Desde 1966, celebra-se no dia 21 de março o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A data é um símbolo de luta contra crimes de racismo em todo mundo. E, apesar dos mais de 50 anos de oficialização universal, no Brasil, a data só passou a ser lembrada após o processo de redemocratização, com a criação da Constituição de 1988, que tornou o crime de racismo como um ato inafiançável e imprescritível.
Ainda assim, é difícil que atos explícitos de racismo sejam denunciados como tal. Muitos desses crimes são tipificados juridicamente como injúria racial, considerado um "crime menor" com tempo de prescrição de oito meses e período de reclusão reduzido.
E mesmo sendo chocante se deparar com esses casos, há muitos outros atos de discriminação que acontecem de forma velada: são as chamadas microviolências. Para quem não está familiarizado com o termo, Vivian Rio Stella que é doutora em linguística, explica que:
"A microviolência são expressões repetidas diversas vezes e naturalizadas, se tornando algo rotineiro e que, na superfície, não parece reforçar preconceitos e não machuca ninguém, mas que na realidade pode causar muitas dores a quem escuta, especialmente no que diz respeito a mulheres, pessoas negras/pretas e com deficiência, entre vários outros grupos minoritários", esclarece a especialista.
Ou seja, as microviolências podem acontecer como um ato de discriminação racial disfarçado de opinião. Não é incomum que, para mulheres negras, muitos comentários ofensivos cheguem disfarçados de elogios, como: "até que você é uma morena/mulata bonita" ou outros discursos ofensivos que não vale a pena reproduzir. Por isso, é sempre importante lembrar que não é opinião se a sua fala machuca outra pessoa, combinado?
Além disso, vale lembrar que a discriminação racial também atinge a outros grupos racializados. Um grande exemplo disso foi com a chegada da Covid-19 no Brasil em que pessoas amarelas chegaram a ser agredidas por associação ao coronavírus. Mas, mesmo sendo direcionada a outros grupos minoritários, a discriminação racial afeta mais as pessoas negras - isso dentro e fora do contexto de microviolências - por conta do histórico de racismo e segregação do Brasil.
Como não reproduzir microviolências e a discriminação racial?
Em primeiro lugar, vale sempre pensar melhor na hora de articular as palavras. Exercícios simples como se colocar no lugar do outro, priorizando a gentileza e o respeito são sempre bem-vindos. Também é importante aprender melhor sobre o que a discriminação racial, o que é ofensivo (no ponto de vista do outro) e o que você pode fazer, enquanto sociedade, para tornar um mundo melhor para pessoas racializadas.
O Kwai - aplicativo de vídeos curtos -, por exemplo, está promovendo do 18 até o dia 24 de março o #NãoÉOpinião. Essa é uma hashtag criada na redes social para conversar abertamente sobre o assunto. Para isso, criadores de conteúdo, artistas, atletas, instituições governamentais e muitas outras pessoas se reuniram para falar sobre comentários e expressões ofensivas, o apagamento do racismo no Brasil e muitos outros assuntos pertinentes a respeito da discriminação racial.
Então, se você ainda tem dúvidas sobre o que é a discriminação racial, vale a pena explorar sobre o assunto e aprender com pessoas que são referências como a filósofa Djamila Ribeiro, a antropóloga Lélia Gonzalez e a escritora Maya Angelou. Acompanhar influenciadores que trabalham com pautas identitárias nas redes sociais também vale super a pena, afinal essas pessoas atingem várias camadas da sociedade e vem sendo um instrumento para que a discriminação não seja perpetuada pelas próximas gerações.