Em Salvador, 100% dos mortos em ações policiais são negros

Número faz parte do último relatório de 2021 da Rede de Observatórios da Segurança

14 dez 2021 - 17h39
(atualizado às 18h10)
Imagem mostra grupo de policiais militares imobilizando jovem negro no asfalto
Imagem mostra grupo de policiais militares imobilizando jovem negro no asfalto
Foto: Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil / Alma Preta

A Rede de Observatórios da Segurança lançou nesta terça-feira (14) o último relatório do ano sobre a cor da violência policial. O estudo, intitulado "Pele alvo: a cor da violência policial", foi realizado com base nos dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. O levantamento constata que a cada quatro horas uma pessoa negra é morta em ações policiais em seis dos sete estados monitorados pela Rede (Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo), além de que todos os mortos pela polícia em Recife, Fortaleza e Salvador eram pessoas negras.    

Os dados obtidos são do ano de 2020 e mostram que mesmo em um contexto de crise sanitária mundial o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro. Ao todo, foram 2.653 mortes provocadas pela polícia com informação racial nos seis estados da Rede e 82,7% delas são pessoas negras. Essa é a segunda vez que a Rede de Observatórios analisa os números das secretarias de segurança dos estados que monitora. A primeira edição da pesquisa aconteceu no ano passado. 

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O Rio de Janeiro é o estado que mais mata pessoas negras em ações policiais, com 939 registros entre os 1.092 mortos que tiveram a cor/raça informada. A Bahia é o estado que, novamente, apresenta a maior porcentagem de mortes de pessoas negras por agentes do estado, com a polícia mais letal do Nordeste. Em Pernambuco, houve um aumento de 53% de mortes provocadas por ação de agentes do estado, com um salto de 93% para 97% de pessoas negras entre as vítimas de um ano para o outro. 

O levantamento ainda denuncia que o quadro de registros do governo do  Maranhão não acompanha a cor das vítimas da violência, ação apontada pelo estudo como uma outra forma de racismo institucional.

A cor da violência por estado

Bahia 

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A cidade em que mais pessoas negras morrem em ações policiais no Brasil fica na Bahia, é Santo Antônio de Jesus, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O estado ocupa a terceira posição entre os que possuem o maior número de mortos (595), ficando atrás apenas do Rio de Janeiro (939) e São Paulo (488), que é o estado mais populoso do Brasil. A polícia da Bahia segue sendo a mais letal do Nordeste e entre todos os estados da Rede é a que apresenta o maior percentual de pessoas negras mortas em ações policiais, com 98%. Já na capital Salvador todas as vítimas da polícia são negras. 

Ceará

No Ceará, negros tem sete vezes mais chances de serem mortos do que não negros. e a letalidade policial oscilou para cima na comparação entre 2019 e 2020  no que diz respeito aos números gerais. O estado apresenta uma discrepância entre o percentual da população negra na população em geral (62,3%) e no percentual de pessoas negras vítimas de agentes estatais (87,2%). Isso porque o estado é um dos que mais acumulam problemas com relação ao acompanhamento da cor das vítimas. São 106 vítimas incolores contra 39 com identificação racial. Na capital Fortaleza, 100% dos mortos pela polícia com identificação racial são negros.

Maranhão 

No Maranhão não se acompanha a cor das vítimas policiais no estado, entretanto é possível saber o número de pessoas que foram vitimadas por policiais no total e o número subiu de 72, em 2019, para 97, em 2020. A variação entre um ano e outro foi de 35%.

Pernambuco 

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As mortes por intervenção policial mais que dobraram (53%) em todo o estado e aumentou também a proporção de negros mortos nessas ações que chega a 97%.  No total, 113 pessoas foram vítimas de ações policiais no estado. Dessas, 109 eram pessoas negras, três brancas, e em um caso não foi possível identificar a cor da pele.  No ano anterior, o total de pessoas mortas pela polícia em Pernambuco foi de 74 casos, e 93% eram negras. Quando se analisa o percentual de pessoas negras mortas pela polícia nas capitais dos estados, Recife mostra que todas as pessoas mortas pela polícia no município são negras. 

Piauí 

No Piauí, 91% das vítimas da violência letal da polícia no estado do Piauí são negras. Nessa mesma direção, a capital Teresina ocupa o terceiro lugar das capitais monitoradas, com 94% de letalidade da população negra por atividade policial. Destaca-se ainda que 73% da população declararam-se negros no Piauí. 

Rio de Janeiro 

Assim como em anos anteriores, o Rio de Janeiro segue sendo o estado que mais produz mortes em ações e intervenções das polícias. Foram 1.245 mortes no ano de 2020, uma redução de 31% em comparação com o ano de 2019. Contudo, é importante frisar que mesmo nesse contexto, o valor é o terceiro maior registro de toda a série histórica. Entre os mortos pela polícia, 86% são pessoas negras. A capital carioca também é a que registrou o maior número total de mortes, com 415 registros. No município do Rio de Janeiro, 90% dos mortos em ações policiais são negros.

São Paulo

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Foram 814 mortos pela polícia de São Paulo em 2020. Do total de homicídios, houve registro de raça das vítimas em 770 ocorrências. Em 63% dos casos, as vítimas eram negras. A proporção de pardos e pretos entre os mortos é quase o dobro do percentual desse mesmo grupo na população paulista (35%). A situação se inverte no caso dos brancos, que representam 64% da população de São Paulo, enquanto 36% entre os mortos pela polícia. Quando olhamos só para a capital o percentual de negros mortos pela polícia é de 69%, mas em número de casos, o município de São Paulo (317) só perde para o Rio de Janeiro (415).

 Mais de 90% da população reconhece que negros têm mais chances de sofrer violência policial

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