A futura primeira-dama Rosângela Lula da Silva, conhecida como 'Janja', deu sua primeira entrevista oficial a uma emissora de televisão, transmitida neste domingo, 13, pelo dominical Fantástico, da TV Globo. A paranaense de 56 anos falou sobre a atuação na campanha eleitoral, o relacionamento com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o papel de primeira-dama.
Janja, que é socióloga, conta que iniciou a trajetória política aos 17 anos, quando se filiou ao PT em 1983, durante o movimento das Diretas Já. Natural de Curitiba, ela diz que conta, entre suas paixões, com o amor à música e ao futebol, e tem inspiração na imagem de sua mãe. "Meu exemplo de mulher, de fortaleza".
Segundo a paranaense, ela conheceu Lula durante uma partida de futebol organizada pelo Movimento Sem-Terra (MST) em 2017, para a qual tinha ido para conhecer Chico Buarque. Desde então, manteve contato com o presidente eleito, inclusive durante os 580 dias em que Lula permaneceu preso na sede da Polícia Federal em Curitiba.
O casal se aproximou e manteve contato por meio de cartas, inclusive chegando a planejar o casamento. Janja conta que os dois dividiram momentos felizes e tristes nas correspondências, como a morte do neto de Lula, Arthur, à época com sete anos de idade, vítima de meningite.
Janja foi uma das pessoas que recebeu Lula nos portões da PF em Curitiba quando o presidente eleito foi solto, em abril de 2019. "Foi um momento de muita felicidade, foi um momento que eu vi a esperança sair daquela prisão. Eu fiquei parada, eu estava do lado de fora do portão da Polícia Federal e eu não me mexi, eu fiquei parada, e quando eu vi ele estava me abraçando", contou.
A socióloga também falou sobre a morte da mãe, em decorrência de complicações causadas pela covid-19. "Foi talvez um dos momentos mais tristes da minha vida. Como ela foi diagnosticada com Alzheimer, que é uma doença muito triste, eu me preparei psicologicamente para perder minha para o Alzheimer, mas eu não tinha me preparado para perder ela para o covid-19".
Atuação política
Janja teve papel central em toda a campanha do petista para a Presidência da República, inclusive sendo apontada com a articuladora entre a aliança entre Lula e a candidata Simone Tebet (MDB), que o apoiou no segundo turno das eleições.
"Não tem nada planejado, acontece muito no calor do momento, o telefonema para Simone, a gente estava em casa, peguei o telefone e botei os dois para conversar. Eu não tenho nenhum papel de articulação política", revelou a futura primeira-dama.
A socióloga conta que sofreu com resistência de colegas por sua presença na campanha de Lula, mas que se importava somente em ajudar o marido. "A opinião que importava para mim nesse momento era do meu marido. Se era importante para ele eu estar fazendo algumas coisas e estar do lado dele. E eu trouxe para mim mesmo esse papel de cuidar mesmo dele, de preservá-lo, até segurança".
Questionada se as críticas era motivadas por machismo ou ciúmes, Janja avalia que ambos os motivos deram voz a eventuais resistências de correligionários.
"Foi um pouquinho de cada, houve machismo porque a talvez a figura do Lula por si só se bastasse e agora tem uma mulher do lado dele, não que complemente, mas que soma com ele em algumas coisas, isso não acontecia antes, e ele tem uma soma que sou eu, e eu sou essa pessoa propositiva, que não fica sentada, mas que levanta e faz", afirmou a socióloga.
Papel de primeira-dama
Para Janja, o governo do petista deve ao apoio feminino, o que rendeu vantagem nos votos em relação ao atual presidente derrotado, Jair Bolsonaro (PL). "A gente tem uma responsabilidade muito grande com as mulheres que votaram nele, que deram uma larga vitória para ele tanto no primeira quanto no segundo turno".
Questionada sobre o papel da primeira-dama, Janja fala em "resignificar o conteúdo do que é ser uma primeira-dama, trazendo algumas pautas importantes para as mulheres, para as pessoas, as famílias, um papel de articulação com as pessoas". Ela cita inspirações como, por exemplo, Eva Perón e Michelle Obama.
Sobre os desafios para o próximo governo, a futura primeira-dama crê em reacender a "chama da solidariedade" na população brasileira. "Talvez despertar um pouco de solidariedade e compaixão em uma parcela da populaçao brasileira que deixou isso perdida em algum lugar. Eu acho que essa vai ser o maior desafio, reacender a chama da solidariedade", finalizou.