"Nos enxergam na plateia, mas não na arte", diz Giovanni Venturini sobre pessoas com nanismo

O ator de 32 anos estará na segunda temporada de "Justiça", do Globoplay, como o sobrinho de Julia Lemmertz e Murilo Benício

22 mar 2024 - 05h00
Resumo
O ator Giovanni Venturini ganhou reconhecimento internacional por seu papel no curta-metragem "Big Bang", que conta a história de um homem com nanismo que trabalha consertando fornos. Ele também estará na segunda temporada da série "Justiça".
Para Giovanni Venturini, é importante ser escalado para um papel pelo seu trabalho como ator, e não por ser uma pessoa com nanismo
Para Giovanni Venturini, é importante ser escalado para um papel pelo seu trabalho como ator, e não por ser uma pessoa com nanismo
Foto: Marta Torres/Divulgação

O ator Giovanni Venturini, de 32 anos, coleciona prêmios nacionais e internacionais como o protagonista do curta "Big Bang", que retrata a vivência de um homem com nanismo que trabalha consertando fornos. O trabalho rendeu visibilidade e permitiu que o ator se consolidasse na arte além do nanismo.

Venturini estará na segunda temporada da série "Justiça", que estreia em abril no Globoplay, como o sobrinho de Julia Lemmertz e Murilo Benício. "É um projeto muito importante porque o convite para fazer esse personagem veio muito pelo meu trabalho. É um personagem que não foi escrito sendo uma pessoa com nanismo e não fala sobre nanismo", afirmou Giovanni em entrevista ao Terra NÓS.

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"Vai ser importante as pessoas me verem nesse lugar e tirar esses estigmas de que pessoas com deficiência só podem fazer personagens com deficiência ou 'bonzinhos'. O meu personagem não é muito bem visto, não vou dizer que ele é o vilão da história, mas digamos que ele é o parceiro e o cúmplice de um dos vilões", contou.

Para chegar até este momento, Venturini precisou recusar muitos convites para interpretar personagens cômicos, que apenas serviam para estereotipar pessoas com nanismo. "A partir do momento que eu comecei a me posicionar no mercado artístico, dizendo 'não' e recusando convites, as pessoas começaram a me enxergar de uma forma diferente e os convites para esses personagens foram diminuindo", apontou.

"Acho que pelo momento atual da nossa sociedade e com as discussões sobre diversidade e capacitismo, temos avançado muito e isso reflete também no audiovisual. Hoje, consigo apontar onde estão os erros e muitos diretores e roteiristas me escutam, estão atentos para isso e conseguem mudar a forma como os personagens com nanismo são escritos."

Mesmo com grande produções no currículo, Venturini ainda precisa lidar com sets de filmagens não preparados para pessoas com deficiência
Foto: Hugo Faz/Divulgação

Sets de filmagem

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Apesar de ter um currículo com grandes produções, como "O Rei da TV", "Os Ausentes" e "Cúmplices de Um Resgate", o ator ainda precisa lidar com o preconceito estrutural em sets de filmagens e em teatros, que não oferecem suporte para pessoas com deficiência.

"Sempre é um preconceito mais velado. Todo mundo se diz muito inclusivo e atento à diversidade, mas, às vezes, o set não é adaptado, o banheiro e a pia são muito altos. A estrutura do teatro, muitas vezes, não é pensada para pessoas com deficiência. Nos enxergam apenas na plateia ou como espectadores, mas não na arte", destacou.

Por isso, Venturini acredita que o curta-metragem "Big Bang", que fala da luta de classes a partir de um personagem com nanismo que não carrega os estereótipos da deficiência, pode levar essa discussão para o público. "Também é a luta de corpos invisibilizados na sociedade. A minha presença no filme faz com que a história se potencialize e traga outras camadas para a discussão", afirmou ao Terra NÓS.

"Big Bang" marcou não só a carreira do ator, mas também sua vida. "O convite veio em um momento em que eu estava um pouco desanimado com a profissão. Estava recebendo muitos convites estereotipados e eu não tinha muitas oportunidades", disse.

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"Depois que Carlos Segundo, o diretor do curta, chegou com esse convite, costumo brincar que ele botou lenha no meu fogão, fazendo um paralelo com o filme. Ele reacendeu essa chama de seguir em frente e acreditar na minha carreira."

"Big Bang" ganhou os prêmios de Melhor Curta-Metragem no Festival de Cinema de Locarno 2022, na Suíça, Cine Ceará 2022 e Panorama Coisa de Cinema 2022. E Giovanni ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cinema de Brasília 2022.

"Ter todo esse reconhecimento dentro da academia brasileira de cinema é muito importante", ressalta.

Giovanni Venturini ganhou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cinema de Brasília 2022
Foto: Reprodução: Instagram/gioventurini

Trajetória

A trajetória de Giovanni Venturini começou na adolescência, por volta dos 16 anos. Natural do Estado de São Paulo, sempre soube que queria ser ator, e foi através de uma peça da escola que ele teve a oportunidade de subir em um palco pela primeira vez.

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"Lembro que eu esqueci o texto e improvisei. Eu me senti muito bem por ter improvisado e falei: 'Nossa, isso é ser ator'. Então, comecei a correr atrás dessa carreira tão sonhada", relembrou.

Mas na hora de decidir uma profissão no ensino médio, Giovanni ficou com medo de escolher a atuação por causa da pressão da sociedade. "Era toda aquela coisa da carreira de ator ser muito incerta e variar muito mês a mês."

Venturini se formou em Gestão de Turismo ao mesmo tempo em que trabalhava como ator na época. Em 2012, largou o emprego em um escritório e passou a viver exclusivamente da arte.

"Desde então, as coisas estão caminhando maravilhosamente bem. E acho que muito se deve ao fato de eu estar entregue 100% naquilo que eu queria fazer, sem me dividir entre duas profissões", disse.

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Audiovisual

"Eu comecei no teatro, mas hoje em dia eu tenho feito muito audiovisual, no cinema e na TV. E tenho gostado dessa nova abertura do mercado audiovisual para a diversidade."

Recentemente, ele terminou de gravar outra série do Globoplay, "Dias Perfeitos": "Ela traz uma história muito pesada e acho que a união da equipe dentro do set é importante para construir histórias intensas".

"Agora eu começo um novo processo dentro do teatro, chama-se Rotação. É um espetáculo que mistura dança e teatro, e vai estrear em Curitiba. Neste primeiro semestre, estarei mais voltado para o teatro", revelou.

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Fonte: Redação Nós
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