Um estudante autista de 12 anos teve uma crise epilética dentro da escola e, ao invés de receber socorro e apoio dos colegas, foi atacado, teve o corpo rabiscado com termos capacitistas e homofóbicos, "autista retardado", "gay", na nuca, testa e braço, antes de ser largado no chão. Ao recobrar a consciência, sem perceber o ataque e que havia urinado na roupa, voltou para a sala de aula.
O caso registrado nesta quarta-feira, 20, em Santos, litoral de SP, na Escola Estadual João Octávio dos Santos, no Morro do São Bento, não foi o primeiro contra o aluno, segundo relatos da mãe do menino ao jornal A Tribuna.
"Ele defende o irmão mais velho, transexual, já foi abordado dentro do banheiro e os meninos tentaram ver a parte genital dele para confirmar se ele era menino ou 'transformers', apelido que deram ao irmão, e ele começou a ter medo de ir ao banheiro na escola", diz a mãe.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou que a escola convocou os responsáveis pelos alunos acusados, a Diretoria de Ensino de Santos indicou supervisor para apurar o caso, com análise de imagens internas, e que uma equipe do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) também acompanha a situação.
Em outra unidade pública, dessa vez na cidade de Novo Horizonte, região de São José do Rio Preto, na Escola Municipal Hebe de Almeida Leite Cardoso, uma estudante negra, também 12 anos, foi atacada por outros alunos com terra e fezes, pisoteada, chamada de "macaca", "cabelo de bombril" e "capacete de astronauta".
De acordo com reportagem do portal G1, o ataque foi cometido em 11 de março e revelado nesta quinta-feira, 21. A mãe da menina registrou o caso na delegacia da cidade e obteve medida protetiva na Justiça, proibindo os estudantes de se aproximarem da adolescente.
A Prefeitura de Novo Horizonte, a Secretaria Escolar Municipal e a unidade de ensino informaram que casos de bullying e racismo são punidos com sanções, sem detalhar quais e também sem esclarecer quantos estudantes participaram do ataque.
Em Ibaté, na região de São Carlos, também interior paulista, no começo deste mês, um menino de 8 anos, negro, autista, aluno da rede municipal, foi suspenso da Escola Municipal Vera Helena Trinta Pulcinelli por mais de uma semana depois de ser acusado de homofobia por um professor. O docente registrou boletim de ocorrência pela internet e o caso foi encaminhado à única delegacia da cidade. A mãe do estudante não recebeu qualquer informação da Prefeitura, da unidade de ensino ou das autoridades de segurança.
No começo do ano, a Justiça obrigou a Prefeitura de Ibaté a conceder professor auxiliar especializado e habilitado a todos os alunos da escola que necessitem desse atendimento. Além de não obedecer à decisão da Justiça, a Prefeitura recorreu e nenhum estudante tem assistência especializada. A história está publicada em detalhes aqui no blog Vencer Limites.
No cenário da educação inclusiva falta apoio aos professores e oferta de formação específica, não há estrutura para atendimento especializado, permanece a carência de recursos de acessibilidade.
Oportunistas usam essas lacunas para infiltrar ideias, invadir o espaço de educadores, iludir famílias sem esperanças e fazer mães e pais acreditarem que terão a possibilidade de escolher para onde sua prole, principalmente crianças com deficiência intelectual, será encaminhada.
Pior, tratar a diversidade como algo externo, alheio, não pertencente, mas tolerado porque assim exigem os novos tempos, fortalece todos os preconceitos e estimula manifestações racistas, capacitistas, homofóbicas e discriminatórias.
Sabemos que crianças e adolescentes aprendem muito mais quando adultos ao redor não percebem o que estão ensinando. Manifestar ódio, racismo, capacitismo, homofobia, preconceito e discriminação será improvável sem um exemplo, mas a violência contra a diversidade invade escolas e redes sociais, transferida e perpetuada por ações que divergem em todos os aspectos do conceitos mais básicos da inclusão.