Francês que drogava esposa para ser estuprada por estranhos admite crime

Dominique Pélicot é acusado de drogar a esposa por quase dez anos para oferecê-la a dezenas de homens que também abusaram sexualmente dela

17 set 2024 - 20h13
(atualizado em 18/9/2024 às 09h25)
"Durante 50 anos, vivi com um homem que eu não imaginava que pudesse cometer esses atos de estupro", disse Gisèle Pélicot
"Durante 50 anos, vivi com um homem que eu não imaginava que pudesse cometer esses atos de estupro", disse Gisèle Pélicot
Foto: DW / Deutsche Welle

Dominique Pélicot, de 71 anos, admitiu nesta terça-feira (17) que é um estuprador, assim como os outros réus no julgamento na cidade francesa de Avignon no qual é acusado de drogar a esposa por quase dez anos, entre 2011 e 2020, para oferecê-la a dezenas de homens que também abusaram sexualmente dela.

"Eu sou um estuprador, como todos os réus neste tribunal, que sabiam da condição dela quando vieram", disse ele, referindo-se ao fato de que os outros homens sabiam que sua esposa, Gisèle Pélicot, estava em um estado de inconsciência por causa dos ansiolíticos que ele dava a ela.

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Depois de iniciar seu depoimento em lágrimas, quando relembrou o abuso sexual que alega ter sofrido quando tinha 9 anos e o estupro que testemunhou aos 14, ele reconheceu os fatos dos quais é acusado "em sua totalidade".

"Sou culpado pelo que fiz. Peço à minha esposa, aos meus filhos, aos meus netos, à sra. M. (esposa de outro réu que eu também teria estuprado), que aceitem minhas desculpas. Peço perdão, embora isso não seja uma coisa aceitável de se fazer", acrescentou.

"Ela era maravilhosa", declarou ele, enquanto Gisèle o encarava no tribunal. "Eu a amei por 40 anos e a amei mal por 10 anos. Eu nunca deveria ter feito isso. Arruinei tudo. Perdi tudo. Preciso pagar por isso", disse.

"Ela não merecia isso"

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"Ela não merecia isso", enfatizou em referência à sua ex-esposa (o divórcio foi formalizado em agosto), depois de insistir que os outros 50 homens sentados no banco dos réus ao lado dele estavam cientes de seus procedimentos e "não podem dizer o contrário".

Alguns desses réus alegam que não sabiam que Gisèle Pélicot estava inconsciente, sob o efeito de ansiolíticos, quando tiveram relações sexuais com ela, e pensaram que tudo fazia parte das fantasias sexuais compartilhadas pelo casal e que, portanto, haveria consentimento de ambos.

Ela alegou, por sua vez, em uma reação a essa primeira declaração de Dominique Pélicot, que nos 50 anos em que viveu com o então marido não conseguia imaginá-lo sendo um estuprador, que não duvidava dele "nem por um segundo" e que tinha confiança nele.

"Durante 50 anos, vivi com um homem que eu não imaginava que pudesse cometer esses atos de estupro. Ele está ciente desses atos de estupro, mas eu não duvidei desse homem nem por um segundo. Eu tinha total confiança nele. Por 50 anos, eu amei esse homem, apesar de algumas fases", comentou Gisèle.

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O principal acusado disse que nunca considerou a "esposa como um objeto, mas infelizmente os vídeos mostram o contrário".

Caso relevado após prisão por filmar mulheres por baixo das saias

Depois de Pélicot ser preso em setembro de 2020 por filmar mulheres por baixo das saias num supermercado na cidade de Carpentras, os investigadores que vasculharam a casa dele encontraram num disco rígido centenas de vídeos e fotos que ele havia feito durante as sessões de abuso sexual de sua esposa drogada, para as quais ele convidara dezenas de homens.

Foram esses vídeos e fotos que levaram à identificação de mais de 50 homens, de entre 26 e 74 anos, 49 dos quais estão sendo julgados no processo que começou em 2 de setembro e no qual cada um deles pode ser condenado a 20 anos de prisão por estupro qualificado.

Dominique Pélicot lembrou que, "devido a esses vídeos, foi possível descobrir quem participou" e, em seguida, olhou para os outros réus. Além disso, ressaltou que guardou os arquivos justamente para manter um registro desses participantes, pelo prazer de assisti-los e pelo "vício".

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Esse primeiro depoimento de Dominique Pélicot havia sido adiado por uma semana devido ao seu estado de saúde e levou à suspensão das sessões de julgamento na última sexta-feira e nesta segunda-feira.

Uma equipe de dois médicos que o examinou a pedido do presidente do Tribunal Criminal de Vaucluse, Roger Arata, determinou que o principal acusado estava apto a comparecer à sessão desta terça-feira, mas com várias adaptações, como pausas de 15 a 20 minutos a cada 90 de declaração.

De acordo com a advogada do réu, Béatrice Zavarro, foi constatado que Dominique Pélicot tem uma pedra na bexiga e sofre de infecção renal.

md/as (Efe, AFP)

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