O Irã voltou a vigiar o uso de hijab por mulheres que estão dentro de automóveis nas ruas do país, segundo informou a mídia local nesta segunda-feira, 2. O endurecimento da vigilância do vestuário islâmico acontece após um breve período de moderação, obtido pelos manifestantes que estão nas ruas do país há mais de 100 dias em protestos que começaram por causa da morte de Mahsa Amini e evoluíram agregando outras demandas sociais.
Mahsa, uma jovem curda de 22 anos, morreu no dia 16 de setembro em uma prisão iraniana depois de ter sido presa pela polícia moral islâmica por supostamente violar o código de vestimenta imposto às mulheres do país. A repercussão da sua morte, da qual ativistas de direitos humanos atribuem a supostos maus tratos dos policiais, levou as autoridades a decretar o fim da polícia da moralidade e a afrouxar a vigilância.
Um funcionário do alto escalão do governo iraniano declarou à agência de notícias iraniana Fars que a polícia retornou com o programa de vigilância, nomeado de Nazer-1 ("vigilância" em persa), em todo o país. De acordo com o governo, as mulheres que não estiverem de hijab dentro do carro receberão uma mensagem no celular com o seguinte texto: "Foi detectada a ausência de velamento no seu automóvel. É preciso respeitar as normas da sociedade e não repetir esse ato". A mensagem ainda adverte que medidas judiciais serão aplicadas caso a situação se repita.
O programa foi implementado em 2020 para ser exercido pela Gasht-e Ershad ("patrulhas de orientação" em persa), como é chamada a polícia moral do país. No início de dezembro de 2022, o procurador-geral do Irã, Mohammad Jafar Montazeri, afirmou que as unidades policiais foram dissolvidas e a vigilância, revisada.
Os manifestantes e organizações de direitos humanos estavam céticos em relação ao anúncio de Jafar Montazeri por ter sido uma resposta a uma pergunta feita durante uma coletiva de imprensa e não uma diretiva do Ministério do Interior.
Manifestante é condenado a morte
Em paralelo ao retorno da vigilância mais rigorosa, a Suprema Corte do Irã confirmou nesta segunda-feira a condenação à morte de um homem envolvido nos protestos atuais do país. Segundo a agência judiciária iraniana Mizan, o homem feriu um agente de segurança com uma faca e participou de um protesto na cidade de Pakdasht que acabou com um incêndio na sede do poder local. A agência também diz que ele foi condenado porque "semeou o terror entre os cidadãos".
A Justiça iraniana afirma ter condenado até dezembro 11 pessoas à morte pela participação desses em protestos, mas organizações de direitos humanos acreditam que o número é maior.
Entenda os protestos do Irã
Após a morte de Mahsa Amini, milhares de mulheres do Irã, sobretudo jovens, foram às ruas e queimaram as vestes islâmicas numa das maiores demonstrações de desafio ao governo islâmico e reivindicação de mais liberdades individuais. As manifestações evoluíram e outros setores importantes do país, como os trabalhadores do petróleo, aderiram com outras demandas, mais relacionadas à situação socioeconômica do país.
Os gritos ouvidos nas ruas carregam os lemas "Mulheres, Vida, Liberdade" (ou Zan, Zendeghi, Azadi, em árabe) e "Morte ao ditador", em referência ao aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.
Em resposta, forças de segurança do país atiraram à luz do dia contra iranianos, como mostram vídeos espalhados nas redes sociais e checados por diversas organizações e jornais ocidentais, como o The New York Times, e perseguiram manifestantes. Sem a desmobilização esperada, o governo chegou a ceder e enfraquecer a vigilância temporariamente. /AFP