Quem foi ao show da popstar Gloria Groove no Pepsi on Stage em Porto Alegre na última quarta-feira, 20, pôde apreciar ao vivo a interpretação em libras da drag queen Rita D’Libra de sucessos como "Vermelho" e "Leilão". "Foi maravilhoso e uma grande oportunidade, porque pude convidar as pessoas da comunidade surda com qual eu cresci para curtir o show", conta. Contratada para ser intérprete, Rita estabeleceu como contrapartida a distribuição de ingressos para pessoas surdas.
Em entrevista ao Nós, Rita conta sua história em uma linha do tempo marcada por importantes datas: em 2011, então moradora da periferia de Canoas, em Porto Alegre, ela ganhou uma bolsa de estudos em um centro de assistência social para um curso de línguas e escolheu Libras, mesmo sem saber direito do que se tratava.
No ano seguinte, na Parada Livre Porto Alegre, que celebra o orgulho LGBTQIAPN+ na cidade, uniu o útil ao agradável. "Eu ia sinalizando e beijava um, sinalizando e beijava outro. Quando vi, fui conseguindo traduzir algumas das mensagens e percebi que estava, de alguma forma, sendo um veículo de comunicação com as pessoas surdas", relata, divertindo-se.
A escolha pelo termo tradução naquele momento não foi à toa. Com pouco domínio da língua até então, ela se restringia a realmente traduzir o que ouvia. Hoje ela entende a diferença entre tradução e interpretação. "Para interpretação você tem um tempo a mais para estudar, entender as metáforas. É uma coisa única, é a minha forma de entender o conteúdo", aponta. "Na música 'Pisando Fofo' da Gloria Groove, conversei com ela para entender se o meu entendimento da letra era o correto e aí pude interpretar de uma forma que fazia sentido na canção", exemplifica Rita.
A fluência para o trabalho veio do intensivão que fez nos oito anos de casada com um parceiro surdo e do seu trabalho como pedagoga. Durante a faculdade, trabalhando em uma organização que atende crianças com deficiência intelectual, começou a interpretar os espetáculos teatrais que aconteciam no local e dali para subir aos palcos foi um pulo. "Em 2016 fiz uma personagem feminina, depois, no grupo de teatro da faculdade fiz a Virgínia do Brás Cubas e foi aí que surgiu a Rita", explica. O nome da personagem é uma homenagem à eterna chacrete Rita Cadillac e à cantora Rita Lee.
Para o Dia Nacional da Libras, celebrado neste 24 de abril, Rita deseja que a língua que é o seu trabalho e sobrenome possa alçar voos maiores. "São 20 anos da data, então estamos saindo da adolescência. Espero que as políticas públicas contemplem mais a língua e principalmente que a levem para as salas de aula, para que todos os públicos usem as mãozinhas para abraçar a Libras e conversar", finaliza, emocionada.