Campanha em Salvador alerta sobre o ciclo de violência doméstica e o comportamento manipulativo do agressor após episódios de violência contra a mulher.
Cartazes com mensagens de um homem pedindo que uma mulher chamada Maria volte para ele têm chamado a atenção nos últimos dias de quem passeia pelas ruas de Salvador. Embora Maria seja uma figura fictícia neste contexto, a mensagem transmitida pelos cartazes é um alerta sobre a violência doméstica e o ciclo de abuso vivido por muitas mulheres.
A campanha, idealizada pelo Instituto Glória, ONU Mulheres e a Prefeitura de Salvador em alusão ao Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado na última segunda-feira, 25, visa sensibilizar a população sobre as fases do ciclo de violência, especialmente o momento de arrependimento.
As frases estampadas nos cartazes, como “Maria, eu te amo. Desculpa aquele dia, eu estava nervoso. Volta para mim” e “Maria, me perdoa. Tudo que eu faço é só para te proteger. Volta para mim”, exemplificam uma dinâmica comum em relacionamentos abusivos, quando o agressor tenta reconquistar a confiança da vítima após um episódio de violência.
Embora pareçam demonstrações de arrependimento, esses gestos fazem parte do ciclo de violência doméstica. Essa fase, conhecida como “lua de mel”, cria a falsa sensação de que tudo será diferente, o que muitas vezes impede a vítima de romper com a relação abusiva.
Neste estágio, o agressor promete que vai mudar, tentando convencer a vítima de que a violência não irá se repetir. No entanto, esse comportamento é, na verdade, manipulativo, buscando restabelecer o controle emocional sobre a vítima e, frequentemente, é seguido por um retorno ao comportamento abusivo, reiniciando o ciclo.
Violência contra a mulher em dados
A violência contra a mulher é uma realidade alarmante no Brasil, como revela a pesquisa “Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio”, divulgada pelo Instituto Patrícia Galvão na última segunda-feira, 25. O levantamento aponta que 18% das mulheres já foram ameaçadas de morte por um ex-parceiro, sendo que esse índice é ainda maior entre mulheres negras, chegando a 26%. Além disso, seis em cada dez mulheres conhecem uma mulher que já sofreu esse tipo de ameaça.
Apesar do medo constante, que atinge 44% das entrevistadas, muitas tentam romper o ciclo: 60% afirmaram ter encerrado o relacionamento após ameaças. A pesquisa destaca ainda o papel das redes de apoio, com 64% das mulheres buscando a polícia ao saber de casos semelhantes.