Defesa de delegado acusado de matar esposa e enteada diz querer 'desconstruir narrativa de feminicídio'

Erik Busetti será julgado, a partir das 9h30 desta segunda-feira (8), no Tribunal do Júri de Curitiba

8 abr 2024 - 08h42
(atualizado às 09h20)

A poucas horas de começar o julgamento do delegado Erik Busetti, acusado de assassinar a tiros a esposa e a enteada, a defesa do réu afirmou à Banda B que pretende "desconstruir a narrativa de que ele cometeu um feminicídio" - crime baseado em ódio contra o gênero.

Erik Busetti será julgado, a partir das 9h30 desta segunda-feira (8), no Tribunal do Júri de Curitiba. O Ministério Público do Paraná (MPPR) o denunciou pelo duplo feminicídio de Maritza Guimarães de Souza, de 41 anos, e de Ana Carolina de Souza, de 16. Para a Promotoria, o crime foi cometido com motivo torpe, pois ele não aceitava o fim de relacionamento.

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O delegado Erik Busetti, acusado de duplo feminicídio, na cena do crime –
O delegado Erik Busetti, acusado de duplo feminicídio, na cena do crime –
Foto: Reprodução/Câmera de segurança / Banda B

À reportagem, o advogado de defesa do delegado, Claudio Dalledone Jr., afirmou que o início do julgamento deve ser marcado pela análise de possíveis irregularidades. "Todo grande julgamento precisa passar por uma peneira muito grande para saber se nenhuma nulidade, forma que possa comprometer esse julgamento, não seja observada", disse.

Ao menos 20 depoimentos devem ser colhidos durante a sessão, segundo o advogado. O objetivo, diz ele, é mostrar para o conselho de sentença que o delegado Erik Busetti não assassinou a esposa e a entenda devido às condições de gênero.

A escrivã da Polícia Civil Maritza Guimarães de Souza e a filha Ana Carolina de Souza –
Foto: Reprodução / Banda B

"O que aconteceu foi uma tragédia! Mas ele jamais apertou aquele gatilho porque ela era mulher ou por estar sendo rejeitado. O grande embate é provar que ela acabou falecendo por ser mulher. A interpretação da acusação com aquelas imagens é uma. A interpretação da defesa com as imagens e tudo que consta nos autos vai fazer com que Erik tenha, na medida da sua culpabilidade, uma adequação no apenamento", afirmou Dalledone antes de sustentar que a "defesa não vai tapar o sol com a peneira".

Por outro lado, a assistência de acusação afirma que o crime de feminicídio é comprovado pelas imagens de câmeras de segurança registradas dentro da casa, além de mensagens e gravações de discussões. "A Ana gravou no celular dela algumas discussões que aconteceram dentro da casa. Inclusive, gravou no dia anterior que tinha muito medo de que ela ou a mãe fossem mortas pelo acusado", disse a advogada Louise Mattar Assad.

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A Banda B procurou a assistência de acusação para comentar o julgamento e aguarda retorno.

O crime

O delegado Erik Busetti é acusado de matar a tiros a esposa e a enteada no dia 4 de março de 2020, na casa em que viviam, no bairro Atuba, em Curitiba (PR). Uma câmera de segurança instalada no interior do imóvel registrou os assassinatos. À época, ele foi preso em flagrante.

Maritza Guimarães de Souza era escrivã da Polícia Civil, e Erik Busetti atuava na Delegacia do Adolescente. O crime ocorreu enquanto a filha do casal, de 9 anos, estava dormindo em um dos quartos da casa.

O delegado teria agredido a enteada com chutes e tapas e a assassinado no momento em que ela abraçou a mãe. A esposa teria sido atingida por pelo menos sete tiros, enquanto a adolescente, seis.

Acesso a sistema dentro da prisão

Erik também é acusado de acessar, de forma indevida, o sistema interno da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) de dentro da prisão. A primeira denúncia sobre o acesso ilegal ao sistema foi feita pelo Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado (Sinclapol) em novembro de 2021.

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Embora esteja preso, o delegado ainda possui vínculo ativo com o Governo do Paraná, segundo o Portal da Transparência. A última remuneração recebida por ele foi de R$ 26.762,70, em março de 2024.

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