No mundo dinâmico das redes sociais, os influenciadores têm o poder de moldar opiniões, desafiar crenças arraigadas e abrir caminhos para a transformação. Em um movimento inovador, influencers com deficiência estão emergindo como catalisadores de uma mudança profunda na percepção das pessoas em relação à deficiência. Suas histórias autênticas, determinação, conteúdo educacional simples e mensagens de empoderamento estão pavimentando o caminho para uma sociedade mais inclusiva, e tudo isso, através de vídeos curtos e conteúdo simples nas redes.
Um dos principais protagonistas desse movimento é o potiguar Ivan Baron, 25 anos, um jovem que, aos 3 anos de idade, foi acometido por uma meningite viral, que como consequência, evoluiu para o quadro de paralisia cerebral. Diante dos desafios diários impostos pela sociedade que invisibiliza pessoas com deficiência, Ivan escolheu, desde 2018, utilizar as redes sociais para compartilhar sua jornada de vida e ensinar como tratar as pessoas com deficiência de maneira empática e respeitosa.
Com milhões de seguidores em plataformas como Instagram e TIktok, ele não apenas destaca os obstáculos que enfrenta diariamente, mas também traz relatos pessoais de superação, histórias e curiosidades, e expõe, de maneira didática, termos capacitistas, capacitismo recreativo, estrutural, entre outras pautas.
NÃO É MIMIMI! Algumas expressões Capacitistas mais usadas no dia a dia que falamos sem nem saber, agora vocês já sabem o porquê de evitar. Vamos aprender?
Humanizando experiências, desconstruindo mitos
A disseminação de informações desempenha um papel crucial na formação de opiniões e atitudes. No entanto, quando se trata de pessoas com deficiência, muitas vezes a desinformação, preconceito e estereótipos obscurece a compreensão real das suas vidas e desafios. Nesse contexto, a divulgação precisa ser vista como uma ferramenta poderosa na desconstrução de conceitos equivocados e na promoção de uma mentalidade inclusiva.
Ivan usa suas plataformas para desfazer mal-entendidos, apresentando uma perspectiva autêntica que vai além do rótulo da deficiência. Suas postagens não apenas educam, mas também incentivam a empatia e a humanização, pavimentando o caminho para uma sociedade mais inclusiva. “Ainda é muito difícil mudar pensamentos e comportamentos das pessoas, principalmente quando são enraizados durante uma vida toda, cabe a nós sabermos o jeito certo para provocar reflexões e mudança de paradigma. Acredito que com o tempo iremos conseguir.” relata Baron
Utilizando as redes sociais como uma vitrine para ilustrar manifestações de capacitismo em diferentes cenários, com o decorrer do tempo, seus vídeos adquiriram novos matizes e abraçaram uma missão de inclusão. Nos dias atuais, suas publicações são acompanhadas por legendas e incorporam a janela de Libras.
Eu tenho uma duvida...
A influência de Ivan transcende a mera estatística de seguidores ou curtidas. Reconhecido como “influenciador da inclusão” e com a crescente repercussão nas redes sociais, Baron ampliou seu alcance, passando a ministrar palestras sobre o capacitismo. Essas palestras, agora realizadas em escolas e diversas outras instituições em todo o país, representam um marco em sua trajetória de conscientização, em que o foco é informar e desfazer estereótipos “Quando nós calamos diante a atos preconceituosos e não procuramos expor a realidade, mais estereotipado ele se tornará para a sociedade. Não podemos deixar de falar sobre o assunto.” afirma Baron.
Coletivo Acessibillíndígena: Fortalecendo Vozes Indígenas com Deficiência
O coletivo "Acessibillíndígena Indígena" destaca a importância de abordagens originárias para a defesa da acessibilidade. Fundado em 2022, a iniciativa lança luz sobre as experiências únicas das pessoas indígenas com deficiência, que muitas vezes enfrentam barreiras não apenas relacionadas à deficiência, mas também à marginalização cultural e histórica. Ao compartilhar suas histórias e lutar por mudanças, levar pautas sobre acessibilidade para grandes eventos, esses influenciadores estão pavimentando o caminho para uma inclusão mais verdadeira e sensível às diversas realidades.
A necessidade de iniciativas originárias não pode ser subestimada. Ao entender as experiências das pessoas indígenas com deficiência a partir de suas próprias perspectivas, a sociedade pode abordar questões que podem ter sido negligenciadas em abordagens mais generalizadas. “Não faz muito tempo que o assunto sobre indígenas com deficiência tem sido discutido no Brasil, para sermos sinceras, esse debate só tomou a proporção que tem hoje, por causa do movimento do Coletivo. Sendo indígena ou não, é extremamente importante que o movimento se una em prol da conscientização sobre as pessoas com deficiência, sobretudo a conscientização da existência de indígenas com deficiência.” relata a co-fundadora da iniciativa, Siana Tentear Guajajara, mulher indigena com deficiência.
O coletivo, pertencente a vários povos, expõe em seu instagram, suas movimentações, palestras, participações em eventos, e também suas conquistas, como o destaque da categoria Educação e Oportunidades, do Pilar Educação, do Prêmio Sim à Igualdade Racial 2023.
A exposição adequada da situação das pessoas com deficiência visa desconstruir mitos e equívocos que perpetuam a ignorância e a marginalização. Quando informações precisas e baseadas em fatos são divulgadas, a sociedade é convidada a entender as dificuldades enfrentadas por essa comunidade de maneira holística e empática. Isso não apenas auxilia na redução de preconceitos, mas também fortalece a capacidade das pessoas de formar opiniões informadas. E quando um coletivo indigena se fortalece para também falar da pauta, a promoção de conhecimento é ainda maior.
O coletivo não apenas desafia as percepções convencionais, mas também destaca a necessidade de inclusão abrangente, considerando as identidades culturais e étnicas. “Dentro dos territórios, esse tema ainda está sendo difundido e pouco a pouco vamos ganhando espaço para mostrar que ter deficiência não é um problema, não é castigo, e que a deficiência faz parte da diversidade humana.” afirma Siana, que acrescenta a importância da sabedoria ancestral “É extremamente importante reconhecer a luta dos parentes com deficiência mais velhos que abriram caminhos sobre esse tema em seus territórios, e já estavam aqui muito antes de nós. Apesar do movimento ser fragmentado, nós também devemos respeito à comunidade como um todo por toda a luta e garantia de direitos conquistados até aqui.”
“Luta Anticapacitista precisa ser vista de uma maneira transversal nos conteúdos.”
A luta pela igualdade e inclusão das pessoas com deficiência é um chamado urgente e essencial em nossa sociedade. No entanto, essa luta não pode ser restrita a um único nicho ou contexto. Para que essa luta seja eficaz e impactante, ela não pode ser limitada a discussões ou atividades específicas relacionadas à deficiência.
Em vez disso, deve ser incorporada de maneira interligada em todos os tipos de conteúdo, sejam eles relacionados à mídia, entretenimento, educação, política ou qualquer outro setor, até mesmo em perfis de pessoas influentes, que não são PcD, como afirma Ivan Baron “Nós precisamos ter responsabilidade social e começar a usar nossa influência para algo benéfico a sociedade, independente do nicho que você atua. E eu falo isso porque é de suma importância esses/as influencers com milhões de seguidores e que não possuem deficiência, trazerem o debate também da Inclusão e luta Anticapacitista de uma maneira transversal nos seus conteúdos.”
A luta anticapacitista deve ser vista como uma missão coletiva, uma responsabilidade compartilhada que envolve educadores, legisladores, instituições e cada membro da sociedade. Ela deve se manifestar na criação de ambientes acessíveis, no fornecimento de oportunidades iguais, na promoção de educação inclusiva e na conscientização sobre as necessidades e desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência. A visibilidade dos influenciadores é valiosa, mas é apenas um ponto de partida; para alcançar uma transformação duradoura, cada um de nós deve adotar essa causa em nosso próprio papel e contexto.
Ivan Baron e Acessibilíndigena representam apenas dois exemplos do crescente número de influenciadores que estão mudando a narrativa em torno da deficiência. Com cada postagem, eles estão redefinindo o conceito de beleza, talento e potencial, provando que a deficiência não é uma barreira. Suas histórias são um lembrete poderoso de que todos merecem respeito, oportunidades e visibilidade.
À medida que a sociedade avança em direção a uma mentalidade mais inclusiva, esses influenciadores estão pavimentando o caminho para um futuro em que a diversidade é celebrada e as barreiras são derrubadas. A luta anticapacitista não é um fardo para ser carregado por um grupo selecionado; é uma jornada que, quando compartilhada por todos, nos levará a uma sociedade mais justa, inclusiva e compassiva. Somente então podemos garantir que o futuro será caracterizado não por limitações impostas, mas por possibilidades inexploradas e igualdade genuína para todos.