A Copa do Mundo foi realizada pela primeira vez em 1930, no Uruguai. Participante das 21 edições, a Seleção Brasileira é a maior campeã do torneio, com cinco títulos de melhor equipe de futebol masculina do mundo (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002). No Catar, o time volta aos estádios como uma das favoritas ao título deste ano, amedrontando os países adversários.
Não à toa. O Brasil sempre contou com diversos talentos - historicamente negros, em sua maioria -, que chegaram a ser reconhecidos mundialmente por dominarem a arte do jogo com a bola. Djalma Santos foi um deles. Famoso por ser um dos maiores laterais-direitos da história do futebol, segundo avaliação da própria FIFA realizada nos anos de 1997 e 2000, o ex-atleta imprimiu sua marca na Seleção, chegando a acumular bicampeonato da Copa do Mundo em 1958 e 1962.
Além dos dois anos na competição, ele chegou a participar também nos anos de 1954 e 1966. Chegou a disputar 100 partidas pela Seleção. Fora Pelé, Djalma Santos é o único a integrar um jogo como titular em quatro Copas do Mundo consecutivas.
O famoso "Lord", como carinhosamente era chamado naquela época, faleceu aos 86 anos em Uberaba, interior de Minas Gerais, em julho de 2013, em decorrência de uma pneumonia grave. Contudo, quase dez anos depois, seu legado ainda perdura na história do universo esportivo e pode ser sentido ainda nos dias atuais, durante a Copa do Mundo de 2022. Isso porque seu ponto forte como futebolista era a defesa.
Se hoje Alisson, goleiro titular da Seleção Brasileira, não precisou fazer quase nenhuma defesa durante os dois jogos que teve até o momento na Copa do Mundo do Catar - contra a Sérvia (2 a 0 para o Brasil) e Suíça (1 a 0 para o Brasil) - graças à defesa montada pelos zagueiros negros titulares nas partidas, muito se deve aos ensinamentos que Djalma Santos construiu nos tempos em que atuava.
Além da Federação Internacional de Futebol - a FIFA -, o 'Lord' Djalma Santos também foi o maior lateral-direito de todos os tempos para muitos veículos de comunicação, especialistas e jornalistas esportivos de todo o planeta. A saber: em 1981, a revista Placar - considerada a maior revista brasileira de futebol - o colocou, em 1999, na 51ª posição entre os 100 craques do século passado, além de ser o 66ª melhor jogador da história das Copas do Mundo.
A revista Venerdì, em 1997; a Tarde Newspaper, em 2004, e, mais recentemente, em 2013, a revista ilustrada "Brasil de todas as Copas" da Panini também não deixaram passar despercebido o talento de Djalma Santos no campo. Além dos Mundiais, o craque teve passagens marcantes também no futebol nacional.
Ídolo nacional
O que poucos sabem é que, para se tornar destaque em sua posição, Djalma Santos iniciou sua carreira como zagueiro e, posteriormente, como volante durante sua estreia na profissão no Portuguesa, clube onde atuou entre os anos de 1948 e 1959. Lá, alcançou a marca de 510 jogos, fazendo 33 gols e levando também o título de segundo maior recordista de jogos disputados pelo time, atrás apenas de Capitão, apelido do ex-volante Oleúde José Ribeiro.
O Athletico Paranaense também chegou a ser sua segunda casa a partir de 1968. Foi nesse time que ele encerrou a jornada como futebolista em 1972, aos 41 anos de idade, quando resolveu partir para o desafio de treinador. Mas, antes disso, Djalma Santos viveu o auge da sua carreira no Palmeiras, em 1959, quando somou forças à época áurea do futebol brasileiro.
No Palmeiras, o atleta conquistou o maior número de títulos da sua carreira: Campeonato Paulista de 1959, 1963 e 1966; Campeonato Brasileiro de 1960, 1967 (Robertão) e 1967 (Taça Brasil). Ele venceu ainda o Torneio Rio-São Paulo em 1965. Dentre as jogadas mais famosas está a forte cobrança de arremesso lateral ao sempre jogar a bola dentro da área adversária.
Coragem
Djalma Santos também é lembrado por sempre jogar limpo em campo. Mesmo tendo participado de inúmeras partidas, ele nunca foi expulso do gramado. Mas, nunca lhe faltou coragem ao se deparar com situações desafiadoras. A exemplo da sua primeira convocação para a Seleção Brasileira, em 1952. Dois anos depois, na Copa do Mundo, ele se viu em um duelo contra a Hungria em um jogo popularmente chamado de a "Batalha de Berna" pela pancadaria entre os jogadores de ambos os times.
O Brasil perdeu por 4 a 2, mas Djalma Santos foi um dos responsáveis por diminuir essa diferença ao fazer um gol de pênalti. "Todo mundo ficou com medo de bater. Saíram e mandaram eu cobrar. Dei sorte de fazer o gol. Mas, se eu perco aquele pênalti, até hoje seria julgado", relembrou o ex-atleta durante uma de suas últimas entrevistas dadas ao GE sem saber ao certo se o fato estava ligado ao racismo, já que era negro.
Este, inclusive, é um tema que o jornalista Fábio Mendes faz questão de tornar assunto principal do seu livro "Campeões da Raça - Os Heróis Negros da Copa de 1958". A obra evidencia a discriminação racial no futebol brasileiro, principalmente na década de 1950, além de trazer à tona que, naquele Mundial da Suécia, os jogadores negros convocados quase ficaram fora do time titular por causa do preconceito.
"Se o negro tem o espaço e o respeito que tem hoje no futebol brasileiro, foi por causa dessa Copa, da conquista de 1958", disse o autor do livro ao veículo, ressaltando que jogadores negros com Djalma Santos, Pelé e Garrincha foram essenciais para a conquista do título.
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