Apesar do termo pardo ser comumente usado por pessoas na hora de declarar sua cor — e até mesmo considerado para o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, existe muita discussão sobre o fato de as pessoas serem pardas ou apenas pretas com tons diferentes de pele.
É fato que, em um país tão diverso e miscigenado quanto o Brasil, com pessoas que descendem de diversas etnias e muitas misturas entre elas, fica difícil definir qual a cor da pele de sua população.
Porém, tanto por uma questão identitária quanto pela questão estatística, é preciso entender qual é a diferença do pardo para os outros grupos de cores considerados pelo IBGE e utilizados para descrever a população.
O que é pardo?
O termo pardo foi usado pela primeira vez pelos portugueses após a chegada ao Brasil, em 1500.
Um dos primeiros registros vem das cartas escritas por Pero Vaz de Caminha, em que ele usava o termo para descrever os povos indígenas originários do Brasil, que não eram tão claros para serem considerados brancos como os europeus e nem tão escuros para serem considerados negros como os escravizados por eles.
Com o passar do tempo, o termo — que vem do latim "pardus" e também foi usado para batizar os pardais, aves vindas do Oriente Médio para a América — se adaptou para designar pessoas que nasciam da mistura entre indígenas, europeus e africanos.
Ou seja, eram chamadas de pardas as pessoas que eram descendentes da miscigenação entre brancos e negros, negros e índigenas ou índigenas e brancos.
Em 1890, o termo pardo caiu em desuso e foi substituído por "mestiço". Isso durou até 1940, quando, na era Getúlio Vargas, o censo voltou a utilizar "pardo" para classificar pessoas que não se viam nem como brancas, nem como negras.
Quem é considerado pardo?
Existem três métodos de fazer a identificação racial de uma pessoa: a autodeclaração, a heteroidentificação e a identificação biológica.
A autodeclaração acontece quando o indivíduo, ao ser perguntado sobre sua cor ou etnia, identifica o grupo ao qual ele pertence. Ou seja, é a própria pessoa que se insere em um grupo racial.
Já a heteroidentificação, ao contrário da autodeclaração, é quando outra pessoa classifica um indivíduo em um grupo.
A identificação biológica, por fim, é feita com a análise dos genes da pessoa, classificando-a em um dos grupos.
No Brasil, para a elaboração do Censo Demográfico, uma pessoa pode se identificar como parda ou ser identificada dessa forma por outro indivíduo. Então, é muito comum encontrar brasileiros se autodeclarando como pardos.
O que é preto?
Preto é um termo que, atualmente, é usado para designar pessoas que são afrodescendentes.
Antigamente, ele era usado para classificar apenas pessoas africanas trazidas para o Brasil para serem escravizadas. Os descendentes dessas pessoas nascidas por aqui eram denominados "crioulos", mas o termo caiu em desuso e é considerado uma ofensa racista atualmente.
Quais são as cores segundo o IBGE?
O IBGE classifica a população brasileira em cinco cores/raças diferentes. São elas:
- Preto, que são pessoas afrodescendentes, que possuem características que indicam ascendência africana ou que se autodeclaram negras;
- Pardo, que são pessoas descendentes da miscigenação entre duas raças ou se autodeclaram pardas;
- Branco, que são pessoas com características físicas que são associadas à população europeia ou que se autodeclaram brancas;
- Índigena, que são pessoas descendentes dos povos indígenas e originários do Brasil e vivem em aldeias, áreas quilombolas ou cidades;
- Amarela, que são pessoas ou descendentes de asiáticos, sejam elas japonesas, chinesas ou coreanas.
O que é colorismo?
É comum que a discussão sobre pessoas serem pardas ou pretas venha acompanhada da discussão sobre colorismo.
Isso porque o colorismo é um termo usado para explicar as diferentes tonalidades de pele negra, que variam de um tom mais claro — que geralmente é o tom de pele das pessoas consideradas "pardas" — a um tom mais escuro — associado a pessoas negras.
O colorismo pode ser usado de uma forma racista, pois utiliza essa diferença de cor para facilitar a vida das pessoas que têm a pele negra mais clara, enquanto dificulta a vida de quem tem a pele escura.
Ou seja, o colorismo é um tipo de racismo onde pessoas da mesma raça são tratadas de maneira diferente com base nos tons de sua pele. Então, pessoas pardas teoricamente sofrem menos racismo e tem uma vida mais facilitada na sociedade devido a esse conceito.
Afinal, é certo falar que alguém é pardo?
Há algumas críticas em relação ao uso do termo "pardo" para descrever a cor de alguém. Isso porque basta uma breve observação da história do país para perceber que esse era um termo usado para separar brancos das pessoas não brancas — pretas e indígenas.
E ainda, ele era usado para tornar a população brasileira mais branca: podiam existir pessoas que não eram totalmente brancas como na Europa, mas elas também não eram negras, já que eram pardas e, consequentemente, mais claras do que a populacão que sofria com a escravidão e o racismo.
Apesar dessas implicações, é correto usar o termo pardo quando a pessoa se identifica como tal. Segundo o IBGE, 45,3% dos brasileiros se declaram como pardos, tornando esse o maior grupo étnico do país. Ou seja, não considerar essas pessoas como elas se autodeclaram seria como apagar suas identidades.
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