Gabrielle Gambine, de 24 anos, está animada com o retorno de Verdades Secretas 2 ao mainstream. A novela entrou na programação aberta da Globo neste mês de outubro e a sobrinha de Roberta Close, ícone da transsexualidade nos anos 90, participa da trama como destaque da agência Blanche Models.
"É uma vitória para nós transexuais, pois a projeção é muito maior [do que no Globoplay]. E rever na TV me faz lembrar de momentos especiais que passei com o elenco", conta ela em entrevista ao Terra.
Entre as lembranças boas, Gabrielle cita brincadeiras com o elenco, conversas descontraídas com atores da novela e dinâmicas propostas pela direção de equipe que a desenvolveram como atriz. Mas, assim como os bons momentos, ela também não se esquece dos sufocos que passou devido aos episódios de transfobia nas gravações.
As violências, embora entenda que não eram propositais, geravam disforia de gênero em Gabrielle, que se acanha ao falar do assunto. Hoje ela garante que o assunto está resolvido e prefere não citar nomes das pessoas que frequentemente a confundiam.
"Rolaram vários [episódios de transfobia] ainda mais com a esfera cisgênera da galera. Não eram ataques, era mais uma questão dos pronomes. Às vezes passava despercebido para muita gente, mas para nós [transsexuais] é um incômodo", explica.
Diferentemente de muitas atrizes que escolhem o silêncio, Gabrielle Gambine comunicou à Rede Globo o que estava ocorrendo e, para sua própria surpresa, foi acolhida. Segundo ela, a emissora, advertiu a equipe geral e emitiu nota avisando que preconceitos e qualquer discriminação não eram tolerados.
"Me senti cuidada, respaldada", diz.
Roberta Close é referência, mas Gabrielle quer legado próprio
Cria do Rio de Janeiro, Gabrielle Gambine teve uma infância calma, com liberdade para ser quem é e de se expressar como queria. O sucesso da tia Roberta Close, ícone da transexualidade nos anos 1990, colaborou para isso.
Rodeada por pessoas LGBTQIA+ e travestis desde cedo, ela afirma que com o tempo construiu com Roberta Close uma relação baseada em trocas de vivências e sabedorias. Apesar do respeito e admiração recíprocos, as duas passaram por turbulências quando Gabrielle foi anunciada no elenco de Verdades Secretas 2.
Na época, perfis de fofoca no Instagram e jornais a rotularam como "sobrinha trans de Roberta Close". É um fato, mas, segundo desabafa Gabrielle, a forma como o parentesco era colocado dava a entender que ela usava a tia para ganhar mídica.
"O nosso parentesco e transexualidade foram abordados das formas mais desrespeitosas que existem. Não ligo de ser associada, é minha tia, vai acontecer. Mas ela sempre me ensinou a buscar meus próprios passos, e eu nunca quis usar isso para me promover. Sempre busquei capitalizar meu dinheiro [...] já fiz tatuagens, participei de coletivos para vender camisetas e telas, modelei, fui recepcionista, sempre buscando formas de ser independente", afirma.
Alguns veículos de imprensa até noticiaram uma ruptura familiar depois do desentendimento entre as duas, mas Gabrielle nega veementemente. Para desmentir os rumores, ela garante que encontra a tia nas visitas pontuais que faz ao Brasil, como para reuniões e em datas comemorativas.
"Rompimento não teve. Teve esse incômodo, porque ela não gosta de misturar as coisas. Amo a Roberta, sou fã dela [...] além disso, ela sempre me deu ótimos conselhos e não misturar vida pessoal com a profissional foi um deles", acrescenta.
Um futuro de portas abertas
Além da televisão, Gabrielle Gambine também tem se dedicado à carreira de influenciadora digital e ao curso de gravida, que estuda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os planos para o futuro já estão bem definidos: trabalhar na temporada de moda no Brasil e continuar se desenvolvendo como atriz.
"Quero estrelar filmes, também estou avaliando uma possível peça no meu futuro", afirma.