Lula defende legalização do aborto e aliados de Bolsonaro reagem

Ex-presiente disse que a proibição do aborto afeta principalmente as mulheres pobres

6 abr 2022 - 13h23
(atualizado às 14h38)
Ex-presidente classificou a pauta da família e dos valores pregados pelo governo atual como "muito atrasadas"
Ex-presidente classificou a pauta da família e dos valores pregados pelo governo atual como "muito atrasadas"
Foto: Reprodução/Instagram

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a legalização do aborto nesta terça-feira, 5, durante debate promovido pela Fundação Perseu Abramo e a pela entidade alemã Fundação Friedrich Ebert, em São Paulo. Para o petista, o aborto deveria ser uma "questão de saúde pública", já que escancara as desigualdades sociais da sociedade brasileira.

Sem citar diretamente o presidente Jair Bolsonaro, Lula classificou a pauta da família e dos valores pregados pelo governo atual como "muito atrasadas".

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Bolsonaristas e evangélicos reagiram às declarações. Ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos-DF) disse que a "pauta do ex-presidente sempre foi a cultura da morte". "Observem que ele hoje está defendendo o aborto, e amanhã ele com certeza defenderá a eutanásia e depois a eugenia", disse em sua rede social. Os deputados federais Marco Feliciano (PL-SP) e Guiga Peixoto (PSC-SP) e o deputado estadual Bruno Engler (MG-PRTB) também criticaram o petista.

"Acredito que pela primeira vez vi o Lula de quem sempre falei! Lula para maiores! Apoiando o aborto e convocando os seus para intimidarem parlamentares contrários ao seu comunismo! O ex-rei ficou nu!", escreveu Feliciano nas redes.

Desigualdade

Lula disse que a proibição do aborto afeta principalmente as mulheres pobres, o que enfatiza a questão de desigualdade social no País. "A mulher pobre fica cutucando o seu útero com uma agulha de crochê, tomando chá de qualquer coisa. Enquanto isso, a madame pode fazer um aborto em Paris, ela pode ir para Berlim, encontrar uma boa clínica e fazer um aborto. Aqui no Brasil, ela não faz porque é proibido", disse.

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O petista defendeu a mudança da legislação sobre o assunto. "Na verdade, [o aborto] deveria ser transformado em uma questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha. O que não dá é que a lei exija que ela tenha o filho e essa lei não exige cuidar", disse. Atualmente, o aborto é permitido no Brasil apenas em caso de risco à vida da mãe e de estupro.

O pré-candidato do PT classificou o debate atual, promovido pelo governo, sobre família e valores como algo "muito atrasado" e utilizado por um "homem que não tem moral para fazer isso". "O comportamento dele com as mulheres não lhe dá o direito desses valores. Ele não respeita. Ele acha que mulher é um objeto. É esse cidadão que tenta pregar valores para um grupo de brasileiros que acredita", disse.

Antes mesmo de assumir o cargo no Executivo, Bolsonaro levantava a bandeira da proibição do aborto no País, com forte teor religioso. Durante o mandato, o tema foi intensificado em seus discursos e defendido no pacote de pautas de costume do presidente, como uma forma de fidelizar o apoio dos seus apoiadores evangélicos, uma de suas principais bases eleitorais.

Histórico

O tema do aborto é recorrente nos discursos de Lula. Em recente entrevista à rádio "Super", de Minas, o petista defendeu que determinados temas polêmicos não devem ser discutidos com um viés de radicalização religiosa, principalmente aqueles que dependem de uma "evolução da sociedade".

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"Eu, Lula, pai de família, pai de 5 filhos, se perguntarem, eu falo que eu sou contra o aborto e sempre fui contra. Agora, eu, chefe de Estado tenho que tratar o aborto como uma questão de saúde pública. Então, o que eu penso pessoalmente é meu. É o meu pensamento", disse no dia 24 de março. "Agora, como é que eu vou tratar isso como chefe de Estado, aí eu tenho que tratar sempre, ou seja, todas as mulheres em igualdade de condições porque tem muita gente que é contra o aborto e corre para Paris, corre para Nova York para fazer um aborto escondido, então isso as famílias pobres morrem na rua."

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