"Meu livro é um chamado. Se você é uma pessoa preta, pobre, tem que reivindicar esses debates"

Arquiteta e urbanista Joice Berth lança publicação sobre direito à cidade e combate a desigualdades

6 jul 2023 - 05h00
Joice Berth se prepara para o lançamento do livro "Se a Cidade Fosse Nossa: Racismos, Falocentrismos e Opressões nas Cidades"
Joice Berth se prepara para o lançamento do livro "Se a Cidade Fosse Nossa: Racismos, Falocentrismos e Opressões nas Cidades"
Foto: Reprodução/Instagram/@joiceberth

A arquiteta, urbanista e colunista do Terra NÓS, Joice Berth, está lançando o livro "Se a Cidade Fosse Nossa: Racismos, Falocentrismos e Opressões nas Cidades", que olha para a ocupação das cidades sob uma perspectiva dos debates raciais, de gênero e da luta de classes. 

Nascida, criada e vivendo na cidade de São Paulo, Joice deu essa entrevista por videochamada, algo que se tornou comum durante a pandemia da Covid-19, e que segue uma realidade, em especial nos centros urbanos como a capital paulista, onde tanto repórter quanto entrevistada dedicariam algumas horas do seu dia em deslocamentos para um papo de 40 minutos. 

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Todo esse tempo está diretamente ligado a um lugar comum da arquitetura e urbanismo: a falta de planejamento. A expressão tão ultilizada encontra em Joice uma dissidente. "Não existe falta de planejamento, na verdade tudo faz parte de um planejamento excludente. As cidades foram planejadas para excluir alguns determinados grupos", dispara. 

E esses determinados grupos têm gênero, raça e classe. "As pessoas ainda confundem racismo com preconceito e preconceito é um comportamento social, que dita comportamentos. Preconceito é um sintoma do racismo, não o racismo em si", explica a pensadora.

Joice completa: "O racismo são as relações desiguais de poder entre raças. As pessoas falam 'só existe uma raça, a raça humana'. Em tese, sim. Mas, ao longo da história, foram sendo criadas estratificações a partir de fatores biológicos e, no Brasil, o racismo é estritamente direcionado à população negra e indígena, então, para pensar a cidade, é sempre importante pensar essas relações de poder dadas pela raça". 

Direito à cidade e o Plano Diretor

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Atualmente, além do trabalho na arquitetura e urbanismo e na escrita, Joice é assessora de comunicação do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) e vem pensado de forma ampla nas questões de políticas públicas e também na representatividade dos parlamentares. Na sua última coluna do Terra NÓS, inclusive, ela se debruçou sobre o Plano Diretor da Cidade de São Paulo, votado às pressas e sem participação popular. 

"Não ter pessoas deliberando o Plano Diretor junto do poder público é um plano de exclusão. Em nenhum momento a questão racial foi levada em consideração e, quando foi mencionada, foi por arquitetos brancos que nem chegaram perto do cerne da questão", aponta. 

É a partir desse pensamentos que a arquiteta provoca: "Meu livro é um chamado, se você é uma pessoa preta, pobre, tem que reivindicar esses debates de gênero, raça e classe. Tem que exigir do poder público, não votando em quem nao tem essa vivência, que não vai conseguir entender o que é a CPTM às 7 horas da manhã", afirma ela se referindo à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, conhecida pelo grande número de usuários. 

Joice reforça ainda que é preciso pensar a cidade de forma coletiva para que se possa avançar. "O  capitalismo estimula a individualidade. Ele é contra a coletividade, é hierarquico, verticalizado. Para a cidade funcionar, para ela ser de todo mundo, ela tem que ser coletiva, deliberativa", finaliza. 

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"Se a Cidade Fosse Nossa: Racismos, Falocentrismos e Opressões nas Cidades", será lançado nesta quinta-feira, 6, às 19h, na livraria Megafauna, no centro de São Paulo e contará com a preseça da autora, da atriz, cantora e apresentadora Larissa Luz e do artista e aducador Mauro Neri. 

Fonte: Redação Nós
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