O grupo dos Lanceiros Negros, homens escravizados que participaram ativamente na Guerra Civil Farroupilha ao lado dos revolucionários, foi oficialmente incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, também conhecido como Livro de Aço, nesta segunda-feira (8). Essa honra foi estabelecida pela Lei 14.795/2024, publicada no Diário Oficial da União.
A legislação derivou-se do projeto (PL 3.493/2021) proposto pelo senador Paulo Paim (PT-RS) e aprovado na Comissão de Educação e Cultura (CE) do Senado em março de 2023, posteriormente aprovado na Câmara dos Deputados em novembro.
Esses novos heróis brasileiros desempenharam um papel crucial em um capítulo da história nacional, destacando-se por suas habilidades na montaria e no manuseio de lanças, elementos fundamentais nos batalhões revolucionários.
O jornalista e autor do livro "Kamba'race: afrodescendências no exército brasileiro", Sionei Ricardo Leão, salienta que essa atuação foi inédita ao formar uma cavalaria de escravizados tão organizada e habilidosa.
Leão destaca que os Lanceiros Negros surpreendem por serem uma tropa montada de escravizados, algo incomum na época, já que a posse de animais era geralmente associada às classes nobres. Isso confere uma singularidade à sua eficiência.
Embora tenham se destacado, a história desses heróis também foi marcada pelo Massacre dos Porongos, em que cerca de 100 Lanceiros Negros desarmados foram traídos e fuzilados pelos revolucionários meses antes da assinatura do tratado de paz.
Para Sionei, essa homenagem é crucial para a justiça histórica desses combatentes que, em sua maioria, lutavam pela liberdade e foram enganados. Muitos permaneceram escravizados até a Lei Áurea, enquanto outros foram incorporados ao Regimento de Cavalaria do Exército Imperial sem receber o devido reconhecimento prometido, algo que também ocorreu com outros grupos na mesma situação.