Gabriela Medeiros, atriz trans, refletiu sobre sua conexão com o afeto e sua experiência interpretando a personagem Buba na novela 'Renascer', da Globo.
A atriz Gabriela Medeiros, intérprete da personagem Buba, que assim como ela é uma mulher trans, na novela "Renascer", da Globo, refletiu sobre a sua conexão com o afeto e a experiência de interpretar a personagem.
"O afeto, ele me atravessa muito, e antes de chegar na novela eu não sabia o que era um abraço. Eu fui aprender o que era um abraço na preparação. Quando o Rodrigo [Simas] me abraçou, eu retraí, assim, ele falou: 'eita, está tudo bem?'", relembrou Gabriela durante o programa 'Conversa com Bial' da última quarta-feira, 4.
Segundo a atriz de 23 anos, tem sido "muito intenso" tudo o que ela está vivendo deste que entrou para o elenco da novela. "Sendo que eu tenho muito pouco tempo de transição também. E aí, do nada, novela das nove, exposição, se mostre, você tem que estar aqui inteira... foi uma coisa que eu fiquei 'uau'".
Gabriela ainda destacou a semelhança entre as suas experiências pessoais com as de Buba. "É uma personagem com uma vivência trans, que também é a minha vivência. Então, trazer esse corpo também é o meu corpo. Quando eu falo que eu virei uma simbiose é porque teve um momento que eu não sabia mais quem era eu e quem que era a Buba. Acordava de madrugada chorando, pensando no texto do dia seguinte de tão internalizado que ficou em mim", afirmou ela.
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"Não parece ser trans" e outras frases que não se deve dizer a uma pessoa trans
Para a atriz, a fetichização de corpos trans pode ser um obstáculo para o aprofundamento de relações afetivas. "Eu sinto que eu sou sempre um presságio, eu me sinto sempre efêmera. É um corpo muito objetificado, a pessoa sempre vem com a curiosidade, com fetiche, nunca num lugar de afeto."
"Quando eu falo sobre a noite, é que parece que eu só existo na noite realmente para esses afetos, e eu espero realmente um dia ser o sol de alguém."
Transição de gênero
A atriz ainda falou sobre como o processo de transição de gênero é interno e complexo. "Eu sinto que tem se banalizado um pouco. É uma trend ser uma mulher trans? É um conteúdo que só vai te dar view, e vai te dar um retorno? O que é ser mulher? É um produto? Botar um salto, ter um cabelo até aqui [colocou a mão na cintura]? O que é ser mulher?".
"Eu acho que é a essência. É uma coisa muito de dentro, sabe? É tão forte. Quando eu me olhava no espelho, falava: 'não'. É uma coisa que quase explode. Então foi muito difícil, mesmo porque eu tentei lutar muito contra isso. Eu cheguei a começar a transição e aí eu destransicionei. Fiquei com muito medo, e aí eu fui tomando força e comecei a pesquisar", afirmou.
