Pelo menos três meninas indígenas do povo Yanomami, de 13 anos, morreram após sofrerem uma série de estupros por garimpeiros ilegais enquanto estavam embriagadas. É o que aponta o relatório da Hutukara Associação Yanomami (Hay), divulgado nesta segunda-feira, 11.
Elas estão entre as meninas e mulheres que sofrem com a violência e abuso sexual por parte dos homens que buscam ouro no Amazonas e Roraimanas Terras. São mais de 28,1 mil indígenas distribuídos em 371 aldeias sofrendo com a invasão e pressão exercida pelos garimpeiros, que disseminam doenças e desnutrição aos nativos.
As denúncias vieram a público no relatório Garimpo ilegal na terra indígena Yanomami e propostas para combatê-lo, produzido pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye'kwana. No documento, também fica evidente a falta de segurança, aumento de doenças nas aldeias e até mesmo sabotagem com o desvio de remédios destinados aos indígenas.
Invasão das terras
O drama vivido pelos indígenas Yanomami com o garimpo ilegal é uma consequência direta da invasão de terras em áreas de proteção ambiental, conforme aponta o relatório.
"As doenças trazidas pelos garimpeiros impedem as pessoas de trabalhar e cuidar dos filhos [...]; armas e bebidas alcoólicas introduzidos pelos garimpeiros acirram conflitos internos e deflagram guerras intercomunitárias. Além é claro, da destruição ambiental que reduz a disponibilidade de terra fértil, pescado e alimentos para coleta no entorno das casas", aponta o texto.
Sofrendo com a falta de alimento, os pesquisadores revelam que garimpeiros oferecem comida em troca de sexo com adolescentes indígenas na região do Rio Apiaú.
"Eles falam assim para os Yanomami: 'Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você irá comer'", diz um dos pesquisadores no relatório.
Conforme relatado, os garimpeiros também oferecem cachaça e embebedam as jovens indígenas para estuprá-las. "Os garimpeiros não conseguem transar com as mulheres que não tomaram cachaça", aponta um pesquisador no relatório, completando também que as mulheres temem "contrair doenças de pele" com as relações sexuais.
"Na visão da maioria das mulheres indígenas, os garimpeiros representam, uma terrível ameaça. São luxuriosos e violentos, produzindo um clima de terror e angústia permanente nas aldeias" diz um trecho.
Saúde
O relatório também destaca os prejuízos causados pelo garimpo ilegal ao direito à saúde dos indígenas. A invasão está associada à maior incidência de doenças infectocontagiosas entre as comunidades indígenas, como a malária, e à contaminação de mercúrio, com danos irreversíveis à saúde das pessoas das comunidades afetadas.
Além disso, a situação de insegurança imposta pelo aumento da circulação de garimpeiros armados nas diferentes regiões das Terras Yanomami tem causado transtornos ao atendimento à saúde às comunidades indígenas, com o total abandono de postos de saúde em alguns casos, como em Palimiu.
Também é comum a queixa do desvio de medicamentos reservados para os indígenas para atendimento de garimpeiros. Esses fatores potencializam os danos que resultam da desestruturação e má-gestão do atendimento à saúde indígena realizado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami.
Funai
Questionada sobre o relatório, a Fundação Nacional do Índio (Funai) disse que desconhece o estudo citado e que não comenta dados extraoficiais. Disse, também, que "o problema da mineração na área Yanomami é agravado, ainda, pelo aumento do número de garimpeiros venezuelanos na região, em razão do fluxo migratório de pessoas da Venezuela para o Brasil decorrente da crise humanitária".