"Guardei todos os depoimentos dele, todos os textos falando e contando sobre a própria vida: infância, família, transição, cirurgias, sexualidade. Então, os depoimentos do livro foram escritos por ele mesmo", conta o fotógrafo Lucas Ávila, que acaba de lançar o livro “Paulo Vaz, Fragmentos”. A obra reúne textos inéditos e fotografias do policial e ativista trans Paulo Vaz, mais conhecido como Popo, que morreu em 2022.
A livro é independente e seu lucro será destinado à Associação Brasileira de Travestis e Transexuais (ANTRA) e ao Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat). "Como ele ajudava muita gente, nada mais justo do que ajudar associações que lutam pelo direito das pessoas trans no Brasil", afirma Lucas. Em entrevista ao Terra NÓS, o fotógrafo contou sobre o projeto e relembrou a vida e o legado do amigo Popo.
"Sem esperar nada em troca"
Em março de 2022, Lucas estava fora do país quando soube da morte de Paulo, que também era influenciador e policial civil. O fotógrafo lembra que tinha conversado com o amigo uma semana antes. "Depois do acontecimento trágico, fiquei pensando em alguma forma de trazer a memória dele de forma mais leve, para reafirmar as coisas que ele dizia e acreditava em vida", contou.
Segundo o fotógrafo, Paulo era uma pessoa positiva, que gostava de conversar com meninos trans que estavam no início da transição e levar mensagens inspiradoras a eles. "Certa vez fotografei um homem trans em Lima, no Peru, que me disse ter sido ajudado por ele. Comentei com Paulo, na época, e ele nem se lembrava. Fazia as coisas de coração, sem esperar nada em troca", contou o fotógrafo.
São todas essas vivências e experiências que o livro quer homenagear. E isso foi feito através dos textos que o próprio Paulo compartilhava com o fotógrafo amigo. Tudo começou em 2017, quando o ativista começou a ganhar visibilidade. Na época, ele foi convidado para possíveis participações em programas e recebeu listas de perguntas sobre ele, mas que nunca foram publicadas em nenhuma mídia. Algumas das fotos presentes no livro foram tiradas também em 2017, no primeiro ensaio de Paulo. Ao todo, o ativista fez quatro ensaios com Lucas.
Ainda em vida, Paulo disse ao amigo fotógrafo que tinha vontade de escrever um livro sobre sua vida e Lucas, brincando, disse: "Espera pelo menos fazer 50 anos porque ninguém merece ler uma biografia de alguém de 30 e poucos anos". Infelizmente, isso não foi possível. "Tenho certeza que ele está muito feliz com esse resultado", ressalta Lucas Ávila.
Homenagens
A família de Paulo foi essencial para fazer o projeto do livro acontecer, assim como Pedro HMC, que era marido do policial. "Tudo foi conversado antes, mostrado com muito cuidado. A ideia é trazer boas lembranças dele. A família ainda lida com o fato com muita dificuldade", disse. Carla Vaz, irmã de Paulo, foi uma das maiores apoiadoras do livro e escreveu um texto que consta na obra.
Este ano, Paulo Vaz ganhou uma praça com seu nome, a antiga Praça 4274, em Belo Horizonte, que agora se chama Praça Paulo Vaz, graças à deputada Duda Salabert. A conquista foi celebrada por familiares e amigos do ativista.