Whelliton Silva, ex-atacante do Santos e do Flamengo, e atual vereador (PL) de Praia Grande, litoral de São Paulo, é acusado de estupro, 'rachadinha' e abuso de poder. Depois que a denúncia se tornou pública, o político disse que é alvo de ‘armação política’.
Tudo começou quando a suposta vítima registrou um boletim de ocorrência contra Whelliton na Delegacia da Mulher de Praia Grande, no dia 14 de junho. A esposa do vereador, Janaina Ballaris, ex-parlamentar, também consta como parte envolvida.
Conforme apurado pelo Terra, o vereador é acusado de dar bebidas alcoólicas à jovem em uma festa e de a ter levado para o seu apartamento. A denunciante, que afirma ter transtorno de personalidade borderline - caracterizado por gerar instabilidade no humor, comportamentos impulsivos e relacionamentos instáveis -, ressalta que o legislador sabia que ela não poderia ingerir álcool por conta de medicamentos que ela tomava. O crime de estupro teria acontecido no apartamento de Whelliton, na noite em questão.
A denunciante também afirma que o político prometeu a ela um emprego como assessora parlamentar com um esquema de pagamento que configuraria 'rachadinha'. Isso porque a remuneração que o vereador teria prometido seria de R$ 2,4 mil, enquanto o salário do cargo na Câmara de Praia Grande está em torno de R$ 12 mil. A diferença, de acordo com a mulher, seria devolvida a Whelliton.
O caso também gera uma denúncia de ‘abuso de autoridade’, pois a mulher alega ter sido perseguida por agentes da Guarda Civil Municipal (GCP) de Praia Grande, supostamente a mando de Whelliton Silva.
Na denúncia, a suposta vítima conta que a situação com o vereador desencadou pensamentos suicidas e a levou a ser internada com urgência. Ela foi procurada pelo Terra para falar sobre o caso, mas, até o fechamento desta publicação, não deu retorno.
Cassação de mandato
A denúncia foi enviada à Câmara Municipal de Praia Grande, que deu início a uma Comissão Processante. O pedido de cassação do vereador Whelliton Silva está sendo analisado por um grupo formado pelos vereadores Cadu Barbosa (PTB), presidente da comissão, Hugulino Alves Ribeiro (PSDB), relator, e Romulo Brasil Rebouças (Pode), membro.
Essa comissão tem um prazo de 90 dias, contados a partir do dia 13 deste mês, quando o proceso foi instaurado, para dar um retorno sobre o pedido de cassação. Se não houver julgamento dentro desse prazo, o processo será arquivado.
Defesa de Whelliton
Em entrevista ao Terra, Armando de Mattos Júnior, advogado de defesa do vereador, nega todas as acusações. Ele explica que o inquérito que investiga as denúncias tramita em sigilo.
Em sua versão sobre o caso, representando o vereador, o advogado ressalta que a mulher reclamou do suposto estupro um tempo depois de ter ido ao apartamento da família de Whelliton. “Ela fez isso quando soube que não seria contratada como assessora, e isso desencadeou a vontade de prejudicá-lo”, afirma o advogado.
Armando também cita a festa descrita na denúncia. O advogado explica que o vereador e a denunciante saíram da festa porque “a menina teve problemas” e que ela estava passando mal. Querendo ajudar a moça, o vereador teria levado a jovem, junto com sua esposa Janaina Ballaris, que também estava na festa, para a casa de sua família.
“Era a casa deles, onde eles moram. Os filhos deles estavam lá, tem provas de que não houve nada. É uma declaração totalmente infundada, sem subsídio legal”, reafirma o advogado.
Sobre o suposto esquema de 'rachadinha', Armando também diz ser algo infundado. “Ela não chegou a ser contratada, como pode acusar o vereador disso se ela nem recebeu nenhum salário da Câmara Municipal?”, questiona.
Armando diz que é a primeira vez que o ex-atacante profissional é acusado por algo do tipo e ressalta que, por estratégia de defesa, Whelliton não dará declarações diretas à imprensa. “Aguardamos serenamente os 90 dias para ver o que vão resolver”, declara.
"Armação política"
Whelliton Silva tem usado as suas redes sociais para dar opiniões sobre a acusação. Ele expõe supostas provas de que a denunciante está mentindo e que o caso faz parte de uma armação política contra sua família.
Um vídeo mostra o vereador falando em uma sessão na Câmara, indignado. Lá, ele rebate as acusações. “Esse inquérito só não está arquivado porque nós, eu e minha esposa, pressionamos na delegacia para que seja averiguado o falso testemunho”, declara ele, que é casado há 26 anos com Janaina.
Ele chama a suposta vítima de "louca", "irresponsável" e "inconsequente", afirmando que ela está ligada a políticos da cidade e que, por vingança, está fazendo isso com ele. “Já passei por muitas vitórias, muitas derrotas. Não sou perfeito, eu erro. Mas isso, não”.
Questionado sobre o assunto, o advogado disse que não pode entrar em detalhes, mas afirmou que há, sim, perseguição política contra Whelliton.
Supostas provas
Na manhã da última sexta-feira, 16, Whelliton divulgou mais um vídeo em suas redes sociais. Dessa vez, ele mostra um compilado de filmagens e prints de redes sociais, articuladas como supostas provas que sustentam sua teoria de que há uma armação política contra ele.
Ao longo do vídeo, imagens de câmeras de segurança mostram a movimentação da denunciante chegando e saindo da delegacia para fazer o boletim de ocorrência. Também aparecem figuras como o presidente da Câmara Municipal de Praia Grande, o vereador Marco Antonio de Sousa (PSDB), conhecido como Marquinhos, que atualmente está ocupando o cargo de prefeito da cidade por um período de cerca de 15 dias. Raquel Chini, prefeita do município, está afastada por questões médicas. A esposa de Marquinhos, a empresária Roberta Cunha, também aparece como uma das envolvidas na suposta trama.
O vídeo acompanha uma nota de esclarecimento: “Estou sendo vítima de uma armação política orquestrada por pessoas inescrupulosas que se aliaram à uma irresponsável, mas não impunível”, ressalta Whelliton Silva, lamentando por, a essa altura de sua vida, estar passando por uma situação do tipo.
“Sigo certo que a justiça será feita e tanto essa irresponsável quanto os que estão por trás dessa armação, serão responsabilizados. Não tenho dúvida que essa acusação falsa e criminosa será arquivada em breve, pois jamais cometeria algo assim. Entretanto, as pessoas envolvidas não poderão ficar impunes”, complementa.
Pessoas envolvidas
Procurado pelo Terra, o vereador Marquinhos disse que não irá se pronunciar porque “não é parte envolvida no processo” e que não entende por que está sendo citado, tendo sido “pego de surpresa” pelo vídeo exposto nas redes sociais de Whelliton Silva. “Vamos procurar meios legais para entender isso e se defender”, ressalta.
Diante do caso, a Câmara de Praia Grande informou que Marquinhos, presidente da Câmara, não faz parte da Comissão Processante que analisa o pedido de cassação de Whelliton Silva.
Já sua esposa, a empresária Roberta Cunha, afirmou em entrevista ao Terra ter aberto um boletim de ocorrência logo após a divulgação dos vídeos, na sexta-feira.
Ela diz não ter ligação com a denunciante e que a conhecia há pouco tempo. “Em um aniversário de uma pessoa em comum, ela me contou o que havia acontecido com ela e me pediu ajuda. Eu disse que o que poderia fazer era indicar alguém para ela conversar e auxiliá-la nisso”, conta Roberta.
A empresária explica que a jovem procurou um advogado, que a aconselhou a fazer um boletim de ocorrência. “É uma mulher que estava fragilizada, na verdade. E acabei acolhendo ela”. Roberta afirma ter levado a jovem à delegacia a pedido da denunciante “e não vi problema nisso”.
Roberta, em nome de seu esposo, o vereador Marquinhos, nega qualquer tipo de armação política. “É uma história que eles inventatam. Quis ajudar a mulher, e criaram essa história toda. Eles vão ter que responder por tudo isso que estão nos acusando. Acho totalmente desnecessário envolverem pessoas que não têm nada a ver com o caso".