Gritos, choro e apoio da mãe: como Titi Muller foi escolhida para apresentar a posse

"Dilma passar a faixa seria reparação histórica", afirmou a apresentadora em entrevista ao NÓS

29 dez 2022 - 05h00
Titi e o Filho Benjamin
Titi e o Filho Benjamin
Foto: Reprodução Instagram / Reprodução Instagram

No dia 01 de janeiro de 2023 acontece o "Festival do Futuro", uma celebração que integra a programação da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Organizado pela esposa de Lula, a antropóloga Janja, o evento reunirá pelo menos 50 atrações em dois palcos, que levam o nome de Elza Soares e Gal Costa. 

Na apresentação do festival, o humorista Paulo Vieira e a apresentadora Titi Muller, que contou ao NÓS como foi o processo de convite, assim como o caminho que trilhou para chegar a um dos momentos mais importantes da sua carreira.

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"Eu sempre me manifestei politicamente e isso teve consequências na minha carreira, uma delas é estar entre tantos artistas que se posicionaram publicamente em favor da manutenção das nossas instituições democráticas no evento mais aguardado desde 2013", dispara, surpreendendo quem aguardava relatos de censura e perdas de contratos. 

"Foi extremamente difícil passar por essa eleição, tão polarizada, tão cheia de ódio e violência, e eu ter sido escolhida junto do Paulo para sermos mestres de cerimônia do Festival deve ter gerado muito hate. Eu apenas não vejo. Crítica tem que ser construtiva, hate eu nem leio", explica.

O convite foi feito diretamente por Janja e, a princípio, o contato veio para a participação de Titi no evento que aconteceu em setembro no Anhembi, em São Paulo, e reuniu artistas e influenciadores. Por conta do seu contrato com a Rede Globo, a apresentadora não pôde participar por ser ano de eleição, mas encerrado o pleito e virado o ano, foi liberada. "Essa é uma política de praticamente todas as emissoras", explica ela. Ainda que a manifestação de voto seja liberada, a participação de eventos oficiais de campanha não é permitida. 

Gritos, lágrimas e muito afeto

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Em 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito, Titi acompanhou a apuração ao lado da família, em especial a mãe, Vera, e da irmã, a atriz Taina Muller. "Nos abraçamos e minha mãe falou 'filha, a gente vai atravessar isso, a gente vai atravessar junto e, quando isso tudo acabar, a gente vai sair gigante'", relembra ela completando. "Eu só não imaginava que quando acabasse eu ia ter o zap da primeira dama e ia poder entrevistar Margareth Menezes como Ministra da Cultura", celebra rindo. 

O riso farto, por qual Titi é conhecida, dá também lugar a lagrimas ao longo da entrevista, não de tristeza, mas, sim, de emoção: "Quando recebi o convite eu gritei, chorei, aí liguei para minha mãe, que foi a primeira a saber. Ela gritou, chorou e agora, te contando, estou chorando tudo de novo", diz, com os olhos marejados e voz embargada. 

O choro de felicidade surge como uma mistura de esperança e resignação pelos últimos quatro anos. Em exatos 13 minutos, ao responder qual o impacto, enquanto mulher, de viver sob as políticas do atual governo e expectativas para o próximo, Titi repassa o que ela chama de pesadelo. 

"Desde 2013, quando teve o golpe (impeachment de Dilma Rousseff), começamos a entrar em um estado de sequestro mental, a política começou a fazer mais parte da nossa vida. Quando chegou o convite, começou a passar um filme na minha cabeça, de como a gente precisou vivenciar a pandemia do jeito que ela foi conduzida por esse governo negacionista e que provocou tantas mortes desnecessarias, de todas as pessoas queridas que a gente perdeu, da morte da Marielle Franco, da placa com seu nome sendo quebrada, todas as ofensas contras as mulheres, contra as mulheres jornalistas, colegas de profissão, de acenos ao nazismo feio pelo Roberto Alvim", relembra ela.

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Ainda nessa retrospectiva mental, citou a luta das pessoas LGBTQIAPN+, dos ambientalistas e povos originários e outras populações que resistiram ao violento governo atual. Lembrou ainda das políticas armamentistas e o número crescente de feminicídios no país, onde mais de 1.300 mulheres foram mortas apenas por serem mulheres e que, em crimes violentos, 65% dos óbitos de mulheres foram provocador por armas de fogo, segundo o Anuário 2020 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). 

Novamente chorando aponta: "A gente teve que lidar com tudo isso sem normatizar, e foi muito díficil ter que virar voto de gente com discursos, que vão não só contra nossas ideologias políticas, mas contra quem a gente é. Pessoas com discrusos que, na subjetividade, quer a morte de pessoas que a gente ama", explica citando pessoas LGBTQIAPN+, pessoas negras e mulheres.

Resistência bem humorada

Se em 2018 e 2022, anos eleitoriais, Titi não pode participar do evento de campanha, em 2019 ficou marcada como uma dos maiores cabos eleitorais do Partido dos Trabalhadores e de oposição ao governo Bolsonaro. No ano, dois momentos de coberturas em eventos musicais viralizaram. O primeiro, sem querer, quando apontou o microfone para galera que entoava o coro "Hey Bolsonaro, vai tomar no c*", enquanto aguardava o show da cantora Anitta. 

"Apesar de ter roteiro eu improviso 90% do tempo, porque o meu trabalho é esquentar antes do show e sempre aponto o microfone pra galera. Não foi nada programado. Eu já planejava falar que a galera estava pedindo Anitta demais, só que o coro mudou. Eu adorei ainda que ache que o melhor era 'Hey Bolsonaro, vai tomar polícia porque dar o c* pode ser uma delícia'", relembra dando risada.

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Já durante a transmissão do Festival Festeja, a apresentadora foi mais direta, profetizando a volta do PT após uma apresentação de Leo Santana com a música "Vai dar PT". "Teve ali um deboche, eu resisti muito nesses anos debochando da cara dos caretas", conta. 

Para o "Festival do Futuro", as ironias devem dar lugar ao afeto e amoção. "Vai ser um festival lindo, solar, todo mundo está trabalhando no amor, numa correria louca, tendo que conciliar as demandas de final de ano com o evento, mas vai ser incrível". 

O evento acontece dia 01 de janeiro, a partir das 18h30, e será transmitido online em plataformas que ainda serão divulgadas após as solenidades de posse, que trazem um momento de muita expectativa: Jair Bolsonaro já divulgou que se recusa a passar a faixa para o presidente eleito e quem ficará a cargo da honraria ainda é incerto. "É bom frisar que não sou eu, tem gente que acha que sou eu. Eu gostaria? Gostaria. Mas se fosse eu a decidir, seria a Dilma. A Dilma passar a faixa seria reparação histórica", finaliza. 

Fonte: Redação Nós
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