Estudantes da Unicamp homenageiam corpos negros usados em estudos

Professora diz que ação traz ao debate papel do negro na universidade

8 abr 2022 - 11h45
(atualizado às 11h48)
“Foi chocante para o estudante negro, quando começou os seus estudos na anatomia, perceber que a maior parte dos cadáveres era de negros, então eles questionaram por que a maioria tem que ser de corpos negros”
“Foi chocante para o estudante negro, quando começou os seus estudos na anatomia, perceber que a maior parte dos cadáveres era de negros, então eles questionaram por que a maioria tem que ser de corpos negros”
Foto: Thomaz Marostegan/Unicamp

A 59ª turma de medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Coletivo Quilombo Ubuntu homenageiam, nesta sexta-feira (8), no Teatro de Arena da instituição, cadáveres negros usados para estudos no Laboratório de Anatomia.

Iniciativa dos estudantes negros da turma, a homenagem é apoiada pela Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da instituição e pelo Centro Acadêmico Adolfo Lutz, que reúne estudantes de medicina. No evento, será inaugurada uma placa, que deverá posteriormente ser afixada no Laboratório de Anatomia do Instituto de Biologia (IB). 

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A diretora executiva de Direitos Humanos da Unicamp, professora Silvia Maria Santiago, afirmou que a ação traz à discussão o papel do negro na universidade. “Negro é aquele que constrói as paredes ou que depois limpa os espaços, ou aquele que está na mesa fria de uma sala de anatomia? Ou o lugar do negro pode ser o lugar do estudante, o lugar do pesquisador, o lugar do docente, o lugar do técnico especializado?”, questionou.

“Nós estamos reverenciando esse anônimo cadáver da anatomia patológica, o negro, mas apontando para a frente, que é a defesa de que o negro possa ocupar um lugar de destaque dentro das universidades”, disse. Os cadáveres usados no laboratório da instituição são, em sua maioria, de pessoas negras. Em geral, segundo Silvia, os corpos destinados a estudos correspondem a pessoas consideradas indigentes.

A professora contou que essa turma de medicina despertou para a questão dos cadáveres negros do laboratório no ano passado, primeiro ano na universidade, durante aula sobre ética médica, em que Silvia falou sobre racismo na universidade e na sociedade. “Foi chocante para o estudante negro, quando começou os seus estudos na anatomia, perceber que a maior parte dos cadáveres era de negros, então eles questionaram por que a maioria tem que ser de corpos negros.”

Neste ano, surgiu a proposta da homenagem, iniciativa dos estudantes negros da turma, que contou com o apoio dos colegas, professores e da universidade. Estão previstas ainda para o evento apresentações musicais de Fabiana Cozza, cantora e doutoranda pelo Instituto de Artes (IA); Ilessi, cantora, compositora e doutoranda pelo IA; Douglas Alonso, percussionista e professor, e Marília Corrêa, cantora e compositora.

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Agência Brasil
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