Nas eleições deste ano, as mulheres representam 52,65% do eleitorado brasileiro, o que corresponde a um público total com pouco mais de 82 milhões de eleitoras que terão voto decisivo para os rumos do país nos próximos quatro anos.
Apesar do número expressivo, em relação à presença na política, as mulheres representam 34% do total de candidaturas, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em um recorte por raça, as mulheres negras (pretas e pardas, conforme critérios adotados pelo TSE) totalizam apenas cinco mil candidaturas num universo com mais de 20 mil candidaturas aptas.
Com objetivo de garantir maior visibilidade e diversidade em relação às candidaturas femininas, a iniciativa "Meu Voto Vale Muito" lança um site que explica a importância do voto para o estímulo das mulheres nos diversos setores da sociedade, além de dialogar com pautas progressistas e de inclusão de mulheres negras, indígenas, LGBTQIA+ e PCDs.
A campanha é uma iniciativa do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH) em conjunto com outras 17 redes e organizações com foco na pauta das mulheres e antirracista, incluindo o Instituto Geledés, Instituto Mulheres da Amazônia, Liga Brasileira de Lésbicas, entre outras.
Em pesquisa realizada em parceria com o Instituto Locomotiva, a campanha identificou os principais desafios das mulheres brasileiras na atualidade, dentre elas estão as dificuldades financeiras e a queda na qualidade de vida. O levantamento também identificou que as entrevistadas, de diferentes perfis e classes sociais, buscam por soluções concretas, mais do que posicionamentos ideológicos.
À Alma Preta Jornalismo, Flávia Quirino, jornalista e assessora de comunicação do CFEMEA, conta que, além das mulheres representarem mais da metade do eleitorado, elas também são a maioria das indecisas.
"Nesse cenário de tantas desilusões, ameaças e ódio sendo destilados, a Campanha Meu Voto Vale Muito, direcionada especialmente para as mulheres da classe trabalhadora, traz mensagens de valorização do voto e o que uma representação democrática pode alterar em suas vidas cotidianas", afirma Quirino.
Ainda conforme a pesquisa, no contexto "Pós-Pandemia", mesmo as mulheres que não foram impactadas diretamente pelo desemprego sofreram com consequências como queda de clientela (no caso das autônomas) e diminuição da renda. São mulheres cuja renda é significativa no orçamento doméstico, quando não representa sua totalidade.
Dentre as maiores demandas de políticas públicas identificadas pela pesquisa, as eleitoradas apontam questões como o aumento no número de creches, redução da carga horária de trabalho, aumento nos horários de atendimento em postos do SUS (Sistema Único de Saúde), auxílio de maior valor nos momentos de crise etc.
Tendo como personagem principal a Esperança Garra da Silva, que se configura como uma "mulher-multidão", a campanha apresenta 11 versões da personagem que representam como a diversidade é contemplada nas decisões políticas dos governantes e como as mulheres precisam estar atentas a como o voto pode reverberar na vida de cada uma delas.
Segundo Flávia Quirino, não há democracia sem a presença de mulheres negras nos espaços de decisão.
"Já passou da hora de democratizarmos os espaços de decisão, que atualmente não tem a cara do Brasil e nem da sua gente. As mulheres, o povo negro e o povo indígena - maioria da população, não está na fotografia do poder. Nós, mulheres negras, estamos na luta há séculos com nossa voz, nossos corpos e nossa experiência para o avanço de políticas públicas que de fato tragam mudanças reais e concretas para nossas vidas, tão aviltadas por uma sociedade capitalista, racista e machista", destaca a jornalista e assessora do CFEMEA.
Sobre a expectativa da campanha para o período pré e pós eleições, Quirino aponta a necessidade de derrubar o fascismo na atual política brasileira. "Mas também contribuir para que mais mulheres passem a acreditar na importância do seu voto e na participação da vida política do nosso país", finaliza.
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