As jovens que rasgaram e escreveram ofensas racistas no caderno da filha de Samara Felippo não foram expulsas do colégio, como desejavam a atriz e a própria garota que denunciou o crime. A escola Vera Cruz optou por uma suspensão por tempo indeterminado.
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Em entrevista ao jornal O Globo, a diretora da tradicional instituição escolar da Zona Oeste de São Paulo defendeu a decisão. "Eu não acho que a gente errou. A gente foi fiel àquilo que significa a essência do projeto (da escola), que é acreditar nas possibilidades de educação para as relações inter-raciais. Quando a gente tomou essa decisão, foi em função do contexto: o fato de elas (as autoras das ofensas) terem se apresentado imediatamente, a forma como as famílias se comportaram, reagiram...", argumentou Regina Scarpa.
"Hoje, quando eu vejo quem está ao nosso lado nessa trincheira, respiro aliviada porque são pessoas que a gente confia muito. Apesar de termos escolhido um caminho que sabíamos que seria difícil", completou.
A educadora afirmou que a expulsão seria a "decisão mais fácil", mas que a escola não estaria cumprindo o seu papel: "Basta expulsar? Cada caso de racismo expulsa e pronto, e a gente prova que a relação interracial é impossível? Então cada caso é um caso, e o que a gente tem visto é que não se trata de um posicionamento da escola, trata-se de processos educativos singulares que requerem princípios e valores para orientar as decisões e acompanhar processos. As conversas com os envolvidos, como a gente cuida da vítima, da pessoa que foi agredida, da sua família, porque é muita dor."
Boletim de Ocorrência
Samara foi chamada para prestar depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central, para complementar o Boletim de Ocorrência na Delegacia Eletrônica que ela havia registrado.
De acordo com a atriz, sua filha mais velha teve o caderno furtado, folhas foram arrancadas e, em seguida, ele foi devolvido ao setor de "achados e perdidos" da escola com uma ofensa de cunho racial. Fotos do caderno foram entregues à polícia como prova. O caso ocorreu na segunda-feira, 22.
No depoimento à polícia, Samara afirmou que essa não foi a primeira vez que a filha de 14 anos foi alvo de discriminação racial no colégio. De acordo com ela, um dos episódios foi a acusação de furto de um carregador de aparelho celular.
"É reincidente, recorrente. Desde o ano passado, de um episódio que um carregador some e a acusada é minha filha. Isso tudo são pequenas camadas do racismo que crianças pretas passam todos os dias veladamente", afirmou a atriz na terça-feira, 30.
De acordo com a advogada de Samara, Thaís Cremasco, o colégio tem três dias para apresentar à polícia as providências tomadas sobre o caso. "A atitude que esperamos da escola é impedir a presença de alunos racistas no colégio".
A estudante quer continuar estudando no colégio, de acordo com a mãe. Um dos motivos é o acolhimento dos colegas. "Ela está bem, quer ficar na escola e está se sentindo acolhida pelos amigos. Eles estão do lado dela", declarou a atriz.
A família de Samara ainda não decidiu se vai processar a escola e as famílias na esfera cível, diz a advogada. "Existe a possibilidade de uma ação indenizatória, caso a família entenda que isso seja necessário. A Samara está bastante consternada e sofrendo muito com a situação. Ela ainda não tem condições de decidir", afirma.
Pais das duas meninas vão tirá-las do colégio
Já os pais das duas meninas acusadas de racismo anunciaram que vão tirar as meninas do Vera Cruz. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a decisão levou em conta a proteção das três alunas envolvidas, vítima e agressoras. Em carta às famílias da turma do 9º ano em que estudavam, os pais de uma delas disseram que a filha de Samara foi vítima de "uma violência injustificável".
Sobre a filha deles, afirmaram que "diferentemente do que alguns disseram nos grupos de WhastApp, ela não é reincidente e nunca teve denúncias prévias de mau comportamento".
"É uma adolescente em formação como cidadã - como os filhos de todos vocês. Que comete erros e acertos, como todos nós já cometemos em nossas vidas", continuou a carta. Os pais disseram ainda que entendem que "o ato de violência praticado por nossa filha foi uma exceção, e não a regra, em sua conduta ética nessa transição complexa que é a adolescência."
Eles afirmaram que "o episódio deixa claro que ainda há um longo e árduo caminho pela frente para enfrentarmos o racismo estrutural, dentro e fora de nossas casas."
Advogada é mãe de vítima de racismo no Porto Seguro
A defensora Thaís Cremasco também já viveu situação semelhante de discriminação racial envolvendo seu filho em 2022. Ela é mãe de um estudante vítima de ataques racistas em um grupo de WhatsApp no Colégio Visconde de Porto Seguro, de Valinhos, interior de São Paulo. O colégio desligou os oito alunos acusados de racismo, xenofobia e apologia ao nazismo.
Insatisfeito com o resultado das eleições presidenciais, um grupo de alunos criou um grupo no WhatsApp chamado "Fundação Anti Petismo". Com cerca de 30 adolescentes, o grupo teve compartilhamento de mensagens de ódio contra petistas, negros, nordestinos e mulheres, além de apologias ao nazismo, principalmente com o envio de "stickers" de Adolf Hitler.
Ao se indignar com o conteúdo, um dos alunos adicionados no grupo, um garoto negro de 15 anos, se manifestou chamando os integrantes de "neonazistas do Porto" e dizendo que denunciaria o grupo. *Com informações do Estadão Conteúdo