Jovem é chamada de 'sapatão dos infernos' em competição de crossfit e denuncia homofobia

Xingamentos e palavrões foram gravados durante transmissão do evento, no Litoral de SP; confira vídeo

20 out 2022 - 12h11
(atualizado às 12h16)

O que seria a primeira experiência de Giovanna Padovani, de 22 anos, como juíza em um campeonato regional de crossfit, se tornou um caso de denúncia de homofobia. Durante o torneio, no Litoral de São Paulo, xingaram a jovem com ofensas como ‘jumenta’ e ‘sapatão dos infernos’, registradas em vídeo feito na transmissão do evento.

Jovem é vítima de homofobia em campeonato de crossfit no litoral de SP
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Giovanna é formada em educação física e tem o crossfit como parte essencial de sua rotina desde 2019. Tendo, inclusive, conhecido sua noiva na modalidade. Ela trabalha como professora em uma academia de São Vicente e foi selecionada para atuar na arbitragem do Mugo Games 2022, uma das principais competições da região, no último domingo, 16, em Praia Grande.

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Em entrevista ao Terra, a jovem conta que as ofensas aconteceram enquanto ela arbitrava uma prova de trio de “RX’ masculino - um dos níveis mais elevados entre as categorias do crossfit. Ao ter desvalidado algumas repetições dos atletas, com ‘no reps’, a torcida que acompanhava a prova se irritou e manifestou esse sentimento de forma preconceituosa.

“Me chamaram de sapatão do caralh*, jumenta, sapatão dos infernos e começaram a chamar o head judge [profissional que chefia os árbitros], dizendo que ‘ele ainda é capaz de ficar do lado dessa sapatão’”, relata Giovanna.

Giovanna Pandovani desabafa sobre caso de homofobia que sofreu em torneio de crossfit
Giovanna Pandovani desabafa sobre caso de homofobia que sofreu em torneio de crossfit
Foto: Arquivo pessoal/Giovanna Pandovani

A profissional diz que nunca havia sofrido uma agressão tão explícita dessa forma. “No momento eu reparei nos xingamentos. Mas como é uma competição muito rápida, mantive meu papel profissional para não perder o foco do que estava fazendo”, conta.

Quando o campeonato acabou, Giovanna não comunicou os responsáveis imediatamente. Sua ficha só caiu quando viu, no dia seguinte, a gravação do momento publicada nas redes sociais do torneio. Com provas em mãos, a jovem decidiu se pronunciar e tomar as providências cabíveis.

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Após entrar em contato direto com uma advogada, com a Mugo Games e com a Digital Score, equipe de arbitragem que integrou, o vídeo foi retirado do ar. O Terra teve acesso ao material, com 11 minutos de duração, que expõe os ataques.

Giovanna publicou um vídeo de esclarecimento do ocorrido em suas redes sociais, a segunda-feira, 17. Depois, com mais provas coletadas, registrou um boletim de ocorrência no 1º DP de São Vicente, cidade em que mora, na quarta-feira, 19. As empresas envolvidas no caso seguem apoiando a jovem na busca pela identificação dos agressores.

Até a publicação desta reportagem, Giovanna conta que nenhuma das pessoas que a xingou procurou por ela. “Silêncio total”.

‘Modalidade para todos’

Uma das principais razões que fez Giovanna se apaixonar pelo crossfit foi ter encontrado uma comunidade aberta para todas as pessoas. “A modalidade é para todos, não tem exclusão. Sempre batemos na tecla de que quem quer treinar crossfit, treina, independente de qualquer coisa. É uma comunidade super aberta”, acredita.

Foi, inclusive, no crossfit que ela conheceu Thayna Máximo, sua noiva. “Ela treina comigo e, além de ser minha noiva, também é minha aluna”, brinca. Elas estão juntas há 1 ano e 4 meses e o crossfit é algo importante na vida do casal.

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Giovanna e Thayna se conheceram no crossfit e vivem romance há 1 ano e 4 meses
Foto: Arquivo pessoal/Giovanna Padovani

Acostumada a ser acolhida em um lugar que tem “todo mundo junto e misturado”, ela avalia o caso de homofobia como algo muito triste. 

“A galera do cross se sentiu pessoalmente atacada, justamente por o esporte não ter essa cara, essa característica. Foi algo que complicou e pesou para todo mundo”.

Em meio a isso, a jovem incentiva que pessoas que estão passando por uma situação do tipo ou que já sofreram por homofobia no esporte não se calem, exponham os agressores e resolvam o caso na Justiça.

“Não tenham medo e não abaixem a cabeça. Temos que ter orgulho de quem somos e saber que só estamos vivendo a nossa vida da melhor forma, sem prejudicar ninguém. É uma situação que não tem que ser vista como ‘normal’ ou ‘mimimi’, como estão dizendo algumas pessoas", deixa como recado.

Notas de repúdio

A organização da Mugo Games se manifestou nas redes sociais, um dia após o ocorrido. Foi feita uma nota de repúdio contra “ toda e qualquer discriminação, especialmente homofobia, que caracteriza-se como crime”.

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“O fato chegou ao nosso conhecimento, através de vídeo com áudio nítido e claro, caracterizando o crime supramencionado. Nosso evento é baseado em princípios e valores morais e sociais, além de inclusivos, de modo a tratar todas as pessoas, atletas ou não, de forma igualitária”, ressaltou a organização.

A Mugo Games se solidarizou com Giovanna e se colocou à disposição para prestar todo o suporte necessário no seguimento da queixa.

A equipe do CrossTraining Lima, de Cubatão, responsável pela equipe que estava competindo sob arbitragem de Giovanna Padovani, também se manifestou em repúdio ao ocorrido. Quem gravou o vídeo foi Ivan Lima, que estava competindo e que também é dono do ‘box’.

Na publicação ele diz que sempre é um prazer participar de eventos do tipo, mas que o que aconteceu durante a prova que participou foi “lamentável" e "muito triste”.

“Não é o momento para entrar no mérito da prova, em si. Mas o fato é que aconteceram xingamentos, ofensas, que eu não concordo e sou totalmente contra. Nosso box é totalmente contra a homofobia, recebemos todos aqui de braços abertos”, ressaltou o atleta, que pede desculpas em nome da equipe.

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Fonte: Redação Terra
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