O ano de 2023 ainda não acabou, mas já faz ocupa lugar de honra na lista dos mais importantes na trajetória de Isabel Fillardis. "Foram muitos marcos e datas emblemáticas. Me sinto feliz, plena e realizada em várias frentes da minha vida", comemora a atriz carioca, que festejou seu 50º aniversário em agosto rodeada de amor - da família, do namorado (o ator Well Aguiar) e dos colegas de "Amor Perfeito", novela da faixa das 18h cujo último capítulo foi ao ar no dia 22 de setembro.
"Amor Perfeito" marcou não só o retorno de Isabel Fillardis às produções da Rede Globo, como também seus 30 anos de carreira. Ela estreou em 1993 como a encantadora Ritinha de "Renascer", papel pelo qual até hoje é reconhecida e lembrada - e que também motiva a torcida, entre os que acompanharam a novela de Benedito Ruy Barbosa, para que a atriz faça ao menos uma participação especial no remake previsto para estrear em 2024.
Até o sucesso estrondoso de Isabel em "Renascer", poucas atrizes negras jovens haviam tido a chance de se destacarem na TV. Ela abriu as portas para que nomes como Taís Araújo, Cris Vianna e Sheron Menezzes pudessem, pouco a pouco, construir seus próprios caminhos.
É por isso que, três décadas depois, Isabel Fillardis se sente tão orgulhosa de fazer parte de um momento histórico da TV. "Em 2023 tivemos três novelas no ar na Globo, ao mesmo tempo, com protagonistas negros. Foi uma revolução negra, aliás, não só uma revolução, como uma evolução do nosso protagonismo. E já não era sem tempo, uma vez que o Brasil é majoritariamente negro e quer ser visto e se identificar com os artistas e personagens que vê nas novelas. Ocupamos espaços e tenho pena de quem ainda insistir em negá-los", afirma.
Segundo a atriz, "Amor Perfeito" lhe proporcionou diversas vivências valiosas. A primeira foi contracenar com artistas negros das mais diversas faixas etárias e experiências - de veteranos como Mestre Ivamar, Alan Rocha e Tony Tornado a novos talentos como Diogo Almeida, Bárbara Sut e Levi Asaf, o inesquecível Marcelino.
"Também foi ótimo poder contar a história do povo preto no Brasil na década de 1940 da maneira mais real possível, sem representações equivocadas até então vistas como os cabelos alisados, por exemplo. A novela mostrou várias famílias pretas e suas complexidades de modo fiel", relata a atriz que, por último, celebra a oportunidade de sua personagem, Aparecida, ter brindado ao público com outro de seus dons ao público: cantar.
A interpretação da clássica "Ave Maria", de Schubert, que costuma ser comovente por si só, soa duplamente emocionante ao lembrar que, há dez anos, Isabel recebia o diagnóstico de câncer de língua logo após dar à luz seu terceiro filho.
"Eu não sabia se poderia voltar a cantar ou até mesmo falar normalmente. Eu temi, é claro, não só as sequelas como também a própria possibilidade de morrer. Mas aquele momento de saúde fragilizada mudou a minha perspectiva e funcionou como uma espécie de despertar. Decidi não silenciar nem negar minhas dores, lutar com humanidade e equilíbrio e cuidar de mim e me tratar da melhor forma possível", conta.
Isabel é mãe de Analuz, de 22 anos; Jamal Anuar, 20, e Kalel, de dez. O filho do meio tem Síndrome de West, um tipo epilepsia que impacta o desenvolvimento mental e motor e o impede de falar e andar. Por conta dos cuidados intensivos na infância de Jamal Anuar, que sofria crises epiléticas constantes, Isabel já admitiu em entrevistas que acabou se distanciando da filha mais velha na época. Após muita terapia dos dois lados, as duas se dão bem e são bastante próximas.
Analuz recentemente foi diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Kalel é fruto de uma gravidez bem complicada e tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). "Cada um tem suas especificidades e necessidades, então, posso dizer que sou três tipos de mãe em uma só. A maternidade é um aprendizado profundo e constante. Sei que errei em alguns momentos da vida, mas também entendo que fiz o melhor que eu podia com as ferramentas que tinha e conhecia naquelas ocasiões", afirma.
E completa: "Eu me achava frágil, mas diante de tantos desafios e tantas superações, passei a me reconhecer ao longo do tempo como uma mulher forte. Afinal de contas, cada um de nós, com seu poder e força, é que pode transformar positivamente a realidade", diz.
A atriz faz questão de dizer que sempre contou com uma base familiar forte e com sua fé ancestral. Ela é espírita e segue o candomblé e as sete linhas da umbanda. Em 2015, após 15 anos de casamento, Isabel se divorciou do engenheiro Júlio César Santos, pai de seus filhos, de forma amigável.
A leveza lapidada com o tempo é a marca registrada de suas relações interpessoais e da maneira de lidar com os altos e baixos não só da vida pessoal, mas da profissão também. Antes de enfrentar o câncer, a artista adquiriu Tireoidite de Hashimoto após o parto de Jamal Anuar - o que a levou a romper o contrato que tinha com a Rede Record na ocasião para cuidar de si e do filho.
Hoje, com a doença sob controle, curada do câncer, realizada com os filhos e com a carreira retomada, Isabel se sente plena, cheia de energia e projetos. Ela está em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) com a peça "Abismo de Rosas - Uma Comédia Policial", que deve viajar pelo Brasil no ano que vem, e já tem na manga outro espetáculo.
"Também vou estrear um longa-metragem sobre Madame Durocher, uma parteira famosa no Rio que foi a primeira mulher a entrar na Academia Imperial de Medicina, no século XIX. Faço a mesma personagem dos 18 aos 70 anos e vai ser um baita desafio", conta ela, que em 2024 também pretende lançar a autobiografia que vem escrevendo há um tempo.
"Quero que seja um livro de cabeceira para as mulheres. Não um exemplo, porque cada uma tem sua história, mas um farol que possa guiar as leitoras por um caminho de liberdade, autoestima e autoamor", avisa.