O Carrefour entregou cestas básicas para as famílias de Jeremias de Jesus e Jamile Lima, agredidos no dia 5 de maio por seguranças contratados pela empresa em Salvador, na Bahia.
"Acho até humilhante, quando após um episódio como este, eles mandem apenas cesta básica. Tinham coisas mais importantes, inclusive o apoio psicológico, que eles ficaram de arrumar e depois nada foi feito", afirma Ariel da Silva, pai de Jeremias.
De acordo com os familiares do casal, o primeiro encontro com representantes do Carrefour ocorreu há 10 dias e eles ofereceram tratamento psicológico e "ajuda emergencial para cobrir alimentação e outras despesas essenciais".
Ariel acrescenta a necessidade da empresa garantir uma moradia segura para o filho, que foi ameaçado de morte pelos agressores. "Nem cumpriram com o auxílio aluguel, nem com o psicólogo, com nada, o que deram foi a cesta básica, depois de muita insistência", pontua.
Furto de pacotes de leite
A agressão foi registrada por um vídeo gravado pelos seguranças, que batem e acusam o casal por furto de quatro pacotes de leite. Nas imagens, Jamile justifica que pegou os pacotes de leite para alimentar a filha e, em seguida, recebe tapas no rosto. Jeremias também é agredido e obrigado a falar o nome e sobrenome da mãe.
Com a repercussão, dois boletins de ocorrência foram registrados, um feito pela própria rede de supermercados contra a empresa de segurança privada, no dia 6, logo depois do ocorrido, e o outro pelo advogado de defesa de Jeremias, Walisson dos Reis, no dia 11. Ambos boletins de ocorrência foram registrados na 12ª Delegacia de Polícia de Itapuã como agressão e lesão corporal.
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Polícia diz que busca por suspeitos
Em nota, a Polícia Civil informou que a delegacia instaurou inquérito para apurar as agressões e que medidas investigativas já foram adotadas para identificar os envolvidos no crime. "A Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid) acompanha as apurações do caso", completa a nota.
A empresa responsável pela segurança da unidade era a CZ Segurança Patrimonial, que teve o contrato desligado com o Carrefour, de acordo com a rede de supermercados. "O processo de retirada nas demais unidades será concluído nas próximas semanas, de modo que a prestação de serviços estará totalmente encerrada em curto prazo. A rede informa, ainda, que tinha contrato com a CZ para unidades exclusivamente no estado da Bahia", afirmou o Carrefour.
Em 2020, depois da morte de João Alberto Freitas, o Carrefour anunciou o fim do contrato com a Vector, cujos profissionais espancaram Beto até a morte. A Vector alterou o nome para Cordialle e restabeleceu contrato com o Carrefour.
A Alma Preta Jornalismo questionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) se o caso se transformou em inquérito policial para que haja uma investigação da Polícia Civil para apurar com detalhes a história, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem. Caso o órgão responda, o texto será atualizado.
Depois dessa fase, o fato pode se tornar objeto de denúncia por parte do Ministério Público da Bahia e ir para a Justiça. O MP-BA abriu no dia 8 de maio um procedimento para apurar se houve crime de racismo no fato. A investigação está sob a direção da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos.
A reportagem também pediu um posicionamento para o MP-BA. O órgão informou que encaminhou o pedido para apuração e não deu retorno até o fechamento do texto.
Em nota, o Carrefor disse que "independentemente do resultado das investigações que se encontram em curso, assumiu a responsabilidade junto às vítimas, fechando acordo com a Jamile, e reforça que ofereceu suporte psicológico, alimentar e a outras despesas essenciais ao Jeremias, enquanto segue no diálogo em relação a outras demandas".
O que é antinegritude e como pode ser mais cruel que o racismo?
Texto atualizado às 17h18 de 25/5/23 para inclusão da nota enviada pelo grupo Carrefour.