Estudo aponta que 41% das pessoas negras envolvidas no Brasileirão afirmam ter sofrido racismo

A pesquisa consultou mais 500 profissionais, entre atletas, comissão técnica e arbitragem, das duas principais divisões do Brasil, masculina e feminina

31 ago 2023 - 16h06
(atualizado às 16h16)
"O combate diário e incansável a esse crime é uma das principais bandeiras da minha gestão", afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues
"O combate diário e incansável a esse crime é uma das principais bandeiras da minha gestão", afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues
Foto: Lucas Figueiredo / CBF / Esporte News Mundo

Um estudo comandado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol em parceria com a CBF e a Nike aponta que 41% dos negros que trabalham nas duas principais divisões do Campeonato Brasileiro já sofreram racismo. A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira (31) e consultou 508 profissionais, entre atletas, comissão técnica, membros do staff dos clubes e arbitragem. São pessoas que trabalham nos clubes da Séries A e B do Brasileirão Masculino e A1 e A2 do Campeonato Feminino.

Durante a pesquisa, os participantes relataram a experiência em relação a questões sobre raça, religião, orientação sexual e origem. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, comentou sobre a pesquisa e afirmou ser uma das medidas no combate diário ao racismo. 

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10 frases que revelam racismo 10 frases que revelam racismo

"O levantamento em parceria com o Observatório da Discriminação Racial e a Nike é um retrato, um recorte importante sobre os efeitos nocivos do racismo. O combate diário e incansável a esse crime é uma das principais bandeiras da minha gestão. E com esse diagnóstico vamos trabalhar ainda mais para banir estas e outras práticas discriminatórias do futebol, seja dentro ou fora dos campos. Não podemos tolerar o racismo, o medo e a discriminação. Que cada vitória no combate a esse, que é um mal global, possa reverberar não só na cadeia do futebol brasileiro, mas em toda a sociedade", afirmou Rodrigues. 

Os números de ataques oriundos de torcidas em estádios (53,9%) e redes sociais (31%) mostram que é urgente campanhas educativas e mais rigor nas punições. Além disso, 11,4% dos participantes afirmaram ter sofrido casos dentro de centros de treinamentos e concentrações, o que evidencia que o problema está longe de se restringir às ocasiões mostradas pelas telas que cobrem os jogos de futebol. 

Outro ponto importante do estudo é sobre uma questão religiosa. Aproximadamente 4,2% dos entrevistados declararam não ter religião específica, enquanto 5% se identificaram com candomblé e umbanda. O levantamento então destacou uma estatística preocupante: apenas 2,75% dos praticantes dessas religiões de origem de matriz africana sentem que suas crenças são respeitadas no contexto do futebol.

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Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol comentou sobre a impoorcia do estudo, para aumetar a base de dados de atletas negros no Brasil. Além de frisar que o levantamento é fundamental na luta contra o racismo e na busca para promover diversidade e a inclusão no esporte

"A fotografia dos times de futebol no Brasil nos apontava para um espaço democrático e com a grande presença de atletas negros. No entanto, o percentual de atletas era uma questão que o Observatório sempre quis saber, e esse levantamento foi a oportunidade para conhecermos esses dados. Além disso, o atual estágio da luta contra a discriminação racial nos indica que precisamos saber onde estão os negros e que cargos ocupam para além das quatro linhas, afinal na luta contra o racismo precisamos promover a diversidade e a inclusão", disse Carvalho.

Inclusão no futebol: Combate contra homofobia, xenofobia, machismo

Outro ponto, os resultados também destacam os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no futebol. Apenas 1% dos homens entrevistados se declararam homossexuais ou bissexuais, contrastando fortemente com as estimativas nacionais e internacionais que sugerem uma representação de 8,5% na população brasileira. Esse dado revela a importância de avaliar o impacto do medo de represálias, perda de contratos e falta de oportunidades, sobre a autenticidade das respostas.

Neste sentido, o levantamento mostra que 61% dos casos de homofobia relatados são diretamente cometidos pela torcida. Desses casos, 36% ocorreu por parte da torcida adversária e 25% por parte da própria torcida. O relatório identificou que 21,06% dos participantes relataram ter sofrido xenofobia, no entanto, apenas 3% decidiram denunciar tal comportamento. 

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Considerando o número total de participantes, 28% são mulheres. Desse número, 57% são atletas e 35% ocupam cargos como técnicas, assistentes, dirigentes, assessoria e equipe médica, também do futebol feminino. Apenas 8% delas atuam no futebol masculino, sobretudo nas áreas de comunicação e saúde. Em contrapartida, 18% dos homens trabalham nas divisões do Brasileirão Feminino em cargos diversos. Essa proporção deixa claro que quase metade - exatamente 45% - das pessoas que atuam nas Séries A1 e A2 do campeonato feminino são homens.

Para finalizar, o diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, afirmou que um impornate ponto do estudo é mostrar que tem pontos para melhorar, que o futebol brasileiro ainda terá que percorrer um longo caminho para se tornar um local democrático.

"Nós precisamos expandir nosso olhar para todos os atos discriminatórios e foi justamente isso que buscamos com esse primeiro passo. Os dados desse levantamento certificam nossa desconfiança de que o futebol brasileiro está longe de ser um local democrático e com respeito às diferenças", afirma Carvalho.

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