Policiais civis da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) do Rio de Janeiro prenderam o anestesista colombiano Andres Eduardo Oñate Carrillo, na manhã desta segunda-feira, 16, após investigações o apontarem como suspeito de estuprar mulheres durante procedimentos cirúrgicos. Ele também é investigado pelo crime de pedofilia. O caso é semelhante ao do anestesista Giovanni Quintella, preso em 2022 no Rio por estuprar mulheres também sedadas.
Segundo a Polícia Civil informou ao Terra, Andres foi capturado em sua residência, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão. O anestesista responde ainda a inquérito por produção e armazenamento de cenas de abuso infantojuvenil.
As investigações tiveram início em dezembro de 2022 a partir do compartilhamento de informações pelo Serviço de Repressão a Crimes de Ódio e Pornografia Infantil (Sercopi) da Polícia Federal e contou com apoio da Inteligência do 2º Departamento de Polícia de Área (DPA) da Polícia Civil.
Os agentes constataram que o médico mantinha armazenado em seus compartimentos eletrônicos mais de 20 mil arquivos contendo imagens de abuso sexual envolvendo crianças a adolescentes. A análise do material chamou atenção pela gravidade e quantidade de arquivos, que incluíam até bebês com menos de um ano de vida.
"As investigações iniciaram com o objetivo de identificar um homem que possuía farto material de pornografia infantil pela internet. Foram encontrados quase 20 mil arquivos de pornografia infantil. Arquivos extremamente violentos, onde bebê com menos de um ano de idade eram obrigadas a se submeterem a relação sexual com adultos", reforçou o delegado titular da DCAV, Luiz Henrique Marques Pereira.
Com a quebra de dados em compartimentos do celular do suspeito, também foram encontrados vídeos feitos pelo próprio médico. Segundo a polícia, as imagens mostravam o homem estuprando pacientes anestesiadas durante procedimentos cirúrgicos em hospitais das redes pública e particular. Ele tinha o hábito de filmar o ato e colecionar as imagens.
"No decorrer das investigações foram encontrados dois vídeos que mostravam o suspeito estuprando duas pacientes anestesiadas para serem submetidas a procedimentos cirúrgicos. Ele trabalhava nos hospitais mais renomados do Rio de Janeiro. Agora foi encaminhado ao sistema penitenciário, onde permanecerá até a decisão final da Justiça", disse o delegado Luiz Henrique.
Um dos abusos aconteceu em dezembro de 2020 no Hospital Estadual dos Lagos Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema, durante uma cirurgia de laqueadura. O outro ocorreu em fevereiro de 2021 no Complexo Hospitalar Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, em uma cirurgia para retirada de útero.
Os vídeos dos crimes foram mostrados às vítimas, que se reconheceram, mas, por estarem sedadas no momento do crime, não sabiam que haviam sido estupradas pelo anestesista.
A partir de agora, a polícia afirma que espera avançar nas investigações, levantando todas as unidades nas quais o médico trabalha, e encontrar novas possíveis vítimas. A captura ocorreu após ações de inteligência e monitoramento pela equipe da DCAV. Todos os materiais apreendidos com o suspeito serão analisados.
"O que chama a atenção é que o material [pornográfico] colecionado pelo investigado espantou até os investigadores mais experientes daqui da delegacia. [Ver] um bebê de um ano sendo submetido a atos sexuais com um adulto, é algo que realmente nos espantou", lamentou o delegado.
O que dizem os hospitais
Por meio de nota enviada ao Terra, a direção do Hospital Estadual dos Lagos Nossa Senhora de Nazareth afirma que colaborou com a Polícia Civil na investigação que levou à prisão do médico anestesista. Todas as informações solicitadas pela polícia foram levantadas e repassadas. O médico deixou de atuar na unidade em setembro de 2021.
Já a Direção Geral do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) diz que está colaborando com a Coordenação de Relações Institucionais e Articulações com a Sociedade (Corin/UFRJ), que foi acionada a respeito do caso, que corre sob sigilo judicial.
Segundo a instituição, Andres Carrilho ingressou em um curso técnico-prático (semelhante a uma especialização) em março de 2018 e concluiu em fevereiro de 2021. Este curso tem uma vaga oferecida a estrangeiros e segue uma rígida seleção, sendo coordenado pela CAE (Coordenação de Atividades Educacionais). Suas etapas foram percorridas regularmente assim como o número de horas-aulas exigidas.
"A equipe da anestesiologia foi pega de surpresa, já que o indivíduo não apresentava nenhum desvio de comportamento em público e cumpria a função corretamente", afirma o hospital.
Cremerj
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informou que, após receber denúncias graves pela imprensa, abriu uma sindicância contra o médico colombiano. "Na época dos casos citados, Andres não possuía CRM e atuava de forma irregular, fato que também será apurado junto às unidades de saúde mencionadas", informou o Conselho.
Como medida preventiva, após a citação de Andres na prisão, o Cremerj afirma que já agiliza os trâmites para solicitar imediatamente a interdição cautelar dele, a fim de evitar novos riscos à sociedade.
Após a apuração dos fatos pelo Conselho, mediante análise da cópia do inquérito policial solicitada hoje, um processo ético-profissional (PEP) poderá ser instaurado para julgar o caso. Finalizado o rito processual, se considerado infrator, o médico pode sofrer a cassação do exercício profissional.
O Conselho reitera que considera as acusações gravíssimas e que o caso será apurado com todo rigor e celeridade.
O Terra tenta localizar a defesa do anestesista.