A funcionária pública Priscila Resende denunciou uma sequência de desrespeitos que sua família passou em um dos momentos mais delicados da vida, a perda de um ente querido. O pai de Priscila morreu no início de maio e ela relatou que a agência funerária escolhida pela família, chamada Campo Grande, uma das mais populares da Zona Sul de São Paulo, demonstrou falta de profissionalismo e racismo.
A família teve dificuldades até mesmo para conseguir informações básicas sobre o sepultamento. "A funcionária só ofereceu o pacote básico, com muita má vontade, e não quis explicar nada sobre", conta Priscila, em entrevista à Alma Preta.
Priscila e o cunhado Mário Augusto disseram que uma funcionária insistiu em oferecer o pacote de sepultamento subsidiado pelo governo de São Paulo, mesmo depois de eles explicarem que tinham condições de arcar com o valor de outros pacotes.
De acordo com Mário, ele afirmou que pagaria à vista e a funcionária parcelou o serviço no cartão de crédito sem sua autorização. "Ela fez o parcelamento, eu notifiquei que seria a vista. Ela estornou a operação e passou no crédito novamente", conta.
Os familiares também tiveram problemas na liberação do corpo do pai de Priscila, devido à demora para um funcionário da funerária chegar ao hospital. Mário recorda que o despreparo da agência para lidar com a transição de serviços foi confessado pelo próprio empregado da agência.
"Só tinha uma funcionária que parecia conhecer o sistema, mas desde o começo fomos destratados por ela", relatou.
A agência funerária Campo Grande pertence ao grupo Maya, uma das quatro empresas da iniciativa privada que desde março passou a ser responsável por cemitérios da capital paulista. Os serviços privatizados são fiscalizados pelo órgão SP Regula, responsável pela transição dos serviços para os grupos privados.
A reportagem procurou o órgão e a agência funerária em busca de um posicionamento acerca da denúncia relatada à reportagem e para saber quais são os protocolos de atendimento. Até a publicação deste texto, não houve resposta.
E o direito à morte?
Vítimas da concessão
Além da família de Priscila, outras pessoas já denunciaram irregularidades nos serviços funerários da cidade de São Paulo, principalmente desde que as agências têm sido entregues à iniciativa privada.
Entre as queixas, destacam-se a demora na retirada dos corpos e preços abusivos. A alta nos preços e a omissão de informações sobre o sepultamento gratuito relatadas pelas famílias afetam diretamente as famílias mais pobres.
A falta de respeito com os parentes enlutados nos atendimento também é constantemente relatada nas denúncias. No caso do pai de Priscila, a agência Campo Grande também tentou cobrar por um processo de preparo do corpo, no qual não havia necessidade.
A mesma prática de um cemitério da Zona Norte foi denunciada pela professora Marcela Schuskel, em entrevista a rádio CBN. Possíveis irregularidades na atuação das agências funerárias são investigadas pelo Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP).