O deputado e ex-ministro do Esporte da Itália Vincenzo Spadafora assumiu sua homossexualidade durante entrevista no horário nobre da TV pública do país, que ainda não reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo nem permite adoção por casais homoafetivos.
A revelação foi feita durante o popular programa Che Tempo Che Fa, do canal Rai Tre, e antecipa o novo livro de Spadafora, Senza riserve, in politica e nella vita ('Sem reservas, na política e na vida').
"Acho que a vida privada das pessoas deve permanecer como tal, mas também acredito que quem tem uma função pública, uma função política, tem responsabilidades a mais", declarou o deputado do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S).
"E fiz isso também por mim mesmo, porque aprendi, talvez muito tarde, que é importante se querer bem e se respeitar", acrescentou. Católico praticante, Spadafora tem 47 anos e foi ministro do Esporte entre setembro de 2019 e fevereiro de 2021, no segundo governo de Giuseppe Conte.
Antes disso, exerceu durante um ano e três meses o cargo de subsecretário da Presidência do Conselho dos Ministros (o equivalente italiano à Casa Civil) na primeira gestão de Conte, quando o M5S governava em aliança com a Liga, de ultradireita.
"Na política, a homossexualidade é usada também para ferir, para atacar um adversário, algo que agora eu quero evitar. Espero ser considerado por aquilo que eu faço, por aquilo que sou, e a partir de amanhã talvez serei mais feliz porque me sinto mais livre", declarou.
A revelação do ex-ministro chega poucos dias depois de o Senado ter interrompido a tramitação de um projeto de lei já aprovado pela Câmara e que criminaliza a homofobia e a transfobia na Itália.
A proposta enfrenta resistência de partidos conservadores e de ultradireita e já foi alvo de críticas públicas do Vaticano, que aponta supostas ameaças à liberdade religiosa.
Spadafora é um dos poucos políticos abertamente homossexuais na Itália, que já reconheceu a união civil entre pessoas do mesmo sexo, mas não o casamento.
A diferença entre os dois é que o primeiro, ao contrário do segundo, não prevê a chamada "obrigação de fidelidade" nem a adoção. Dessa forma, casais homoafetivos não podem ter filhos, embora vários deles passem por tratamentos de reprodução assistida no exterior e depois tentem obter o registro da paternidade ou maternidade na Justiça.