'Desmasculinizar a igreja': as mulheres convidadas pelo Papa Francisco para reunião de cardeais

Três mulheres foram convidadas pela Santa Sé para uma reunião com o propósito de refletir sobre 'a dimensão feminina da Igreja'.

13 fev 2024 - 19h10
(atualizado em 14/2/2024 às 09h14)
As três teólogas que participaram do Conselho de Cardeais (esq. para dir.): Jo Bailey Wells, Irmã Linda Pocher e Giuliva Di Berardino
As três teólogas que participaram do Conselho de Cardeais (esq. para dir.): Jo Bailey Wells, Irmã Linda Pocher e Giuliva Di Berardino
Foto: EPA / BBC News Brasil

O Papa Francisco convocou três mulheres para participarem na reunião do Conselho de Cardeais, o maior centro de poder do Vaticano.

O propósito é a reflexão sobre "a dimensão feminina da Igreja" e o avanço no objetivo declarado pelo pontífice de "desmasculinizar" a instituição.

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"A igreja é mulher", disse Francisco após uma reunião anterior do Sínodo da Sinodalidade, em 30 de novembro.

"Um dos grandes pecados que cometemos foi masculinizar a Igreja", reconheceu.

Nas duas últimas sessões do Conselho de Cardeais, mulheres teólogas já haviam sido convidadas a participar para oferecer a sua perspectiva sobre o papel da mulher na Igreja, um dos temas mais quentes e controversos no debate atual na Igreja Católica.

Embora naquela primeira fase as mulheres tivessem participado com voz e voto pela primeira vez, esta reunião do Conselho de Cardeais é histórica porque inclui a participação de uma bispa anglicana casada.

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Este é um gesto que tem sido visto por alguns comentaristas como um aceno para aqueles que, dentro do catolicismo, apoiam a ordenação de mulheres.

Ao mesmo tempo, há quem aponte que, com esta inclusão, Francisco está reconhecendo de alguma forma a autoridade episcopal de uma mulher ordenada, cuja denominação cristã também permite o casamento entre seus ministros, duas questões que atualmente não são possíveis no catolicismo.

Quais são as proibições da Igreja Católica às mulheres? Quais são as proibições da Igreja Católica às mulheres?

O que é o Conselho de Cardeais?

O Papa Francisco criou o Conselho dos Cardeais em 2013, pouco depois de ser eleito Sumo Pontífice.

O grupo de altos prelados aconselha o papa em questões de governo e reformas eclesiásticas.

A partir de 2018, o órgão consultivo era composto por nove cardeais, razão pela qual alguns o chamam de C9. O número pode variar de acordo com a consideração do pontífice e houve uma ocasião em que só teve seis membros após a destituição de três cardeais.

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O principal objetivo do conselho é assessorar Francisco no governo da igreja.

Cada membro é livre para fazer sugestões, mas os comentários são indicativos e a decisão final cabe ao pontífice.

Uma das medidas que tomaram foi a criação de uma comissão especial para a proteção de menores vítimas de abusos sexuais cometidos por padres pedófilos.

Além de um secretário, fazem parte do atual grupo os cardeais espanhóis Fernando Vérgez Alzaga, presidente da Pontifícia Comissão para o Estado do Vaticano, Juan José Omella, presidente da Conferência Episcopal, além do brasileiro Sérgio Rocha, arcebispo de Salvador, Bahia.

Embora as três mulheres convocadas para esta sessão não sejam oficialmente membros do Conselho de Cardeais, dado o atual tema de discussão, espera-se que a presença delas continue em reuniões futuras, o que representa um progresso na conquista de uma posição na mesa de tomada de decisões.

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Quem são as três mulheres participantes?

  • Jo Bailey Wells. É uma bispa anglicana, vice-secretária geral da Comunhão Anglicana, que agrega 42 igrejas. Fez parte da primeira geração de mulheres a ser ordenada vigária. Ela é casada com outro pastor daquela igreja protestante, com quem tem dois filhos. Também serviu como capelã do arcebispo de Canterbury e participou na reunião inter-religiosa no Cazaquistão com o papa em 2022. Wells é mais conhecida por declarar que "a igualdade de gênero faz parte do plano de Deus".
  • Sor Linda Pocher. É religiosa salesiana, professora de Cristologia na Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação "Auxilium", de Roma. Irmã Linda promove o chamado princípio mariano, postulado pelo teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, que tem Maria como modelo para igreja e com prioridade sobre o princípio petrino (ênfase na estrutura hierárquica). Em uma entrevista em dezembro, ela disse que "a verdade é que as mulheres sempre estiveram ativas na Igreja. No entanto, em quase todos os contextos, continuam a ser encontradas mais ou menos formas de machismo e clericalismo".
  • Giuliva Di Berardino. É uma virgem consagrada da diocese de Verona e professora de Espiritualidade. Ela é especialista em dança bíblica, expressando louvor e adoração a Deus através da dança. Escreveu extensivamente e realizou vários workshops sobre teologia do corpo e da dança. Publicou recentemente o livro A Misericórdia da Dança no qual descreve a espiritualidade da dança de louvor a partir de bases bíblicas.

O que o Papa Francisco busca?

Francisco defende que mais mulheres ocupem cargos de liderança eclesiástica
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Depois de completar uma profunda reestruturação da Cúria Romana em 2022, o Papa Francisco concentrou sua atenção na questão das mulheres como parte de sua agenda de reformas.

Durante as duas últimas sessões do Conselho de Cardeais, convidou mulheres teólogas para conhecer as perspectivas delas sobre o papel feminino na igreja católica.

O papa tem frequentemente destacado a dimensão feminina na Igreja, apelando a que mais mulheres ocupem cargos de liderança eclesiástica.

Num discurso ao Comitê Teológico Internacional em 30 de novembro de 2023, Francisco disse que as mulheres deveriam fazer parte do comitê e que havia uma necessidade de "desmasculinizar" a Igreja.

No prólogo de um livro sobre o mesmo tema escrito em coautoria pela Irmã Linda Pocher, Lucia Vantini e pelo padre Luca Castiglioni, Francisco escreveu que devemos ouvir "verdadeiramente as mulheres. Nós, homens, ouvimos quem vê a realidade de outra perspectiva e assim somos levados a rever nossos projetos, nossas prioridades".

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