Um jornalista de 44 anos foi expulso da área comum de um café localizado em um shopping na Zona Noroeste de São Paulo, enquanto aguardava pela namorada. O caso aconteceu na última quarta-feira, 5. Ao Terra, Eliabe Vicente dos Santos afirma que foi vítima de racismo, depois que uma funcionária exigiu que ele deixasse o local. Eliabe é um homem negro, usa barba e estava com um boné.
O caso aconteceu em frente a uma unidade do McCafé, empresa do grupo McDonald's, situada no Shopping Tietê Plaza. Eliabe conta que tinha combinado de se encontrar com a namorada no shopping e que a aguardava no local, onde iria tomar um café antes de seguir para o jantar.
"Eu sentei na área do café, minha namorada chegou, me deu um beijo e disse que precisava ir ao banheiro. Assim que ela saiu, a moça veio com um cardápio. Eu perguntei se podia esperar minha namorada voltar e ela disse: 'Sinto muito, o senhor não pode ficar aqui, é só para cliente'", relata o jornalista.
Ele conta que explicou o porquê de não fazer o pedido, já que estava aguardando o retorno da namorada. No entanto, a funcionária voltou a exigir que o jornalista saísse da mesa.
"Se eu estou num shopping, eu sou cliente o tempo todo. O detalhe de eu não ser cliente é: primeiro, que eu sou preto. Segundo, eu estava de moletom, uma camiseta de samba e boné, ou seja, o estereótipo de alguém que, segundo eles, não pode sentar para tomar um café no McCafé. Foi assim que eu me senti", desabafa Eliabe.
Após o ocorrido, o jornalista acionou o serviço de atendimento ao consumidor do shopping, que pediu um prazo de cinco dias para averiguar o caso. Em contato com uma assessora de imprensa do espaço, Eliabe foi informado de que "em breve" teria uma "resposta satisfatória".
"Eu falei que não quero uma resposta satisfatória, eu quero uma ação do shopping, saber o que vão fazer para punir administrativamente uma loja que destrata o cliente pela cor da pele, pela roupa que está vestindo", afirma o jornalista.
Segundo Eliabe, a administração pediu mais tempo para um posicionamento sobre o caso, mas ele recusou. "Eu sou vítima e eu vou dar mais tempo para quê? O que ela faria se fosse vítima de um crime? Porque racismo é crime, e eu tenho nojo de quem é racista", finaliza.
Após o caso, Eliabe registrou a denúncia de crime de racismo junto à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo e à Ouvidoria da Secretaria de Justiça e Cidadania estadual.
Posicionamento
Ao Terra, a assessoria do McCafé afirma que "repudia toda e qualquer forma de preconceito e que tem um compromisso inegociável com a promoção de um ambiente respeitoso e inclusivo em todas as suas unidades". A empresa aponta, também, que ao tomar conhecimento do relato do cliente, iniciou imediatamente a apuração interna com o franqueado para eventuais medidas necessárias.
Em nota, a administração do Shopping Tietê Plaza aponta que "repudia qualquer forma de preconceito social", seja racial, de gênero, etária ou qualquer outra. O estabelecimento diz ainda que a igualdade de direitos é prioridade na sua operação e a base de uma sociedade justa e desenvolvida.
"Assim que tomou conhecimento do relato do cliente, o empreendimento notificou o lojista e abriu sindicância interna para apuração dos fatos e tomada de providências", continua a nota.
O shopping não informou prazo para conclusão da sindicância, nem providências possíveis para casos de racismo.