Preso há quatro anos, um mês e quatro dias sob a acusação de ter assassinado a tiros a esposa e a enteada, o delegado Erik Wermelinger Busetti recebeu pelo menos R$ 1.136.483,27 em salários brutos desde que foi detido em flagrante pelo crime. O levantamento foi feito pela Banda B com base no Portal da Transparência do Governo do Paraná.
O valor total da remuneração recebida pelo réu por duplo feminicídio desconsidera 13.º salário e pagamentos por férias. Caso sejam levados em conta, somente esses valores somam R$ 93.944,41. Segundo o Portal da Transparência, Erik Busetti possui vínculo ativo com o Estado do Paraná desde abril de 2004.
O delegado recebeu uma remuneração bruta de R$ 53.525,40 em dezembro de 2023. Naquele mês, o valor líquido depositado em sua conta foi de R$ 35.247,28, uma vez que houve descontos que totalizam pouco mais de R$ 18 mil por causa do Imposto de Renda e da Previdência.
Procurada pela Banda B, a Polícia Civil do Paraná informou que o delegado segue recebendo salário porque a Constituição Federal define que ele só deixe de ser remunerado em caso de demissão. De acordo com a corporação, o servidor é alvo de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), procedimento que pode levá-lo à demissão, mas foi suspenso por decisão da Justiça.
"O servidor continua recebendo seus proventos pois a Constituição proíbe corte até que o mesmo seja demitido. A PCPR tem um Processo Administrativo Disciplinar em andamento, que leva à demissão, porém este foi travado por decisão judicial até que seja concluído o processo criminal", disse, em nota.
A Banda B procurou a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e aguarda retorno.
O julgamento
Erik Busetti será julgado, nesta segunda-feira (8), no Tribunal do Júri de Curitiba. O Ministério Público do Paraná (MPPR) o denunciou pelo duplo feminicídio de Maritza Guimarães de Souza, de 41 anos, e de Ana Carolina de Souza, de 16. Para a Promotoria, o crime foi cometido com motivo torpe, pois ele não aceitava o fim de relacionamento.
À reportagem, o advogado de defesa do delegado, Claudio Dalledone Jr., afirmou que pretende "desconstruir a narrativa de que ele cometeu um feminicídio" - crime baseado em ódio contra o gênero.
O crime
O delegado Erik Busetti é acusado de matar a tiros a esposa e a enteada no dia 4 de março de 2020, na casa em que viviam, no bairro Atuba, em Curitiba (PR). Uma câmera de segurança instalada no interior do imóvel registrou os assassinatos. À época, ele foi preso em flagrante.
Maritza Guimarães de Souza era escrivã da Polícia Civil, e Erik Busetti atuava na Delegacia do Adolescente. O crime ocorreu enquanto a filha do casal, de 9 anos, estava dormindo em um dos quartos da casa.
O delegado teria agredido a enteada com chutes e tapas e a assassinado no momento em que ela abraçou a mãe. A esposa teria sido atingida por pelo menos sete tiros, enquanto a adolescente, seis.