O deputado estadual Fernando Cury (União Brasil) foi notificado por mensagem de WhatsApp sobre a ação em que é réu por importunação sexual contra a também deputada estadual Isa Penna (PCdoB), após a Justiça de São Paulo tentar encontrá-lo - sem sucesso - durante cinco meses. A informação é do jornal Folha de São Paulo.
A ação é referente ao assédio cometido durante uma sessão plenária em 2020, em que Cury colocou a mão nos seios de Penna. Um vídeo com imagens da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) flagraram a ação do político. Ele foi afastado do cargo por seis meses e expulso do partido que fazia parte naquele ano, o Cidadania.
Segundo apurado pela Folha, oficiais de Justiça procuraram pelo deputado desde o início de julho em diferentes locais que ele frequentava, e continuaram tentando localizá-lo durante todo o período em que ele realizava campanha eleitoral. A tentativa de notificá-lo presencialmente se encerrou em 21 de dezembro.
Na manhã do dia 24 de setembro, por exemplo, um oficial foi aguardá-lo em frente a uma padaria, em Botucatu (SP), onde seria realizada uma carreata. A defesa de Isa informou ao Poder Judiciário a hora e o local da agenda de campanha, mas o evento foi cancelado.
O oficial foi ainda ao escritório e comitê de Cury, mas nenhum funcionário indiciou onde ele estaria. Ele tentou contato com o deputado também por ligação e WhatsApp, mas não teve resposta.
De acordo com o jornal, a denúncia contra o político foi aceita pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo em dezembro de 2021, mas o processo avançou pouco depois disso. O Ministério Público chegou a afirmar que Cury estava evitando receber a notificação, e isso travou o andamento da ação.
"O réu, desde o início da investigação, vem adotando postura que aparenta intenção procrastinatória", escreveu o procurador Mario Antonio de Campos Tebet no dia 1º de novembro.
O relator da ação, desembargador Fábio Gouvêa, também apontou "fortes indícios de que o denunciando está se ocultando para evitar a citação, principalmente considerando a ciência inequívoca do denunciado sobre a existência do processo e o fato de que se trata de pessoa pública, ocupando cargo de deputado estadual".
Em novembro, o desembargador determinou que a notificação fosse entregue a qualquer pessoa no endereço ou gabinete do deputado. Uma oficial de Justiça foi ao gabinete em dezembro e não o encontrou, mas ele marcou de encontrá-la no dia 21 para o cumprimento da ordem. Porém, no dia agendado, ele afirmou não iria mais em São Paulo e perguntou se a citação poderia ocorrer pelo WhatsApp, o que aconteceu.
"Eu entrei em depressão, o que não significa que eu esteja fraca para enfrentar o processo. Vou até o fim", afirmou a deputada em entrevista à Folha de São Paulo. "Estou muito prejudicada mesmo com essa situação. É uma humilhação. Mais uma, além da não cassação dele. A realidade da misoginia nos espaços de poder é estrutural."
Com a defesa prévia apresentada pelo deputado no último dia 9, a ação avançará para a oitiva de testemunhas. O advogado Ézeo Fusco Júnior, que representa Cury, nega que o deputado tenha tentado adiar o processo e justificou ao jornal que ele "estava em campanha, na correria, e realmente não foi achado. Ele nem se atentou para isso". Ele também afirma que não houve apalpação na deputada por parte do cliente.