Fundado em 1974, o Ilê Aiyê, da Bahia, é o primeiro bloco afro do Brasil e surgiu pela pelas mãos da líder religiosa Hilda Dias dos Santos, conhecida como Mãe Hilda Jitolu, que faleceu em 2009, e de seu filho, Antonio Carlos dos Santos Vovô.
Em sua origem, contou ainda com o apoio de Apolônio, Dete, Vivaldo, Ana Meire, Sergio Roberto, Jailson, Lili, Macalé, Eliete Celestino, Joevandro, Maria Auxiliadora e outras pessoas da comunidade próxima à ladeira do Curuzu, que hoje também dá nome ao bairro até então chamado Liberdade, na periferia de Salvador.
Na época, o uso de tranças e outros símbolos da negritude era mal visto e associado à marginalidade, chegando a gerar repressão policial. É nesse contexto que o Ilê Aiyê saiu às ruas exaltando sua ancestralidade e identidade.
Foi Mãe Hilda quem cedeu espaço do seu terreiro para as atividades do bloco e que, na primeira saída, se postou à frente do cortejo para defender os integrantes em caso de violência policial. Ela também insistiu para que o bloco atuasse para além do Carnaval, com atividades socioeducativas.
Assim nasceram projetos que existem até hoje como a Escola Mãe Hilda, instituição de ensino formal que, além da grade curricular padrão, trabalha conteúdos sobre cultura negra e africana; o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê; a Escola de Percussão, Canto e Dança Band’erê'; a Escola Profissionalizante do Ilê Aiyê; e o projeto Dandarerê, voltado para o público idoso.
Como foi o primeiro desfile?
O primeiro desfile, em 1974, contou com três meses de preparo e teve Antonio Carlos dos Santos Vovô, filho de Hilda, e Apolônio de Jesus, que morreu em 1992, na organização. Eles criaram um estatuto, convidaram Dete Lima para a confecção da primeira fantasia usando tecidos, faixas e adereços e desfilaram a ancestralidade africana.
Já no primeiro desfile a icônica canção “Que Bloco É Esse”, composição de Paulinho Camafeu, foi entoada. Ao longo das décadas, foi regravada por nomes como Gilberto Gil e Criolo.
Em 1976, o bloco foi às ruas com o primeiro tema diretamente relacionado à África, os guerreiros Watusi, e surge também o primeiro tecido artesanalmente pintado, marca registrada do grupo até hoje.
Em 1978, Mirinha, primeira rainha, foi eleita Deusa do Ébano e assim surgiu o símbolo do perfil azeviche, além de serem definidas as quatro cores para o bloco: preto, vermelho, amarelo e branco. O primeiro tecido sob medida também foi produzido nessa época.
O Ilê conta com uma orquestra com formação de nove músicos em shows menores e até 100 no Carnaval e desfiles oficiais do bloco em datas comemorativas. Independente da formação, os tambores sempre anunciam que o desfile do bloco vai começar.