"O Brasil não está preparado para uma presidente negra", diz candidata Vera Lúcia

Empatada nas pesquisas com Simone Tebet (MDB), Vera Lúcia (PSTU) diz que não recebe a mesma visibilidade e o mesmo tratamento da concorrente

22 ago 2022 - 13h54
(atualizado às 16h04)
A foto mostra a candidata à presidência Vera Lúcia, do PSTU
A foto mostra a candidata à presidência Vera Lúcia, do PSTU
Foto: Imagem: Divulgação / Alma Preta

A socióloga pernambucana Vera Lúcia Pereira da Silva Salgado, candidata à presidência da república pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), afirmou que a sociedade brasileira ainda não está preparada para acolher e eleger uma presidente negra. Praticamente empatada com Simone Tebet (MDB), a candidata afirma não ser reconhecida como presidenciável.

A diferença entre Simone e Vera na última pesquisa Ipec, encomendada pela Rede Globo, era de apenas 1%, o que caracteriza empate, dentro da margem de erro. Simone aparece com 2% das intenções de voto, enquanto Vera possui 1%. A pesquisa foi divulgada no último dia 15 (segunda-feira). Dessa forma, não é a preferência do povo que diferencia as duas na campanha presidencial.

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Simone Tebet, uma mulher autodeclarada branca na plataforma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), faz parte do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido de centro-direita presidido atualmente pelo deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP). A legenda foi fundada em 1980, com o nome de PMDB, e possui mais de 2 milhões de filiados. Enquanto isso, Vera está em um dos partidos classificados como esquerda revolucionária. O PSTU foi fundado em 1994, como resultado de uma dissidência do PT, e possui pouco mais de 15 mil filiados. 

Depois da recente janela partidária, encerrada em 1º de abril, diversos deputados e senadores mudaram de partido político. O MDB e o PSD passaram a ter as maiores bancadas partidárias no Senado, com 12 senadores cada um. Já na Câmara, o MDB possui 37 parlamentares, compondo a sétima maior bancada da Casa. O PSTU, por sua vez, não tem representação no Congresso Nacional.

De acordo com a legislação, o tempo de horário eleitoral televisionado a que cada candidato à Presidência têm direito está relacionado ao tamanho da bancada eleita em 2018 para a Câmara dos Deputados e à abrangência das alianças nacionais. Já para os debates públicos, não há restrição. Toda e qualquer candidatura pode ser convidada a participar. No entanto, as emissoras são quem definem quantos e quais candidatos chamar. 

Sem tempo de televisão e sem verbas complementares ao fundo partidário, Vera se empenha em defender a sua candidatura por meio da doação de militantes do partido, vaquinhas e do fundo partidário. Segundo ela, a ausência de participação e reconhecimento dos grandes conglomerados de imprensa dá a sensação de que "apenas Simone é a candidata mulher à presidência". 

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"Ela tem tempo de televisão e é convidada para os debates em rede nacional durante a campanha. Nossa candidatura não. Nossa chapa é composta por uma mulher negra, como candidata a presidente, e uma mulher indígena, como vice. Essa falta de pluralidade nos meios de comunicação de massa cria um padrão, uma bolha. Nós não somos vistas", afirma Vera Lúcia. 

Ao todo, quatro mulheres concorrem à presidência este ano: Vera (PSTU), Tebet (MDB), Sofia Manzano (PCB) e Soraya Thronicke (União).

Candidaturas negras

Vera Lúcia e Marina Silva foram as únicas duas mulheres negras na história a concorrerem ao Palácio do Planalto. Nas últimas duas eleições presidenciais, em 2014 e 2018, o Brasil teve apenas quatro candidaturas de políticos negros à liderança do país, de um total de 24 candidatos nos dois pleitos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além de Vera Lúcia (2018) e Marina Silva (2014 e 2018), que se autodeclararam pretas, Cabo Daciolo (2018) se autodeclarou pardo. A quantidade de negros equivale a 16,6% do total de postulantes.

A candidata de 55 anos ressaltou que a participação de uma mulher negra da classe trabalhadora é desigual e precária, já que os grandes conglomerados partidários possuem muito recurso financeiro para bancar as suas candidaturas. O povo brasileiro só será representado no Congresso quando começar a ter oportunidade de concorrer em pé de igualdade com outros candidatos. 

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"Isso mostra que a própria democracia não é para todos. Nós somos maioria da população, maioria marginalizada, maioria encarcerada, maioria que usa o transporte público, a saúde pública. Nós somos o povo, mas não podemos ser representadas nos espaços deliberativos que pensam políticas públicas e se diz trabalhar pelo povo", explica. 

Vera tenta ser chefe do Executivo pela segunda vez. Em 2018, ela também disputou a vaga, obtendo 55.762 votos (0,05%). Na ocasião, sua chapa foi a primeira a concorrer à Presidência só com candidatos negros. Em 2022, Vera terá como vice a indígena Kunã Yporã, de 39 anos. Yporã é da etnia Tremembé e vem do estado do Maranhão.

Nascida em Inajá, no Sertão de Pernambuco, Vera foi datilógrafa, faxineira e garçonete. A pré-candidata também trabalhou em uma fábrica de calçados, onde se envolveu com o movimento sindical. Foi filiada ao PT, mas rompeu com o partido e ajudou a fundar o PSTU.

Além da presidência, a candidata já concorreu à governadora de Sergipe, à prefeita de Aracaju e à deputada federal. Após se mudar para São Paulo, Vera disputou a prefeitura da capital paulista em 2020.

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Programa de governo

"Os partidos que estão apoiando a candidatura de Lula desistiram de se posicionar", diz a concorrente ao Planalto. De acordo com a candidata, se colocar como uma opção ao Executivo é fundamental para que as classes políticas e a classe trabalhadora de enxergue na luta. "Nossa candidatura é necessária". 

Com fortes críticas ao governo de Geraldo Alckmin, atual candidato a vice-presidente com Luiz Inácio Lula da Silva, Vera afirma que a democracia precisa evoluir e "tirar do poder os homens brancos e ricos". Para tal, o seu plano de governo tem ações baseadas na implementação de um regime socialista dirigido por trabalhadores. Para ela, o importante é a reforma agrária e um amplo processo de estatização. 

O programa é centrado em cinco propostas: o combate imediato à fome e à miséria, a defesa da soberania, o combate a todas as formas de opressão, a defesa do meio ambiente e o ataque às propriedades das grandes empresas.

Ela quer aumentar o salário mínimo alcançando até R$ 6.388,00 e garantir que todos os empregados tenham direitos trabalhistas. O fomento ao trabalho viria de obras públicas de construção e saneamento. O programa propõe um "auxílio emergencial" de valor equivalente ao salário mínimo para todos os desempregados, até o momento em que se atingirá o pleno emprego. 

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Já na segurança pública, que assola exponencialmente a população negra, ela diz que "a violência urbana é um subproduto do desemprego, subemprego e da criminalização das drogas". A solução seria o pleno emprego, o fim da precarização do trabalho e o aumento salarial.

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