Gisèle Pélicot, uma francesa que sofreu abusos durante uma década após ser drogada pelo marido para que homens estranhos a estuprassem, falou pela primeira vez sobre o assunto nesta quinta-feira, 05, no quarto dia do julgamento do ex-marido, Dominique Pélicot, e de mais 50 homens acusados.
Os homens desconhecidos pela mulher têm idades entre 26 e 74 anos, sendo que 18 deles estão em prisão preventiva.
"Assisti a todos os vídeos. Não são cenas de sexo, são cenas de estupro. Dois, três deles sobre mim. Fui sacrificada no altar do vício. Quando vemos essa mulher, drogada, maltratada, morta na cama... Claro que o corpo não está frio, está quente, mas eu estou como se estivesse morta. Esses homens estão me contaminando, aproveitando-se de mim”, disse.
A decisão de tornar o caso público foi de Gisèle, que optou por renunciar ao anonimato para garantir que tais abusos não se repitam com ninguém e porque acreditava que um julgamento fechado seria exatamente o que seus agressores desejavam.
Lembrando o momento em que, em novembro de 2020, os investigadores mostraram imagens de anos de abuso sexual, a francesa lamentou. “Para mim, tudo está desmoronando. Tudo o que construí em 50 anos”.
Durante a investigação, ao ver as fotos, a vítima não conseguiu reconhecer nenhum dos homens que apareceram com ela.
“Foi difícil me reconhecer vestida de uma maneira que não era familiar. Então, ele me mostrou uma segunda foto e uma terceira. Eu pedi a ele para parar. Era insuportável. Eu estava inerte, na minha cama, e um homem estava me estuprando”, declarou Gisèle.
Entenda o caso
O caso de Gisèle veio à tona quando Dominique foi flagrado filmando por baixo das saias das mulheres em um supermercado. A partir disso, a polícia encontrou provas de outros crimes.
Segundo a imprensa francesa, Dominique comprou 450 comprimidos para dormir em um período de um ano, conforme os registros do seguro de saúde.
Vários acusados alegam que acreditavam estar participando das fantasias sexuais do casal, mas Dominique afirmou que os homens sabiam que sua esposa estava drogada e não havia consentido.
Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal residia próximo de Paris, com a maioria dos abusos ocorrendo a partir de 2013, quando eles se mudaram para Manzan, até 2020.
Ele orientava os homens a não usar perfume ou cigarro, além de fazê-los aquecer as mãos com água quente. O marido da vítima pedia para que os acusados tirassem a roupa na cozinha, evitando assim a chance de esquecerem no quarto.
Também foi revelado que Dominique tinha fotos da filha, Caroline, nua. Em entrevista ao jornal “Le Parisien”, ela expressou seu temor de que seu pai pudesse ter feito o mesmo com ela.
“Estou convencida de que fui drogada, mas ele nunca vai admitir”.