Já passaram mais de 96 horas desde o último contato com o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos no Vale do Javari, Amazonas. As forças de segurança afirmaram nesta quarta-feira, 8, que não existem "indícios fortes de crime", mas alegam que nenhuma linha investigativa está descartada. Até o momento, não há informação sobre o paradeiro da dupla.
Desaparecimento
A última notícia que se tem de Bruno Pereira e Dom Phillips são os dados de localização fornecidos via Dispositivo de Comunicação Satelital SPOT, conforme relato da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que mantinha contato com a dupla. O jornalista e o indigenista partiram no domingo, 5, da comunidade São Rafael para Atalaia do Norte, mas a chegada no município, prevista para acontecer até as 9h, não ocorreu.
Primeiras buscas
Após horas sem contato, uma equipe da Univaja formada por indígenas conhecedores da região partiu em busca dos dois, passando pelo mesmo trecho que ambos haviam percorrido, porém, nenhuma pista foi encontrada. Na segunda-feira, 6, a União dos Povos Indígenas fez um comunicado à imprensa relatando o desaparecimento dos dois homens.
Denúncia de omissão
A Univaja solicitou pedidos para que instituições de segurança municipais, estaduais e federais ampliassem as operações de busca. Conforme afirma a entidade, em nota, apenas seis policiais e uma equipe da Funai iniciaram as buscas na segunda-feira, 6.
Ao perceber a gravidade da situação em que o jornalista e o indigenista se encontravam, a Univaja, junto com a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF), ajuizaram uma Ação Civil Pública contra a União para que a Polícia Federal, Forças de Segurança ou das Forças Armadas (Comando Militar da Amazônia) disponibilizassem pessoal e equipamentos para reforçar a busca pelos desaparecidos.
Nota do Exército
Ainda na segunda-feira, 6, o Comando Militar da Amazônia (CMA) afirmou que ainda não havia iniciado as buscas por não ter recebido ordem do Escalão Superior, conforme divulgou o jornalista e colunista do Estadão, Pedro Doria.
Apelos
Familiares dos desaparecidos fizeram apelos às autoridades para que fossem empregados todos os recursos nas operações de busca. Em vídeo emocionado gravado à TV Bahia, a esposa do jornalista Dom Phillips pediu celeridade nas investigações e disse ter esperança de encontrá-lo vivo. A esposa de Bruno Pereira disse, em nota, que "cada minuto conta", e que "cada trecho de rio não percorrido pode ser aquele em que eles aguardam por resgate".
Ameaças
Um bilhete anônimo, escrito há cerca de um mês e contendo ameaças ao servidor da Funai, Bruno Pereira, e a indígenas da região foi divulgado pelo Estadão na terça-feira, 7. 'Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas', afirmava o bilhete enviado ao advogado da Univaja, Eliesio Marubo.
Suspeito preso
Na noite da terça-feira, 7, em Atalaia do Norte, a Polícia Militar prendeu um homem suspeito de participar do desaparecimento de Bruno Pereira. Amarildo, conhecido pelo apelido de "Pelado", foi preso em flagrante portando munição de calibre 762, de origem peruana, o que sugere envolvimento com o crime internacional.
Justiça aponta omissão
A Justiça Federal da 1a Região determinou na quarta-feira, 8, que o governo federal reforçasse as buscas no Vale do Javari. A decisão é uma resposta à Ação Civil Pública movida pelo MPF, Univaja e DPU dois dias antes. Na decisão, a juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe determina que a União efetive imediatamente a viabilização de helicópteros, embarcações e equipes de busca, seja da Polícia Federal, Forças de Segurança ou Forças Armadas a fim de localizar os desaparecidos. A justificativa foi de que a União foi omissa e falhou em seu dever de fiscalizar terras indígenas e proteger povos indígenas isolados e de recente contato.
Governo se pronuncia
O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou na terça-feira,7, o que chamou de "aventura" do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. O presidente afirmou que a dupla pode ter sido executada e que na região, que segundo ele é "selvagem", "tudo pode acontecer".
Já o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, disse na noite de quarta-feira, 8, que foi um "erro" o jornalista e o indigenista não terem comunicado os órgãos de segurança sobre a viagem ao Vale do Javari e não pedirem autorização para entrar no local.
Conforme informações da Indigenistas Associados (INA), que reúne servidores da Funai, as declarações de Xavier estavam equivocadas, pelo fato de Phillips e Pereira não terem entrado na Terra Indígena, não sendo portanto necessário pedido de autorização.
Coletiva PF
Às 16h da quarta-feira, 8, três dias após o desaparecimento do indigenista e do jornalista no Vale do Javari, as forças de segurança disseram não haver "indícios fortes de crime". Até o momento, cinco testemunhas e um suspeito haviam sido ouvidos pela polícia.
a criação de um gabinete integrado, com participação do Exército, Marinha, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, que irá coordenar as buscas a partir de Manaus, a 1.136 km de distância de Atalaia do Norte.
O superintendente regional da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Fontes, informou que todos os dias às 16h serão emitidas notas pela PF com novas informações sobre as ações de todos os órgãos envolvidos nas buscas.