Hoje, 8 de dezembro, celebra-se o Dia do Orgulho Pansexual. Datas como essa são importantes não só para reforçar a relevância das lutas dos direitos LGBTQIA+, como também para dar visibilidade à diversidade de orientações sexuais que integram a comunidade.
Durante muitas décadas as pessoas bissexuais foram tidas como aquelas que se sentiriam atraídas por dois gêneros, masculino e feminino e que, portanto, não seriam heterossexuais nem homossexuais.
A ideia da pansexualidade, no entanto, é mais abrangente e menos alinhada à binariedade ao estender o interesse afetivo, sexual e/ou romântico para outras identidades: homens e mulheres trans, por exemplo, pessoas intersexo e aquelas que não se identificam com nenhum gênero, como as não-binárias.
Alguns pansexuais, porém, encaram a atração como um conceito abstrato que tem mais a ver com qualidades e aspectos da personalidade. E há uma corrente dentro do próprio movimento LGBTQIA+ que vê um dissenso entre esses conceitos ao entender que homens e mulheres trans devem ser vistos apenas como homens e mulheres. Assim, em tese, pansexuais e bissexuais teriam as mesmas características.
Para o psiquiatra Camillo Miranda Lima, especialista em saúde mental da população trans, embora exista um debate em construção dentro da própria comunidade a respeito das diferenças e semelhanças entre as duas orientações, é a declaração pessoal que conta.
"A autodeclaração e a autoidentificação são o mais importante nessa conversa. O que eu percebo, principalmente no meu consultório, é que muitos pansexuais preferem essa nomenclatura a se nomearem bissexuais porque acreditam que a palavra é menos limitante e binária", explica Camilo, que compartilha conteúdos informativos no perfil do Instagra @psquiatrans.
Foi o que aconteceu com o maquiador Felipe Brandão, 32 anos, de São Paulo (SP). "Na adolescência, eu tive um monte de namoradinhas, mas sentia vontade de ficar com meninos também. Após o meu primeiro beijo gay, namorei um garoto por um ano. Quando terminamos, emendei diversos relacionamentos sérios com homens e fui casado durante oito anos. Até então, me declarava como bissexual", conta.
Desde 2020, entretanto, Felipe passou a entender a própria sexualidade de forma mais ampla e menos binária ao acumular vivências com outros gêneros e com pessoas não-binárias. "Passei a me entender como pansexual", conta. Hoje, Felipe namora há 7 meses a atriz e cantora Gabrielle Britt.
Ele se apresenta como a drag queen Dora Criadora; ela, uma mulher cisgênero, também, o que costuma confundir muita gente. É válido lembrar que drag é uma expressão artística e que não está ligada à sexualidade de uma pessoa.
Para Toni Reis, ativista há mais de 40 anos e presidente da ONG Aliança Nacional LGBTI, perfis como o de Felipe serão cada vez mais comuns nos próximos anos. "O futuro vai ser formado por pansexuais e pessoas não-binárias, sem rigidez de rótulos e com um jeito de se comportar e viver mais fluido", opina.
Sobre o dissenso de conceitos acerca da bissexualidade e pansexualidade, Toni compartilha dois pontos de vista bem claros. "Como militante, vejo que precisamos ter as letrinhas da sigla da comunidade bem claras para fomentar e cobrar políticas públicas. Dessa forma, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e pessoas Intersexo são as prioridades nas lutas, que não deixam, por conta disso, de incluir também as outras letras", informa.
No entanto, por ser também sexólogo e mestrado em Filosofia com foco nas áreas de ética e sexualidade, Toni preza o valor da liberdade e do respeito à autodeclaração. "Eu defendo a autonomia. Somente eu posso definir o que eu sou e nenhuma pessoa é igual à outra. Portanto, o que vale é a autodeclaração. A sexualidade é um oceano. Não adianta fazer dela um aquário, pois o exigênio acaba. Só no oceano é possível viver de modo livre, leve e solto", salienta.