O governo Luiz Inácio Lula da Silva articula os últimos detalhes para dar início a uma grande operação de exclusão e sufocamento do garimpo ilegal nas terras das comunidades Yanomami. O trabalho, previsto para ir a campo nos próximos dias, tem previsão de durar meses até que seja concluído.
Paralelamente às ações de assistência social e de saúde que já estão em campo, terá início o trabalho de estrangulamento logístico do crime que reúne, segundo as estimativas, reuniria cerca de 25 mil garimpeiros dentro da floresta, em Roraima.
A operação vai integrar agentes da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança, Ibama, Funai, Exército e Aeronáutica. Parte desse pessoal já foi deslocada para a região e trabalha na articulação de medidas para entrar e campo.
A Força Aérea Brasileira, por exemplo, ativará a partir das 0h desta quarta-feira, 1º, uma Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA) no espaço aéreo da região norte do País. Serão adotadas medidas de controle contra todos os tipos de tráfego aéreo suspeitos. A FAB planeja a instalação de um radar com o objetivo de aumentar a capacidade de defesa aérea, reforçando o poder de detecção e controle. Aeronaves radar já estão na região e o alerta de Defesa Aérea de Boa Vista foi reforçado.
A previsão das forças federais não é fazer uma opressão massiva, baseada em milhares de agentes policiais, mas agir em pontos mais específicos, a começar pelo fechamento absoluto das rotas de entrada de combustível e equipamentos e demais itens que mantém as ações clandestinas. Sem apoio externo, não restará outra alternativa aos garimpeiros, a não ser deixar o local. Enquanto isso, outras medidas de enfrentamento estão previstas, para situações específicas, uma vez que há presença de narcotraficantes dentro do território indígena.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, na segunda-feira, 30, o fechamento do espaço aéreo sobre terra indígena Yanomami. A decisão também se estende ao tráfego fluvial. O objetivo é, justamente, impedir o transporte de insumos para abastecer o garimpo ilegal.
No domingo, 29, reportagem do Estadão revelou uma profusão de rotas aéreas clandestinas, com atividade constante dentro e fora do território nacional, mantida pelo crime organizado para extrair ouro e cassiterita da terra indígena Yanomami.
Dentro do governo, a avaliação é de que a crise humanitária causada por anos de abandono do povo Yanomami exige uma reação histórica, à altura da tragédia que comove o País e que já ganhou repercussão internacional.
Com a criação de um Ministério dos Povos Indígenas, o governo Lula pretende sinalizar, na prática, que não se trata apenas de um gesto político, mas de medidas efetivas que trarão resultado.
A Procuradoria da República em Roraima abriu um inquérito civil para apurar como 'ações e omissões' de agentes públicos contribuíram para a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami. Segundo o Ministério Público Federal, no âmbito de outras investigações em curso, já há 'vasto acervo de evidências para a imediata responsabilização' do Estado pela crise que assola a comunidade indígena. Agora, o órgão quer verificar o grau de envolvimento de cada gestor na situação do povo Yanomami.
O MPF indica que o procedimento aberto nesta segunda, 30, vai investigar a participação de gestores e políticos na desassistência à saúde dos indígenas, além de apurar o descumprimento de ordens judiciais que determinaram a proteção do povo Yanomami. O novo inquérito visa ainda identificar a 'exata dimensão da crise humanitária', suas causas e impactos socioambientais.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), maior instância do clero católico brasileiro, divulgou nota nesta terça-feira, 31, classificando como genocídio a tragédia dos povos Yanomami. A CNBB pede que os cristãos manifestem "santa indignação" contra as mortes dos indígenas por doenças e falta de alimentação e pede que sejam apontados os responsáveis para que a justiça prevaleça. "(Que) o genocídio dos Yanomamis seja capítulo nunca esquecido na história do Brasil, para que não se repita crime semelhante contra a vida de nossos irmãos."