“Eu sou o meu próprio sonho. Sempre usei essa frase porque acredito que tudo começa em mim”. É assim que Rebeca Costa, advogada e influenciadora digital, define sua essência e força. Ela é uma pessoa com nanismo.
Dona de uma trajetória extensa, Rebeca transformou a falta de representatividade que via na mídia em combustível para criar uma voz autêntica e potente nas redes sociais. Como tantas outras pessoas com deficiência, percebeu que a visibilidade de corpos como o dela era rara, e decidiu que não esperaria por um convite para ocupar esse espaço.
“Eu sempre fui minha própria inspiração. Não conseguia me ver nas influenciadoras no 'look do dia' ou nas dicas. Então, resolvi criar um perfil no Instagram para que pessoas com nanismo conseguissem ver em mim algo que as pessoas viam nos outros influenciadores”, afirma em entrevista ao Terra NÓS.
Trajetória
Rebeca sempre quis ter um papel importante na sociedade e fazer faculdade de Direito foi uma das formas que encontrou para isso. Para ela, é emocionante ver eventos e estabelecimentos a procurando cada vez mais para implementar a acessibilidade. “A recompensa é a felicidade de pessoas com deficiência”.
Outra recompensa do seu trabalho é levar conhecimento para o público através das suas redes sociais. “É muito bom conseguir passar a mensagem e as pessoas entenderem que não é um mimimi".
“Quando elas saem com aquela mensagem guardada no coração ou com alguma imagem impactante e levam para casa ou para suas rodas de conversas de amigos em bares e reuniões familiares disseminam a informação para mais pessoas. A gente vai transformando o mundo de grão em grão”, diz Rebeca.
Preconceitos
O capacitismo também é algo recorrente em sua vida, no entanto, Rebeca prefere focar nas coisas boas. “Eu vivencio o preconceito diariamente, porque o preconceito está na pessoa e não em mim”, disse Rebeca.
“Eu me acho uma pessoa incrível, uma mulher linda, empoderada, uma pessoa que conquistou tudo com as mãos limpas, sem competir com ninguém. Consegui espaço não só para as pessoas com nanismo, mas também para todas pessoas com deficiência porque eu acho que a união faz a força”.
Ativismo
O sucesso como influenciadora e palestrante não foi por acaso: praticando um ativismo estratégico, Rebeca usa sua formação em Direito para atuar também no campo das políticas públicas. Além de produzir conteúdos que desconstroem preconceitos, ela frequentemente está em Brasília para defender mudanças legislativas que ampliem os direitos das pessoas com deficiência, especialmente para aquelas com nanismo.
“Eu sempre estou atualizada referente aos nossos direitos e, quando há algo de negativo, quando querem tirar o nosso direito, eu entro na luta”, comenta.
Sua atuação é movida por uma convicção clara: o problema não está nos corpos das pessoas, mas em uma sociedade que não se organiza para incluí-las. “Nós somos constantemente lembrados de que o problema está em nós, mas a verdade é que o mundo não foi construído para pessoas como eu”, afirma Rebeca.
“Eu acredito muito que se há pouco progresso de pessoas que estão trabalhando com acessibilidade arquitetônica, é porque elas não conviveram com pessoas com nanismo”.
A luta de Rebeca não é apenas pela acessibilidade física, mas pela verdadeira inclusão, que vai além de rampas e adaptações pontuais.
“A acessibilidade como um todo começa a nos faltar quando a gente sai da nossa zona de conforto, que é fora de casa. Eu não uso muito as palavras inclusão ou superação. Prefiro dizer existência e vivência. Porque eu pago imposto, eu existo, sou um ser humano como qualquer outro”, afirma.
Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência
Neste Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, Rebeca reflete sobre protagonismo e afirma não querer ser lembrada apenas nas datas relacionadas às pessoas com deficiência. “Nós somos protagonistas das nossas vidas todos os dias”.
“Eu sou influenciadora, sou modelo, mas eu não sou só isso no dia 21 de setembro. Eu sou isso no dia 21 de setembro e eu sou isso em todos os dias da minha vida. É o meu trabalho. Então, que a gente possa levar, principalmente para as marcas, para os empresários, para as pessoas que nos procuram para publicidade e palestras nessas datas, que a gente existe o ano todo”, completa.
