do caso. Por fim, os advogados de defesa e acusação apresentaram suas respectivas conclusões. 

Publicidade

A advogada de Daniel Alves, Inés Guardiola, pediu a absolvição do jogador. Ela afirmou que o lateral estava "intoxicado por álcool" no momento dos acontecimentos e disse que a versão da denunciante seria incoerente com a alegação de que houve estupro.

Na Espanha, estar sob os efeitos de álcool pode ser considerado uma circunstância atenuante, portanto a pena, caso seja condenado, seria menor.

Joana afirmou na terça-feira, 6: “Ele foi comer com seus amigos no restaurante. Passou o dia aí e voltou era quase 4h da manhã. Voltou muito bêbado, uma pessoa com muito álcool. Bateu no armário e caiu na cama”. Ela ainda declarou que estava acordada quando Daniel chegou em casa, mas eles não conversavam muito “por causa do estado em que ele se encontrava”.

Já a advogada da vítima, Ester Gárcia, pediu 12 anos de prisão para o jogador, considerada a pena máxima. O Ministério Público pediu uma pena menor, de nove anos de prisão.

Publicidade

Ester considerou que a jovem trouxe um relato consistente desde o início da denúncia até o julgamento. "Era claro o estado de choque." A advogada também apontou que Daniel Alves não aparentava estar embrigado nas imagens das câmeras de segurança da boate.

Agora, a Justiça espanhola deverá decidir se o jogador é culpado ou não. Não há um prazo para a definição da sentença, mas a imprensa espanhola afirma que ela deve sair dentro de um mês. Depois desta decisão, ainda há espaço para que as partes entrem com recurso no Tribunal de Apelação, em segunda instância.

Depoimento de Daniel Alves

Ao dar sua versão sobre o ocorrido, Daniel Alves chorou, falou sobre contratos perdidos e disse não ter forçado a mulher a ter relações sexuais com ele.

Alves disse que esperava pela jovem no banheiro da boate, e achava que ela já não iria mais até o local. Mas quando se aproximou da porta disse ter a encontrado. O jogador afirmou que os dois começaram a se beijar e, em seguida, a mulher fez sexo oral nele, que estava sentado no vaso sanitário.

Publicidade

Segundo ele, o sexo oral foi praticamente toda a relação. "Depois ela sentou na frente das minhas pernas, quando fui ejacular, o fiz fora de sua parte íntima. Em nenhum momento ela me disse que não queria nada. Eu não dei um tapa nela nem a joguei no chão. Não sou um homem violento. Ela não me disse que não queria fazer sexo."

Pouco depois, Daniel Alves começou a chorar em seu depoimento. O jogador afirmou que a versão que estava dando era igual à segunda apresentada por ele durante as investigações. Alves disse que recebeu a informação de que estava sendo denunciado por parte da imprensa e que começou a perder contratos logo em seguida. 

“Fiquei praticamente arruinado porque todos os meus contratos de publicidade tinham sido bloqueados…”, Alves voltou a chorar e depois explicou que tinha duas contas em Espanha, uma dívida com o Tesouro de meio milhão de euros e no Brasil suas contas estão embargadas.

Médicos e peritos

A sessão iniciou com médicos que atenderam à denúncia sendo ouvidos. Um deles afirmou que quando a jovem chegou ao hospital, “estava com um sentimento de medo”, e uma “certa tensão”. Segundo o profissional, ela chorava enquanto contava o caso. 

Publicidade

"Ela nos explicou o que tinha acontecido. Em relação aos beijos, lembro que ela disse que havia beijos no pescoço, que queria ir embora, mas não podia", destaca. Durante a entrevista, a jovem não teria dito quem era o agressor, apenas que “falava português”. 

Os profissionais ainda explicaram que a origem da lesão em um dos joelhos da jovem não é clara. "Nas quedas é normal que ocorram hematomas na altura dos dois joelhos. Estamos lidando com uma lesão lateral. Estamos falando de uma lesão na parte externa do joelho. Ninguém pode dizer que o mecanismo de produção foi este (a queda durante o estupro)". 

No entanto, eles destacam que o ferimento pode ter sido provocado pela fricção do joelho "em uma superfície áspera". 

Sem lesões íntimas

Os peritos também afirmam que há falta de lesões vaginais na jovem, o que é comum em caso de estupro, mas que "não significa que não tenha ocorrido". “Neste caso não encontramos ferimentos, mas não podemos afirmar que não houve agressão. Se há ou não lesão, não podemos dizer se é consensual ou não. Não podemos fazer essa comparação”, insistem. 

Julgamento de Daniel Alves
Foto: Getty Images

Eles também disseram que não houve  "nenhum indicador, nem nenhuma suspeita" de que "poderia estar exagerando ou simulando". Na avaliação, o doutor Mateu insistiu que a versão da suposta vítima condiz com os resultados dos exames: “Indica-se uma série de sintomas que vão ao encontro daquilo que ela se referiu no momento da entrevista".

Publicidade

Umas das psicólogas forenses destacou alguns dos critérios para determinar o estresse pós-traumático que coincidem com a situação da denunciante: “Quando ela ouviu alguém falando português, ficou muito nervosa”. Segundo ela, a jovem estava sofrendo com hipervigilância e falta de sono, mais uma característica de estresse pós-traumático. Além disso, segundo a profissional a jovem se sentia culpada pelo ocorrido, "um dos indicadores da situação de vítima". 

Outra pontua que se a paciente não está tomando medicação, não significa que não tenha a condição de estresse, ou que não precise deles. "É alguém que tem a sensação de que está perdendo 'o controle de sua vida e de suas emoções'. Ela teve um rompimento, choque e impacto, e muitos aspectos da vida daquela pessoa estão desfigurados”.

Defesa de Daniel

Um dos peritos, contratado pela defesa de Daniel Alves, diz que a vítima conta a versão que a "relação foi dolorosa", mas que não há nenhuma lesão que comprove isso. “A ausência até mesmo de inchaço (na região íntima) me faz pensar que a relação sexual não foi tão traumática”, declarou. 

Blanca Navarro, psiquiatra da defesa de Alves, insistiu também que os testes psicológicos da vítima são voltadas para “questões absolutamente superficiais”. "Poderia ter sido mais profundo e as conclusões apresentam algumas lacunas."

Publicidade

Às 13h14 (horário de Brasília), o Tribunal fez uma pausa no julgamento.

Análise de vídeos

O julgamento recomeçou às 13h40 (horário de Brasília) no Tribunal de Barcelona e as partes começam a analisar as evidências documentais, incluindo os vídeos coletados durante a investigação.

A análise dos vídeos ocorre à porta fechada, ou seja, a imprensa não consegue ver as imagens exibidas, mas é possível ouvir o áudio. Alves trocou de cadeira para ver melhor as imagens. Todos que estão na sala mantêm silêncio absoluto enquanto assistem aos vídeos.

Prevê-se que essa análise de vídeos demorará cerca de duas horas, o que pode resultar no adiamento do depoimento de Daniel Alves para esta quinta-feira, 8.

Durante a exibissão dos vídeos, segundo o ge, é possível escutar na gravação o choro de uma mulher, e nesse momento, o jagador brasileiro abaixa a cabeça. Ele não consegue olhar para os vídeo de depoimento. Depois, ele observa atento a filmagem. 

Publicidade

Primeiro dia 

No primeiro dia, foram ouvidas a denunciante, a prima dela e uma amiga, que estavam na Sutton, onde o crime teria acontecido. A jovem foi ouvida por 1h15, através de um biombo, para que não tivesse contato com o jogador. Sua voz foi alterada para dificultar sua identificação.

  • Ela relatou que Daniel "levou várias vezes a mão dela até seu pênis, que ela retirou assustada", enquanto dançavam, e que depois, ele pediu à ela para segui-lo até uma porta.
  • Nesse momento, ela se deu conta de que era um banheiro, na área VIP, e tentou sair, mas foi impedida. O brasileiro a teria penetrado com violência, e “ejaculou dentro dela”. Após o abuso, ele teria deixado o banheiro primeiro. A tese é reforçada pelos exames, nos quais foram encontrados o DNA do lateral. 
  • A amiga da jovem, Ana Matallana, contou que o jogador se aproximou da denunciante, “com a mesma atitude pegajosa” com que ele teria se aproximado dela. 
  • A jovem lembrou que a vítima saiu do local dizendo: “Ele me machucou muito, ele me machucou muito". 
  • A prima da denunciante contou que a jovem disse que o jogador a "machucou muito" e "ejaculou dentro dela”. 
  • Funcionário da boate confirmaram que a jovem estava "mal" e "muito nervosa". 

Segundo dia

O segundo dia de julgamento, começou com o depoimento de responsáveis e funcionários da Sutton, passando por amigos do atleta, autoridades que atenderam a denúncia, e por fim, a esposa do brasileiro. 

  • O diretor da Sutton, Robert Massanet, afirmou que a vítima estava “bastante afetada” e que foi difícil convencê-la de iniciar o protocolo de agressão sexual. “Ela me disse que não iam acreditar nela. E que ela tinha entrado voluntariamente (no banheiro), que depois queria sair e não foi impedida”. 
  • Ele também contou que em dado momento, enquanto conversava com a jovem, Daniel Alves passou pelo corredor em direção à saída, e a vítima apontou que havia sido ele o autor da agressão sexual.

  • O gerente da casa relatou que o jogador não “estava com sempre, ou tinha bebido, ou teria tomado alguma coisa, mas não estava agindo normalmente”. 

  • Já um assistente do local relatou à corte que a jovem explicou que “sabia o que ia fazer” quando entrou no banheiro com o lateral, “mas depois se arrependeu”.
  • Amigos de Daniel reforçaram que ele havia bebido muito no dia.
  • Bruno Brasil, que estava com o atleta, afirmou que viu o atacante ir até o banheiro, e logo em seguida, a vítima, mas que ele não explicou o que aconteceu no banheiro.
  • Bruno também disse que ao sair da boate, não viu a denunciante chorando, pois estava muito escuro. 
  • Um dos agentes que atendeu ao caso declatou que, após conversar com a vítima, a jovem estava abalada e chorava. "Ela não quis dar muitos detalhes, começou a chorar. Ela nos disse que não queria fazer denúncia, que não queria que seu nome fosse divulgado. Tivemos que acalmá-la e dizer que ela não era culpada do ocorrido", disse a testemunha.

  • O segundo policial que atendeu a vítima relatou que a jovem chegou a declarar que "não queria dinheiro, queria Justiça".

  • A esposa de Daniel Alves, Joana Sanz, disse em depoimento ao tribunal que, no dia dos fatos, o jogador chegou muito bêbado em casa, e que não conversaram muito, “por causa do estado em que ele se encontrava”.

Jogador de futebol Daniel Alves comparece ao tribunal na Corte de Barcelona nesta segunda-feira, 5. Alves é acusado de agressão sexual contra uma mulher no banheiro de uma boate no dia 30 de dezembro de 2022.
Foto: EUROPA PRESS/D.Zorrakino. POOL via Getty Images

Entenda o caso

No dia 30 de dezembro de 2022, segundo os relatos publicados pela imprensa espanhola, a vítima foi convidada por Daniel Alves para entrar em uma área VIP de uma boate em Barcelona. No espaço reservado, a mulher conheceu o lateral brasileiro e os dois dançaram juntos. De acordo com os jornais, a denunciante relatou que o jogador "levou várias vezes a mão dela até seu órgão íntimo, que ela retirou assustada". Depois disso, os dois teriam entrado em um banheiro, onde o crime teria ocorrido.

A mulher teria tentado deixar o banheiro, mas foi impedida pelo agressor. De acordo com o relato, o jogador deixou o banheiro antes da vítima após ter penetrado de maneira violenta até ejacular. A mulher teria saído depois e contado o que aconteceu a uma amiga.

Publicidade
Julgamento de Daniel Alves
Foto: Getty Images

Após o ocorrido, a vítima teria ido imediatamente a um hospital para fazer exames. Dois dias depois, os resultados constataram DNA de Daniel Alves nos testes feitos pela jovem.

A Justiça espanhola ordenou a prisão do atleta depois de ouvir depoimentos contraditórios do brasileiro. Ao longo da investigação, o ex-Barcelona apresentou diferentes versões sobre o caso. Na última delas, admitiu que teve relações sexuais com a acusadora, mas afirmou que isso aconteceu de forma consensual.

Julgamento de Daniel Alves
Foto: Getty Images

Inicialmente, Daniel Alves foi preso no Centro Penitenciário Brians I, mas foi transferido para o Brians II três dias depois da detenção. A cadeia fica localizada no município Sant Esteve Sesrovires, a 40 km de Barcelona. O lateral trocou de representantes durante a investigação - o advogado que defendia o brasileiro alegou que o caso "estava perdido". A juíza do caso entende que o processo tem provas suficientes para a condenação do jogador.

Fonte: Redação Terra
TAGS
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se