"Eu não ando, mas posso voar", diz ativista PcD Andrea Schwarz

Conheça a paulistana cadeirante de 47 anos que já empregou mais de 20 mil pessoas com deficiência no Brasil e é inspiração nas redes sociais

11 out 2023 - 05h00
"Sou uma mulher única. Prefiro não colocar a mim mesma, nem a ninguém, em caixinhas", fala Andrea
"Sou uma mulher única. Prefiro não colocar a mim mesma, nem a ninguém, em caixinhas", fala Andrea
Foto: Reprodução/Instagram/@dea_schwarz

Com mais de 800 mil seguidores nas redes sociais, Andrea Schwarz é, hoje, uma das vozes mais potentes do Brasil em prol dos direitos das pessoas com deficiência e tem uma trajetória que merece ser celebrada hoje, Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física. Mais do que uma ativista social de sucesso, Andrea é uma empreendedora social renomada que não faz muita de rótulos ou títulos. "Sou uma mulher única, com minhas particularidades, e prefiro não colocar a mim mesma, nem a ninguém, em caixinhas", diz.

Multifacetada, de fato, Andrea é mesmo. E surpreendente, conforme provou a bela (e disruptiva, nas palavras dela) campanha de Dia dos Namorados que fez ao lado do marido, Jaques Haber, para a marca de roupas Reserva - com direito à participação especial de sua inseparável cadeira de rodas. 

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"Acho importante que as mulheres com deficiência que me seguem tenham referências positivas, pois isso impacta diretamente na autoestima delas. As imagens ajudam a provar que PcDS também namoram, se apaixonam e podem, sim, ser muito sensuais", celebra.

Quem é Andrea Schwarz, ativista PcD que estrelou campanha sexy Quem é Andrea Schwarz, ativista PcD que estrelou campanha sexy

A beleza e a intimidade do ensaio deixam transparecer uma intimidade de décadas e uma relação que tem muita história para contar. No final de 1997, logo no comecinho do namoro, o casal decidiu fazer um "mochilão" para a Europa. "Foi a nossa primeira viagem juntos e a última antes da cadeira, pois no ano seguinte me tornei cadeirante. Minha vida mudou por completo. Ainda no hospital, o Jaques me disse: 'para mim não importa se você está de pé, sentada ou deitada, meu amor por você continua o mesmo. Nosso amor permaneceu e permanece até hoje", conta a paulistana de 47 anos.

Com Jaques, com quem está há mais de duas décadas, e os filhos Leonardo, de 14 anos, e Guilherme, de 17: a família que o casal sempre sonhou
Foto: Reprodução/Instagram/@dea_schwarz

Xô, capacitismo; olá, salto alto!

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Em setembro de 1998, quando passava um temporada em Santos (SP) com o então namorado, Andrea sentiu uma espécie de fraqueza nas pernas, caiu e não conseguiu mais se levantar. Após um mês internada, recebeu o diagnóstico de que tinha cavernoma intramedular, uma lesão benigna que apresenta risco de piora e pode levar a sangramentos. Ela chegou a ser operada, mas ficou paraplégica por causa de uma lesão medular relacionada ao andamento da doença e da própria cirurgia.

"Tive um momento de depressão, mas não deixei que aquilo se prolongasse. Sofri, mas reagi. Considero que ficar paraplégica não foi um ponto final da minha história. A cadeira de rodas é uma espécie de vírgula. Ser cadeirante faz parte da minha identidade, mas não me define. Aliás, costumo dizer que eu deixei de andar, mas aprendi a voar", pontua.

Jaques e Andrea se casaram e são pais de dois adolescentes: Leonardo, de 14 anos, e Guilherme, de 17. Mesmo sendo desmotivada por profissionais, ela engravidou naturalmente duas vezes e sem contratempos. O casal ama viajar e já percorreram mais de 40 países. 

Ela já não se importa com os comentários - alguns sutis, outros nem tanto - em apoio ao fato de Jaques ter permanecido ao seu lado e ter escolhido se casar com ela "apesar", como muita gente ainda pensa, de sua paraplegia. "É comum se aproximar alguém e interagir somente com o Jaques, mesmo quando a pergunta é direcionada a mim, como se eu fosse totalmente incapaz e estivessse sob a responsabilidade dele", relata. 

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"Vocês me veem da forma que eu me vejo?", costuma questionar Andrea em seus posts. Com segurança e autoconfiança, ela desafia o capacitismo dia a dia a bordo não só da cadeira de rodas como muito bem acompanhada de sapatos de salto altíssimos, que adora e são sua marca registrada. "E daí que eu não ando? Eu gosto de me sentir bonita, isso me faz bem!", avisa ela, que também adora moda e maquiagem.

Salto alto e cadeira de rodas: "Eu gosto de me sentir bonita, isso me faz bem!"
Foto: Reprodução/Instagram/@dea_schwarz

Inclusão e ocupação de espaços

Em 1999, ao lado de Jaques, ainda na época de namoro, Andrea Schwarz fundou a iigual, consultoria especializada na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Em quase duas décadas, a empresa já ajudou mais de 20 mil pessoas a serem contratadas em mil empresas.

Hoje, o banco de talentos da iigual soma mais de 100 mil currículos de profissionais com todos os tipos de deficiência, diferentes níveis de escolaridade e de todas as regiões do país. A empresa ainda trabalha com sensibilização de colaboradores e lideranças de empresas, presta consultorias em acessibilidade, faz recrutamento, seleção, treinamento de PcDS e fornece soluções para os empregadores identificando os melhores perfis para as vagas disponibilizadas.

Em 2019, Andrea Schwarz foi escolhida como Top Voice LinkedIn. "Aproveitei essa visbilidade para, durante a pandemia, abrir um perfil no Instagram para intensificar o meu ativismo e conquistar um novo público. A partir das minhas perspectivas e experiências, tento mostrar que é possível uma pessoa com deficiência viver no chamado 'padrão de normalidade'. Até porque ninguém é normal, certo? Somos todos diferentes. A deficiência não pode ser encarada como um destino ruim. Existe uma pessoa antes dela que merece ocupar espaços, ter acessos, ser valorizada e protagonizar uma vida plena", declara ela, que também compartilha sua rotina no TikTok.

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Em 2021 e 2022, Andrea entrou para o rol das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Línea, o que intensificou ainda mais as demandas para consultorias e palestras. Assumidamente acelerada, do tipo que responde as mensagens assim que chegam enquanto faz uma outra tarefa doméstica em casa, Andrea se mostra incansável no propósito de fomentar a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

"Entendi que essa é a melhor via de inclusão. O que acontece nas empresas é um reflexo da sociedade, por isso também luto para tornar o ambiente corporativo mais acessível, inclusivo e diverso. Esse papel não cabe apenas ao RH ou à aplicação da Lei de Cotas, é uma questão transversal de todos nós", fala. 

Em uma de suas muitas palestras: "A deficiência me ensinou que controlamos pouco daquilo que nos acontece, mas que podemos controlar como reagimos quando aquilo acontece"
Foto: Reprodução/Instagram/@dea_schwarz

Enquanto cumpre os compromissos profissionais e familiares e, claro, planeja a próxima viagem, Andrea Schwarz também vem pensando em tirar do papel um objetivo que vem cultivando há um ano: escrever um livro. Ela já publicou três títulos, entres os quais "Cotas: como vencer os desafios da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho", em 2010, e agora quer compartilhar a própria biografia.

"Passei mais da metade da minha vida na cadeira de rodas e acredito que posso mostrar que existem caminhos além daquela realidade que parece estar traçada se você é uma pessoa com deficiência. A deficiência me ensinou que controlamos pouco daquilo que nos acontece, mas que podemos controlar como reagimos quando aquilo acontece", explica.

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Fonte: Redação Nós
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