Idoso com bandeiras da Palestina e do Líbano é atacado no litoral de SP

Caso ocorreu neste domingo, 13, na Praia das Astúrias, em Guarujá; vítima registrou a ação

14 abr 2025 - 13h41
(atualizado às 13h58)
Resumo
Idoso é agredido por banhistas em Guarujá, SP, por portar bandeiras da Palestina e do Líbano; vítima registrou boletim de ocorrência por racismo e preconceito.
Idoso foi atacado por dois banhistas em Guarujá (SP)
Idoso foi atacado por dois banhistas em Guarujá (SP)
Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Um idoso de 64 anos foi atacado por banhistas enquanto caminhava com bandeiras da Palestina e do Líbano pelo calçadão da Praia das Astúrias, em Guarujá, no litoral de São Paulo.

O caso ocorreu na tarde de domingo, 13. Mohamad Mourad foi atingido por lata de refrigerante e xingado pelos suspeitos. Parte da ação foi filmada por ele, conforme vídeo obtido pelo Terra.

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O que aconteceu?

O árabe-brasileiro é morador da capital paulista, mas tem um apartamento na cidade litorânea. Ele foi a Guarujá junto da família para passar uns dias e, no domingo, foi até a praia carregando as duas bandeiras.

Brincou com os netos, aproveitou a praia e, quando sua família quis ir almoçar, ele decidiu ir até o Mirante das Galhetas para ver se encontrava alguns amigos pescadores. 

Na volta, ainda com as duas bandeiras, Mohamad foi surpreendido por um homem, na faixa de areia, que lhe atirou uma lata de refrigerante. “Ele estava em uma cadeira no quiosque. Tacou areia, e veio atrás de mim. Um pessoal que estava no quiosque segurou ele porque queria me agredir”, explicou ao Terra. 

No entanto, ele ainda não tinha entendido do que se tratava, mas, numa segunda tentativa de agressão, viu que era porque estava com a bandeira da Palestina. “Comecei a filmar quando ele veio. Como estava com o celular, ele me agrediu e quebrou as bandeiras. Como eu estava filmando, dá pra ver o número de pessoas que estavam tentando segurá-lo”, contou. 

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Nas imagens, é possível ver o suspeito perguntando: ‘Sem confusão. É Palestina? Não, tranquilo, amigão. Palestina, não é?”, diz para Mohamad. Enquanto o idoso responde “Isso, você quer me bater?”, as demais pessoas tentam segurar o agressor. 

Nesse momento, o homem pega as bandeiras da mão da vítima enquanto grita “Palestina não” repetidas vezes. “Já está fazendo um genocídio lá. Larga isso daí”, rebate Mohamad.

Durante a confusão, ele pediu para alguém ligar para 190, e uma mulher se aproximou o mandou tirar a camiseta do Corinthians com escritos em árabe. “O Hamas tirava crianças do ventre com a mão”, gritou a mulher. 

“Vocês são a favor do genocídio. Estão comentendo genocídio [na Palestina] e isso não se faz. Aqui é liberdade de expressão. Nós estamos no Brasil, é liberdade de expressão”, dispara a vítima, enquanto um homem diz que ele é “pobre de espírito”. 

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Reação

Depois disso, ele conseguiu acionar a Polícia Militar, que fez o registro interno. Os suspeitos se esconderam dentro de um condomínio, conforme explica o idoso. A esposa de Mohamad, Sônia Mourad, diz que, apesar do marido não ter sofrido nenhuma lesão, está extremamente abalado com a situação, já que um grupo foi para cima dela, questionando e ofendendo. 

“Não se importaram se havia idosos e crianças ali. Aqui impera o sionismo, o ódio e o facismo, não existe respeito contra os idosos, o acesso de ir e vir e manifestação. Ele só fez uma pergunta. Mas isso depois de ser agredido. Ele nem percebeu na hora. Ele achou estranho, ele levou um susto quando o brutamonte foi para cima dele”, explicou. 

Revoltada com a situação, Sônia ainda declara que o marido tem o direito de se manifestar, pois vive em um estado laico, mas que a “comunidade do ódio, da intolerância e da intransigência”, quer ditar as regras do país. 

“Eu não estava fazendo nada, estava me manifestando contra o genocídio e a agressão de crianças, mulheres e idosos. Não falei nada, a pessoa gratuitamente veio me agredir, eu não sei de onde vem tanto ódio. Onde a gente vai parar com uma reação dessas? No mundo de hoje, a maior barbárie do Século 21 que Israel está cometendo contra os palestinos, mulheres, crianças, e em hospitais. A nossa imprensa aqui está se omitindo, deveria ser mais clara. Esse acontecimento aqui é por causa do genocídio, que nada justifica. Não posso ser a favor, ninguém pode”, finaliza Mohamad. 

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Os dois foram até a delegacia da cidade nesta segunda-feira, 14, para abrir um boletim de ocorrência contra os suspeitos pela atitude racista e preconceituosa. O casal alega ainda que não houve respaldo da administração municipal.

Em nota, a Prefeitura de Guarujá informou que a Guarda Civil Municipal (GCM) não foi acionada para atender a ocorrência, e que repudia qualquer episódio de intolerância e reitera que a xenofobia. 

A reportagem também tentou mais detalhes da ocorrêcia via Polícia Militar, mas não recebeu retorno até o momento. 

Fonte: Redação Terra
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