Neta de ex-escravizada e inspiração para a família: conheça a primeira médica negra do Brasil

Maria Odília Teixeira, natural de São Félix do Paraguaçu, também foi a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia

7 jul 2024 - 05h00
Resumo
Maria Odília Teixeira, a primeira médica negra do Brasil, era filha do médico José Teixeira, um homem branco, e de Josephina Luiza Palma, uma mulher negra que teve a mãe escravizada. Ela morreu em 1970, aos 86 anos, e inspirou outros membros da família a seguirem os seus passos na medicina.
Maria Odília Teixeira se casou com o advogado Eusínio Lavigne e teve dois filhos
Maria Odília Teixeira se casou com o advogado Eusínio Lavigne e teve dois filhos
Foto: Reprodução/Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia

Há mais de 100 anos, em 15 de dezembro de 1909, uma mulher da Bahia se tornou a primeira médica negra do Brasil. Maria Odília Teixeira, que nasceu São Félix do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, em 1884, superou os desafios da época, marcada pelo racismo e machismo, e se formou pela Faculdade de Medicina da Bahia.

De origem humilde, ela era filha do médico José Teixeira, um homem branco, e de Josephina Luiza Palma, uma mulher negra que teve a mãe escravizada. Na faculdade, foi a única mulher entre os 48 alunos da turma e teve o irmão, Joaquim Pereira Teixeira, como tutor. Ele entrou na faculdade dois anos antes.

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Maria, que pesquisou sobre o tratamento da cirrose na faculdade, foi a sétima mulher a se formar pela Faculdade de Medicina da Bahia, voltando a morar perto da família após a conclusão do curso. Na época em que atuou como médica, alguns dos atendimentos eram monitorados pelo pai, o irmão ou outro médico, passando a trabalhar sozinha anos depois. O seu público era majoritariamente feminino.

Cinco anos depois da sua graduação, ela foi convidada a lecionar Clínica Obstétrica na mesma faculdade em que se formou. Assim, ela se tornou a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia.

Maria se casou com o advogado Eusínio Lavigne e teve dois filhos. Anos após o casamento, largou a medicina para se dedicar à família, apesar de não haver nenhuma exigência do marido, segundo historiadores.

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Eusínio entrou para a política e permaneceu alguns anos no cargo de prefeito de Ilhéus, cidade em que morava a família dele. No entanto, foi destituído do cargo em 1937, na ditadura do Estado Novo, sendo preso anos depois.

Maria Odília, que morreu em 1970, aos 86 anos, inspirou outros membros da família a seguirem seus passos na medicina. "Acredito que toda a minha paixão pelo cuidar veio da minha bisa Odília. Formar-se em Medicina sendo mulher negra há tanto tempo não deve ter sido fácil. Muita luta, muita força e muito amor”, disse a médica oftalmologista e bisneta de Maria Odília, Paula Lavigne, ao Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia.

Documentário

A história de Maria Odília Teixeira inspirou o documentário "Quem é essa mulher?", lançado nos dias 15 e 16 de junho na Mostra Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba. A história é narrada através dos olhos de Mayara Santos, mulher negra da periferia de Salvador e mestra em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O documentário, filmado em cinco cidades baianas, traça um paralelo entre as trajetórias de Maria Odília e Mayara. A obra também mostra uma entrevista com o filho primogênito de Maria, que tinha 100 anos quando foi entrevistado e faleceu pouco tempo depois.

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Fonte: Redação Nós
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