Família resgatada de cárcere passa por reabilitação após 17 anos de terror

Filhos eram agredidos e mulher violentada pelo ex-marido; homem está preso

26 dez 2022 - 22h57
Foto: Reprodução/O Globo

Após cinco meses do resgate, a família que passou 17 anos em cárcere privado tenta se recuperar dos momentos de terror que passou. Uma mulher, de 41 anos, e os dois filhos viviam amarrados em uma cama, dentro de um imóvel em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, e foram resgatados em 28 de julho pela Polícia Militar. O agressor, Luiz Antonio Santos Silva, que era companheiro da vítima, foi preso em flagrante. 

Conforme a reportagem de Vera Araújo, do jornal O Globo, ao sair do imóvel, a X. percebeu o quanto as coisas haviam mudado durante aqueles anos. Sem acesso a notícias, ela teve um choque ao saber da morte do Rei do Pop, Michael Jackson. “Morreu Michael Jackson! Eu era fã dele!”, afirmou à reportagem. 

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Sem nunca ter tido contato com a tecnologia, pela primeira vez, agora, ela tem um celular, e foi apresentada ao WhatsApp pelas assistentes sociais e psicóloga da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), que dão apoio à família. No aplicativo, ela posta as fotos dela e dos filhos para os parentes que reencontrou.

O Cárcere

X. só tinha contato com o homem que surrava, a ela e aos filhos, com um fio de cobre. Perdeu a juventude, não viu a vida passar e agora descobre tudo o que mudou aqui fora do imóvel. “Ele sempre dizia que, caso eu fugisse ou o abandonasse, ele viria me matar”, contou à reportagem do O Globo. “Eu vou ao supermercado e ninguém me reconhece. Melhor assim”. 

Santos Silva e a vítima são primos de primeiro grau, e se conheceram quando ele foi visitar a família no Rio. Somente na segunda visita, ela com 17 anos e ele com 26, é que começaram a se relacionar. A mulher engravidou quando faltava um ano para terminar o ensino médio, e depois do nascimento da filha, ele a proibiu de estudar. 

“Naquela época havia muita fofoca porque engravidei cedo e de um primo. Dali em diante, ele passou a me trancar em casa. Minha mãe tentava me visitar, mas ele não permitia. Eu cheguei a fazer o pré-natal, mas só com ele junto. Tive minha filha em 3 de maio de 2000. O bebê não chorou, mas as enfermeiras disseram que algumas crianças não choravam mesmo. Parecia tudo normal, até eu perceber que ela demorava para se desenvolver”, contou. 

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Depois, ela engravidou do segundo filho, que segundo X, chorou depois do nascimento, e até andou rápido, mas seu desenvolvimento regrediu. “Começaram a fazer tratamento, mas ele começou a dizer que era perda de tempo e não fomos mais”, contou a vítima.

Cinco anos depois, a família se mudou para Guaratiba e Santos Silva não informou o endereço a qualquer conhecido, dando início ao cárcere. Os filhos não tiveram contato com outras pessoas durante a infância, e quem vê os jovens de 22 e 20 anos percebe logo os problemas neurológicos, marcas visíveis do período em que passaram trancados. O corpo e a mentalidade são de crianças de pouca idade.

Violência

“Chamava as crianças de doentes mentais, passando a deixá-las amarradas à cama todo o tempo. Quando ele ia dormir, eu afrouxava as cordas para eles dormirem melhor, mas ele me batia ao perceber o que tinha feito. Havia dias que eles acordavam com as mãos inchadas de tanto que ele apertava. Ainda me acusava de as crianças serem doentes”, relembra a mulher. 

Constantemente, eles eram agredidos, e a mulher, estuprada. Segundo o relato, ele deixava as crianças amarradas na sala e a levava para o quarto. Mesmo dizendo que não queria, ele praticava o ato. Ela chegou a falar que queria se separar, mas era ameaçada de morte. “Ele tentou me enforcar. Apertou meu pescoço mais de 10 vezes. Numa delas, cheguei a desmaiar. Ainda tinham as surras com fio nas crianças”, conta. 

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Durante o cárcere, era somente arroz e feijão, e quando estava para acabar, somente o agressor se alimentava. Ela e os filhos chegaram a ficar sem comer nada por quatro dias. 

Resgate e vida nova

Quando eles foram resgatados, estavam desnutridos, muito magros e com o tom da pele amarelado. Depois de cinco meses, os três ganharam peso. Além disso, moram em uma nova casa. Os colchões sujos e úmidos, deram lugar a camas de verdade. Agora, eles tem fogão e uma geladeira com comida, evento raro durante os 17 anos de cárcere. 

O foco de X. é para a reabilitação dos filhos, além de que eles tenham a capacidade de estudar em 2023. Ela também deseja voltar a estudar, concluir o ensino médio e cursar enfermagem. 

Fonte: Redação Terra
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