"Me senti enojada, suja", diz ex-mulher de Arthur Lira, que o acusou de estupro

Jullyene Lins diz ter sido agredida e estuprada em 2006; presidente da Câmara foi inocentado pela justiça após mudanças de depoimentos

17 jul 2023 - 14h19
(atualizado em 24/6/2024 às 17h40)
"Sua puta, sua rapariga, você quer me desmoralizar?", teria dito Arthur Lira para Jullyene
"Sua puta, sua rapariga, você quer me desmoralizar?", teria dito Arthur Lira para Jullyene
Foto: REUTERS

Jullyene Lins, de 48 anos, é ex-esposa do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. Em novembro de 2006, ela afirmou ter sido agredida e estuprada por Lira, após ele saber que ela estava conhecendo um homem. Jullyene registrou um boletim de ocorrência na época e, nele, consta que Lira a puxou pelo cabelo e bateu nela. "Sua puta, sua rapariga, você quer me desmoralizar?", disse ele na ocasião, segundo a denúnia. As informações são do UOL.

No processo em que Jullyene movia contra Arthur Lira pela violência havia um laudo médico indicando machucados nos braços, pernas, rosto e em outras regiões do corpo. De acordo com peritos, teve "ofensa à integridade corporal e à saúde da paciente". O depoimento de quatro testemunhas também constava do processo. Em 2015, ele foi absolvido depois que Jullyene mudou o depoimento sobre a violência. Segundo ela, Lira a ameaçou para que retirasse a queixa, caso contrário, ela iria perder a guarda dos filhos, que hoje estão com 17 e 23 anos.

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De acordo com o boletim, o deputado a ameaçou de morte e disse "que ia matá-la para ficar com os filhos", enquanto batia nela. O "ciúme por a mesma estar almoçando com outra pessoa" foi o motivo das agressões.

Em 2021, Jullyene falou abertamente sobre as agressões que sofreu em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Em junho deste ano, à Agência Pública, a ex-mulher de Lira falou sobre o estupro q que demorou um tempo para entender que ela tinha sofrido essa violência.

"Tive o entendimento há uns três ou quatro anos, vendo reportagens e divulgações na internet sobre o assunto. Me senti enojada, suja, horrível", contou ao UOL.

Na época, Arthur Lira ligou para ela e perguntou o que Jullyene estava fazendo em um bar. Ele disse que ia na casa dela para conversarem sobre o assunto, mas isso não aconteceu. "Quando abri a porta, ele já me deu um soco. Começou a me chutar. Foi muito humilhante", disse ela.

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Segundo Jullyene, Lira a empurrou contra a parede. "Você está procurando homem? Não quer homem? Você tá vadia? Tá atrás de homem pra fu***?", disse o parlamentar antes de abusar sexualmente de Jullyene.

"Ele ficou por cima de mim. Eu esperneava, gritava, pedia socorro, enfim. Ele fez o ato e eu não consegui me desvencilhar. Só escapei no momento em que ele foi se arrumar. Mas já estava muito machucada. Corri para a cozinha. Vi a babá do meu filho e pedi para ligar para minha mãe. Mas ele me puxou pelo braço e continuou as agressões", contou ela.

Jullyene ainda disse que sua mãe foi quem tirou Lira de cima dela após chegar no local com o irmão de Jullyene. A babá confirmou a versão da ex-mulher do parlamentar em depoimento à polícia, e a mãe e o irmão também, declarando que a encontraram no chão.

Na delegacia de Maceió, Jullyene ficou com medo de denunciar o ex-marido. "Era um lugar cheio de homens, eu ia falar de uma pessoa conhecida, que era deputado estadual. Eu ia falar que tinha sido violentada sexualmente e me responderiam: 'Mas ele é seu marido. Qual o problema?'", relatou.

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Arthur Lira não apareceu na Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos das Mulheres mesmo tendo sido intimado duas vezes para dar o seu depoimento. No processo, o desembargador Orlando Monteiro Cavalcanti Manso contou que Lira disse "Eu recebo já essa merda" quando um oficial de Justiça foi entregar a intimação a ele. Depois desse episódio, o deputado foi afastado de suas funções, mas não foi punido, mesmo com Manso tendo dado voz de prisão por "coação do curso do processo". "Tornou-se clarividente a personalidade violenta do réu, não só com sua ex-esposa", relatou o desembargador durante o processo.

Nove anos depois da denúncia de Jullyene, Arthur Lira foi absolvido em 2015. Os depoimentos de Jullyene, da babá e da família da vítima foram alterados. "Ele foi à minha casa, me ameaçou. Não sei nem como conseguiu entrar no condomínio. Bateu na mesa e eu até assustei. Perguntei o que estava fazendo ali, e ele falou que eu ia mudar meu depoimento, falar que me enganei, que estava medicada, alguma coisa, ou iria tirar meus filhos de mim", contou o motivo.

De acordo com Jullyene, ele dizia que iria acabar com a vida dela e tirar os filhos dela, com quem ela não tem contato atualmente. Após as ameaças, ela pediu que sua família e a babá também fizessem o mesmo e mudassem os depoimentos. "Sou responsável por isso e não me isento da minha culpa", disse ao UOL.

Sobre abrir um novo processo contra o deputado Arthur Lira, Jullyene não soube responder. "Tenho que falar com meus advogados. Eles estão vendo como podemos proceder, porque ele já foi inocentado. Então não sei se ainda dá ou se vai valer a pena", contou ela, que decidiu falar sobre o que aconteceu para que pudesse "encorajar outras mulheres" a denunciarem seus agressores.

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Fonte: Redação Nós
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